sábado, 3 de novembro de 2012

LITERATURA: um tal Joseph Anton


Joseph Anton foi o pseudónimo escolhido por Salman Rushdie para se ocultar no período em que esteve sujeito à fatwa instituída por Khomeini a seu respeito. Através de tal nome ele entendeu homenagear dois dos seus escritores de referência ainda que pareçam muito distantes nos temas e na forma dos seus romances: Joseph Conrad e Anton Tchekov.
Em livro recente, ele explica-se na terceira pessoa sobre a experiência de sentir a sua liberdade de expressão amordaçada, vivendo escondido em múltiplos locais sempre com polícias por perto. Repetindo esse mesmo intento num interessante documentário da BBC em que vem a talhe de foice aquele momento desconcertante em que chegara a manifestar a conversão ao islamismo como forma de aliviar a pressão homicida dos fanáticos a seu respeito.
Na altura recordo a deceção de ver a grandeza da sua atitude anterior comprometida pela cedência aos interesses islamitas. Mas ao vê-lo reconhecer quanto isso representara uma tentativa absurda num dos períodos de maior depressão na sua clausura podemos questionar se, acaso estivéssemos em tal contexto, qual seria a nossa própria postura. Como nos podemos interrogar se temos legitimidade para condenar os que, em tempo de ditadura, fraquejavam e acabavam por contar tudo quanto era pretendido pelos seus algozes,
Por princípio repudiamos moralmente esse comportamento frouxo perante os carrascos, mas é sempre fácil essa arrogância moral enquanto estamos a olhar de fora para a situação. Do lado de dentro como nos comportaríamos?
Essa é uma dúvida pertinente que, obviamente, nunca desejaria ver esclarecida…
Grandiosa revela-se no documentário em causa o procedimento da antiga agente do escritor: para os «Versículos Satânicos» ele decidira mudar-se para um concorrente de maior dimensão, prescindindo de quem até então se encarregara de lhe colocar os livros nas editoras. Não é que a primeira pessoa a esconde-lo na sua quinta na Inglaterra rural, quando a fatwa foi pronunciada, foi essa mesma agente, que revelou uma generosidade acima de qualquer possível ressentimento?

Sem comentários:

Enviar um comentário