quarta-feira, 7 de novembro de 2012

POLÍTICA: A avassaladora solidão dos que ainda governam


No “Expresso” de sábado passado, Pedro Adão Silva confessava-se possuído de alguma estranheza: Convenhamos que é estranho que o mesmo primeiro-ministro que começou por fazer apelos lancinantes para que a troika nos viesse salvar, que depois afirmou que o programa da troika era o do PSD e, não contente, se ofereceu mesmo para ir além do memorando, enquanto se foi recusando liminarmente a renegociar o acordado, queira, um ano e meio depois, começar de novo, reclamando uma refundação. 
A explicação talvez seja singela: o Governo falhou nas opções de fundo e no processo político e não lhe ocorreu nada melhor do que lançar uma cortina de fumo sobre o seu próprio falhanço. 
Um falhanço, que tem muito a ver com o total desprezo pela classe média  e pelos mais desfavorecidos, cuja ausência nas equações dos modelos macroeconómicos de Gaspar & Cª é mais do que óbvia. Refere Rui Peres Jorge no “Jornal de Negócios”:  Sabe quantas vezes aparecem escritas as palavras "desigualdade" ou "pobreza" nos documentos trimestrais com que Governo e troika moldam Portugal? Zero.
Apesar de elas serem duas das dimensões mais dramáticas desta crise não são sequer referidas, quanto mais analisadas.
Ao desprezá-las, o Executivo está não só a fazer má política económica: está a desafiar o princípio da boa-fé que tem de conduzir as políticas públicas. 
A distância das diversas camadas sociais relativamente ao Governo é avassaladora: Passos, Gaspar & Cª estão acossados numa solidão perturbadora para eles mesmos, porque já poucos acreditam nas suas receitas milagrosas.
No “ Expresso” Nicolau Santos conta uma pequena história para justificar a impossibilidade em crer em tais propostas: Há muitos anos, o então presidente brasileiro, general João Figueiredo, lançou uma palavra de ordem dirigida aos agricultores: Plante, que o João garante!
Por aqui, é manifesto que não convém acreditarmos no que nos vai dizendo o ministro das Finanças, cujo discurso tem vindo a evoluir sempre para novas e piores surpresas para quem o ouve. O lema é, pois: Não plante! O Gaspar não garante! Mas como é que assim se constrói o futuro?    
Esse futuro depende de uma alternativa como a emitida por Ferro Rodrigues no seu discurso parlamentar sobre o Orçamento para 2013: O que é preciso é tirar partido das posições mais flexíveis das instituições europeias e internacionais, em vez de as rejeitar. O que é preciso é lutar por explorar as margens de alteração de prazos, de juros, de metas. Com coragem, com frontalidade, com verdade, em nome do interesse nacional. Em vez de aceitar como uma fatalidade muito conveniente o caminho para que nos estão a empurrar.


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