quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Opacas transparências

 

Um logro  é o que se pode associar quase sempre aos paladinos da Transparência.

Um bom exemplo disso é a notícia sobre a colocação de Portugal num lisonjeiro 61º lugar entre 180 países do mundo quanto à perceção da corrupção pelos seus cidadãos.

Existe sim uma mistificação desta realidade a partir de grandes casos que, quase sempre, - veja-se aquele que fez cair o governo de António Costa! - parecem redundar no ulterior e previsível arquivamento. Com a sua estratégia de se converterem em atores políticos, em manifesta inversão do conceito de separação de poderes, uns quantos procuradores da República têm contribuído significativamente para o favorecimento da extrema-direita, levando-nos a questionar até que ponto, além de se pressentir a sua infiltração noutras áreas da Administração Pública, essa ideologia política não assentou ali arraiais.

Graças aos tabloides e às suas televisões associadas! - que são altifalantes prestáveis do justicialismo crescente do ministério público e ferramenta importante no empolamento do Chega - criou-se uma falsa perceção pública sobre a corrupção.

Invocando números do Eurobarómetro, citados por Ricardo Paes Mamede, os portugueses são dos povos europeus que mais acham existir corrupção à sua volta, mas ficam nos últimos lugares, quando instados a darem exemplos concretos de situações, que tenham efetivamente vivenciado.  O que confirma o óbvio: embora problema importante a ser combatido democraticamente (mas não pelos que dele fazem pasto para o seu oportunismo demagógico) a corrupção está muito longe de ser o maior obstáculo à melhoria da qualidade de vida dos portugueses.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Alguns figurões & Cª

 

1. Nunca gostei do PAN, que sempre  me pareceu coisa obscura desde quando conheci um dos seus rostos emblemáticos numa ação de divulgação de várias forças políticas com estudantes da Faculdade de Ciências e Tecnologia da terra onde nasci (Monte de Caparica).

Que depois tenha visto essa, depois, eleita deputada pelo distrito a mudar-se de armas e bagagens para o Chega, onde é dada como determinante na condução dos trabalhos parlamentares de Ventura & Cª demonstrou a diferença impercetível entre o que só parecia uma mensagem confusa e se converteu numa de cariz fascista.

Sem surpresa tenho visto a deputada madeirense do mesmo PAN a suspirar para que não haja dissolução da Assembleia depois do escândalo em torno de Albuquerque & Cª. Não admira porque, nas de há quatro meses, só teve 2,25% dos votos, e poderá perder muitos deles com a respetiva sinecura se houver nova chamada às urnas.  Por isso, mais do que pateta, as justificações de Mónica Freitas têm sido patéticas.

Para seu desgosto até um comentador habitualmente circunspecto como David Pontes escreve hoje que “se for coerente” Marcelo dissolverá a Assembleia da Madeira num futuro próximo.

Que ele o não é, temos mais do que provas nesse sentido, o que poria em causa o exercício de previsão política do diretor do «Público». Mas Marcelo também detesta ver-se associado à caracterização dele feita sobre tratar-se de um catavento. E aí poderá acontecer que, finalmente, a corrupta governação laranja no arquipélago madeirense tenha merecido fim.

2. Montenegro, Moedas, Lobo Xavier & Cª apressaram-se a vituperar Pedro Nuno Santos por defender o papel do Estado no desenvolvimento económico. Um falou de visão estatizante, outro olhou-se ao espelho e imaginou o líder socialista a só favorecer os amigos, e o comentador da CNN aludiu ao “estilo soviético”.

Num artigo de leitura obrigatória Ricardo Paes Mamede demonstrou tratar-se de orientação europeia, que Portugal não tem cumprido, e prática corrente em economias tão “socialistas” quanto o são as do Japão, da Coreia do Sul ou dos Estados Unidos. Em suma aquilo que é objeto de crítica pela direita lusa mais não é do que “boa política pública!

3. Em  2022 a Transparência Internacional classificou a Ucrânia em 116º lugar no índice de perceção da corrupção, que aferiu em 180 países. A confirmá-lo mais uma notícia elucidativa nos jornais desta manhã: a descoberta de um  negócio fraudulento de compra de munições (nunca entregues), que terá custado mais de 36 milhões de euros ao Estado ucraniano, e envolvendo cinco altos responsáveis pelo setor da Defesa do governo de Zelenski.

Caso para considerar que Putin não tem o exclusivo da atávica corrupção por aquelas bandas... 

sábado, 27 de janeiro de 2024

Os outros protagonistas da semana

 

Andaram os programas de comentário político a ocuparam tempo de antena com Miguel Albuquerque e José Sócrates, quando outros protagonistas da semana merecem melhor atenção: Maló de Abreu, Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho e Carlos Alexandre.

Sobre o efémero candidato do Chega por um dos círculos da emigração tivemos a exemplar demonstração da falta de escrúpulos da gentinha, que impera nas listas de André Ventura: não fosse a oportuna notícia sobre os subsídios do trânsfuga do PSD e o partido fascista bem teria desejado contar com tal “jóia” para melhor ostentar os seus deméritos. (Como me fui lembrar de palavra tão semelhante a expressão tão mal cheirosa?)

Sobre Marcelo o episódio madeirense voltou a demonstrar o quão “coerente” é: se aceitou apressadamente a demissão de um primeiro-ministro, que nem arguido era nas suspeitas, que lhe foram coladas com um tão mal amanhado parágrafo, já o correligionário madeirense, apesar de imputado de ilícitos graves, poderia continuar à frente do governo regional. O que só não sucedeu porque estava iminente a queda do executivo por obra e graça da tal deputada do PAN cujo oportunismo a levara a, antes, avalizar tal desgraça.

Quanto a Passos Tecnoforma Coelho e ao juiz de Mação está tudo às claras na fotografia em que posaram sorridentes para os jornais. E assim muito fica explicado sobre o caso Sócrates. Se para o Troika Man os comprometedores negócios nunca mereceram a atenção da Justiça zarolha, que tantos sinais de vida tem dado nos últimos anos, já Sócrates foi escolhido como arma de arremesso contra um Partido Socialista de que ele, assisadamente, se desfiliou como militante. E contra quem as provas continuam a só ser suficientemente convincentes para o tal lado da Justiça, que só tem olhos para um lado da realidade...

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Bom seria que nada voltasse a ser como dantes!

 

Gostaria que Carmo Afonso tivesse razão, quando afiança ser 10 de março a data em que, pela última vez, a direita tradicional disputará a vitória. Não tanto pelo que deixa implícito - o de uma ulterior primazia do Chega nesse lado partidário -, mas por confiar na esperada vitória das esquerdas. Até porque, olhando para o leque de nomes apresentados pelo Partido Socialista sobre quem liderará as listas de deputados dos vários distritos existe uma avassaladora diferença de qualidade e experiência governativa entre elas e as da concorrência à direita. Embora haja um cheirinho exagerado a carneirismo acabo por concordar com as cedências de Pedro Nuno Santos em prol da demonstrada unidade de quem  terá a incumbência de apresentar um novo  Governo depois das eleições.

Razão terá Manual Loff quando diz assistirmos a uma recomposição e reorientação ideológica da direita na linha das congéneres europeias e americanas depois de se desagregarem. Normalizando valores, que sempre foram os seus, os derrotados de 10 de março não serão muito diferentes do que sempre soubemos terem a mesma natureza de muitos dos que militavam ou votavam no PSD ou no CDS. Conhecemos tantos que, só por hipocrisia ou calculismo escondiam a sua personalidade xenófoba, racista e com uma indisfarçável fragrância salazarenta a envolve-las. O assim se mostrarem sem pudores só facilita a luta política que, contra eles, será sempre feita em nome da Revolução, que agora celebra meio século. Devolvendo-os à condição de marginais dignos de desprezo para que serão remetidos tão-só se acelere a decadência de um epifenómeno político com sinais de merecida obsolescência. Mas a exigir-lhes nova e recauchutada transformação.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Jornalismo e emigração

 

Numa altura em que está a decorrer o Congresso dos Jornalistas várias realidades - a destruição do grupo Global Media, a agressão a um repórter na Universidade Católica - conjugam-se para as tornarem tema maior da nossa quotidianidade.

Pessoalmente não alinho com quantos dizem buscar nas redes sociais aquilo que não encontram na imprensa convencional: por natureza as informações nelas introduzidas possuem uma carga de manipulação subjetiva, que não se coaduna com a pretendida objetividade dos códigos deontológicos do jornalismo. Digo-o eu que, nos blogues ou nas opiniões expressas no facebook, reivindico aquilo que penso numa logica assumidamente ideológica, só me importando a sua pertinência e consistência. 

O que procuro nos jornais, nas rádios ou nas televisões é, ou deve ser, outra coisa: o acesso a informações credíveis, baseadas em números e factos, que escrutinem cientificamente a realidade. E sobre os quais me sinta melhor habilitado para consubstanciar aquelas opiniões.

Que isso está a tornar-se em algo mais difícil demonstra-o a significativa redução dos jornais e revistas, que adquiro, ou das horas dedicadas a ver e ouvir notícias nas televisões e rádios nacionais.

Há uma pista implícita para que tal suceda e é aludida por Pacheco Pereira na sua crónica de hoje no «Público»: até que ponto a crise da imprensa não tem a ver com a tendência para replicar as lógicas das redes sociais, mostrando-se menos rigorosas nas fontes de que se servem e denotando pouco escrúpulo em enviesá-las. Diz o historiador que “as notícias deixam de ser vistas pelo seu valor factual, mas como partes de um combate político entre “nós” e os “outros”. Isto é o habitual nas redes sociais, não devia ser no jornalismo”.

Um bom exemplo desse tipo de enviesamento é denunciado por Bárbara Reis a propósito das notícias sobre a emigração de jovens para outras paragens e oportunisticamente utilizadas pelo Chega para lançar cobras e lagartos sobre o “estado a que se chegou”.. Sobre os mitos e mentiras sobre a emigração portuguesa conclui a jornalista com uma lógica incontestável: temos “um problema histórico de desenvolvimento e salários baixos; sempre emigrámos e vamos continuar a emigrar; os jovens emigram, não os velhos; hoje emigramos por mil razões, uma das quais é o salário, mas há muitas outras; subir o salário mínimo pode ajudar a travar a emigração, porque a maioria dos que emigram não são licenciados. O resto é folclore populista”.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Trogloditas à solta em Viana do Castelo

 

Ao princípio, quando o Chega apareceu, gente inocente defendeu a vantagem de ignorar o fenómeno nas redes sociais por dar-se-lhe assim uma importância, que não deveria ter.

Porque pôr a cabeça debaixo da areia nunca foi a melhor solução para enfrentar os problemas agradou-me que Pedro Nuno Santos tenha agarrado o boi pelos cornos e feito dele de bombo no Congresso do PS-Madeira. Porque se o mesmo argumento - “X é mentiroso!”- pode exigir mil repetições para parecer uma verdade (não deixando de ser falsa), muito menos vezes necessitará de ser glosada para convencer a sua justeza. Se só com falácias Ventura poderá desqualificar o líder socialista, este só terá de limitar-se a apresentar factos concretos para demonstrar o quão mentiroso é o inimigo a, politicamente, abater!

Bem pode Ventura travestir-se de ser sério, que a mentira sempre virá apanhá-lo, porque será sempre aquele que promete acabar com a corrupção em quatro anos, quando bem sabemos o seu  passado de inspetor do Fisco contratado pelo setor privado para melhor se dotar das “habilidades” do trânsfuga para escapar aos impostos. Ou quem põe em causa a igualdade de género, como se nela se incluísse reforço do abono de família, o alargamento gratuitidade das creches, a gratuitidade dos passes para jovens e outras medidas que ele nunca se atreveria a anunciar o cancelamento e estão incluídas nos números por ele invocados.

Sim! Temos de levar a sério o esforço dos apaniguados de Ventura para parecerem menos trogloditas do que são vestindo um traje, que continua a ficar-lhes desajustado.

Como hoje escreve Daniel Oliveira no «Expresso» “as pessoas não se deixam enganar quanto à capacidade do Chega cumprir as promessas que faz. Mas são enganadas pela ideia de que farão tremer o “sistema”. Farão tremer quem, exatamente? As famílias mais ricas do país e a rede empresários que financiam o Chega? Alguém que tenha poder económico neste país? Para essas, a extrema-direita, que direciona a fúria do descontentamento para os de baixo, nunca foi um problema.”

Tremer a sério sentiriam esses desditosos com a vida que, a exemplo, dos mais pobres dos argentinos estão a sentir na barriga os efeitos de uma política semelhante à que Ventura implementaria se tivéssemos a infelicidade de o ver bem sucedido.

Exemplo das mentiras oriundas dessa gente de escassíssimas qualidades, e quase todos os defeitos, é a campanha sobre a suposta insegurança no Martim Moniz por nela ter tanta evidência a presença de uma pequena minoria de emigrantes de pele escura e outra religião. Sensação contrariada pelos números e por quem não tem receio de passear pela praça e pela Rua do Benformoso, até ciente de ter menor risco de ver-se espoliada da carteira do que passeando-se pelo Chiado, onde surgem em grande número os alvíssimos estrangeiros com que os criadores da mentira não se preocupam. Na crónica do «Público», Carmo Afonso desafia quem a lê a contrariar tão grosseira manipulação da realidade...

domingo, 14 de janeiro de 2024

O tempo das ilusões perdidas

 

Num fim de semana que justifica ter a televisão desligada pelo risco de ali vermos passar a vérmina fascista reunida numa convenção de gente feia, porca e má, vale a pena olhar além-fronteiras e constatar como tantas ilusões se vão perdendo nos que julgaram livrar-se de males inventados e acabam bem pior do que estavam.

Falo, por exemplo, dos equatorianos e dos argentinos, que foram manipulados para execrarem o “esquerdismo” de Rafael Correa e dos peronistas e se veem agora a contas com estados de emergência suscitados pelo crime organizado dos narcotraficantes e dos anarcoliberais.

Falo de Zelenski e de todos os ucranianos, que foram levados a crer no apoio indefetível do Pentágono, e seu apêndice na Casa Branca, e enfrentam o frio do inverno sem munições, que os protejam dos mísseis de Putin. Vale-lhes o balão de oxigénio de um governo inglês condenado a curto prazo e as palavras vazias de dirigentes europeus sem posses para suportarem por mais tempo um tão dispendioso investimento condenado a ser sem retorno.

E falo do novo presidente de Taiwan, também ele acobertado pelo prometido apoio norte-americano, mas também condenado a ser abandonado à sua má sina tão-só se confirme o sucesso de Trump em novembro.

Não esqueço, igualmente, os franceses, que a imprensa, dominada pela direita e a extrema-direita, levou a odiarem Mélenchon, iludindo-se na pertença de Macron a um indefinido centro e o confirmam agora ancorado indisfarçavelmente à direita. O ressurgimento da esquerda socialista em França (e já agora ali ao lado na Itália e no Benelux!) é a única resposta possível a uma extrema-direita, que vai surfando a onda mediática de manipulação dos eleitorados mais jovens e menos instruídos.

E há os judeus convencidos por Netanyahu quanto a ser esta oportunidade para a criação do Grande Israel à conta do genocídio dos palestinianos, e esquecidos da lição da História: os perpetradores de massacres indiscriminados em nome da superioridade racial, ou do ódio religioso, raramente conseguiram os seus intentos, amiúde acabando como párias. Condição que os supostos herdeiros dos sobreviventes do Holocausto estão a adquirir, não só no Tribunal de Haia mas, sobretudo, na justa apreciação da opinião internacional.

Todos estes iludidos - com o capitalismo selvagem, com o imperialismo norte-americano e com a força brutal e cobarde dos exércitos perante população civil indefesa - lembra passados em que tudo parecia perdido, levando gente desesperada a suicidar-se (Virginia Woolf ou Stefan Zweig só para dar dois exemplos óbvios). Sabemos que afinal, e num ápice, tudo mudou, porque puxar para um lado a corda da evolução histórica, salda-se quase sempre pelo dobrar da força do outro lado. Os tais dois passos para diante, que acontecem quando se dá um para trás.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Amargura de uns e transferências oportunistas de outros

 

Razões acrescidas para o meu otimismo quanto ao que sucederá politicamente depois das eleições de 10 de março advém da leitura do Expresso deste fim-de-semana. Basta ler as crónicas de João Vieira Pereira e de Miguel Sousa Tavares para o compreender: um e outro, que já tanto tinham dito cobras e lagartos de Pedro Nuno Santos, reconhecem não ter Luis Montenegro nenhum talento para contrariar a dinâmica socialista.

Comecemos pelo texto do diretor do semanário que elogia a estratégia do novo líder do PS como “demasiado simples, mas muito eficaz” e, em contraponto, afiança que “Montenegro continua uma ténue luz do que deveria ser”. Lacrimejante, conclui com a mentira de ser o PSD o “único partido português que nasceu da social-democracia”, e de muito dizer do seu “atual estado” o estar ancorado num passado mitificado.

Quanto ao filho de uma truculenta figura da AD - de quem ideologicamente mais se aproxima do que da mãe, poetisa e deputada socialista -, denota amargura ao escrever: “Eis a dura realidade: disse mais Pedro Nuno Santos em 20 minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos.”

Muito embora eleições passadas - sobretudo as que levaram a derrotas de João Soares e Fernando Medina em Lisboa - alertem para os perigos das favas contadas, o PS só tem de ser tão notavelmente eficaz até 10 de março como o demonstrou no passado fim-de-semana na FIL para ter o justo prémio de ser, com o PCP e o Bloco, quem possui uma Visão para o futuro do país.

No Público, e do outro lado da barricada, Carmo Afonso dá inesperada razão a André Ventura: ao aliciar políticos do PSD e da Iniciativa Liberal para os órgãos nacionais e as listas do Chega ele dá algum fundamento ao que denunciava. Há, de facto, alguma classe política que só pensa nos “tachos” e muda de partido como quem muda de camisa sem denotar o menor escrúpulo pelo ideário xenófobo e racista, que passa a envergar. Que escolha precisamente esse partido para se albergar diz tudo sobre a sua natureza.

Acaso tivesse a mínima possibilidade de formar governo Montenegro não deixaria de associar-se com quem diz não querer coligar-se. E só precipitaria aquilo que parece uma realidade em construção: o fim do PSD tal qual sucedeu ao CDS a quem, na cumplicidade dos moribundos, pretendeu dar agora um ilusório alento.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

A força tranquila perante três estarolas

 

Olhar para os programas de debates nas várias televisões serve para medir o pulso ao que vão querendo veicular e com  naturais consequências nos comportamentos do eleitorado. Daí que assistir ao último «Eixo do Mal» contribuiu para o meu nada irritante otimismo perante o cenário governativo subsequente à ida às urnas a 10 de março. Nem os mais ácidos críticos do governo socialista - todo o painel em causa à exceção de Daniel Oliveira - pouparam nas críticas à não existência que a dita AD personifica. Clara Ferreira Alves apodou-os de três estarolas e, de facto, não faltaram caracterizações arrasadoras para Montenegro, para Nuno Melo ou para o truculento marialva dos 270 votos nas mais recentes eleições.

A Pedro Nuno Santos só basta cavalgar a onda de esperança, que a ascensão a líder fez emergir do golpe lançado pelo ministério público e pelo inquilino de Belém por muito que, com a ajuda das várias televisões, o Chega cuide de ameaçar o caos com a ação dos seus infiltrados nas polícias. E denotar a serenidade com que se prepara para assumir o maior desafio da sua vida. 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Um discurso galvanizador, um projeto mobilizador

 

Não sou só eu que o digo: Ana Sá Lopes reconhece-o ipsis verbis na peça jornalística, que assina sobre a sessão de encerramento do Congresso do Partido Socialista. Pedro Nuno Santos fez o “seu melhor discurso desde que se candidatou a secretário-geral”.

Aclamado no exato dia em que se cumpriam sete anos sobre a morte de Mário Soares, o novo líder do PS prometeu governar para tornar possível um país solidário, ambicioso e acima da média europeia, apresentando metas concretas para a economia, os salários, a segurança social, a habitação, o SNS, os professores e a escola pública. E arrogando-se da sua mais evidente virtude: a capacidade de decisão. Tendo em conta a antipatia dos portugueses pelo tradicional engonhanço de quem deveria decidir e fazer, essa característica de Pedro Nuno santos poderá influir significativamente no resultado das eleições de 10 de março. Porque, olhando para Luis Montenegro não sobram dúvidas sobre a sua conotação com o tal tipo de gente que fala, fala e...

Outra jornalista do «Público», Maria Lopes, apresentou razões acrescidas para ser-se otimista: a unidade do partido saiu reforçada, o rejuvenescimento das estruturas dirigentes foi um facto e o enfoque na transformação estrutural da economia um projeto mobilizador.

Se se justificaram os remoques de muitos delegados contra Marcelo ou o ministério público - merecedores de um combate acirrado contra a sua perniciosa ação - não deixa de haver pertinência no que Francisco Assis propôs: melhor importa agora garantir a reconciliação da classe média com o Estado Social como forma asizada de neutralizar a ameaça da extrema-direita. Um desafio, que não se cinge às esquerdas lusas, mas com acrescido fundamento, às que devem ganhar esse combate a nível internacional. 

sábado, 6 de janeiro de 2024

O Diabo não veio ... e muito menos virá!!!

 

Como não estar otimista perante o que sairá das eleições de 10 de março se a primeira noite do Congresso socialista foi como foi? Mormente com aquilo que, no «Público», São José Almeida classificou como “uma peça de oratória notável, que pode mesmo vir a ser o melhor discurso do PS na próxima campanha eleitoral para as legislativas de 10 de Março”.

Referia-se, claro está, ao discurso de António Costa, que lembrou não ter aparecido o anunciado diabo - “É que o diabo é a direita e ele não veio porque o povo não devolveu o poder à direita” - e, ao fim de oito anos, ser possível fazer melhor, tão-só seja o PS a liderar o próximo governo.

E, em resposta aos dislates de Marcelo e aos crimes contra a democracia perpetrados por alguns procuradores do ministério público, anunciou que “podem ter-me derrubado, mas não me derrotaram”. Para desgosto das direitas empresariais, que financiam as suas marionetas no PSD, no Chega, na IL e no CDS, e seus braços tentaculares na Justiça e na imprensa televisiva, António Costa ainda será presença garantida no futuro do país.

Nesta primeira sessão do Congresso Pedro Nuno Santos ainda não discursou, mas tem garantidas estrondosas ovações pelo apoio garantido na unanimidade com que os militantes agora o sentem seu líder e com as propostas que, segundo Duarte Cordeiro, irão no sentido de “honrar o passado e lançar o futuro”.

Para o governo que tomará posse depois de 10 de março só importa que Pedro Nuno Santos colha as lições de tudo quanto sucedeu até aqui, tomando muito cuidado com as conversas telefónicas que permitam títulos nos tabloides, mesmo que feitas de inocentes comentários sobre o que fez, faz ou fará. E dando às demais esquerdas as condições para sentirem-se parte ativa na nova Geringonça... 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Que haja quem dê substância aos reparos de Rui Rio!

 


Em Águas Passadas, romance do João Tordo que ando a ler, é abordada a interligação entre a investigação de dois homicídios e o uso de manchetes jornalísticas para a encaminhar na direção pretendida por quem a protagoniza. De forma ambígua pode acontecer de acordo com quem pretende a condenação na praça pública de um suspeito de que apenas existem provas de abuso sexual, ou a subcomissária da polícia sabedora da sua inocência quanto ao crime mais gravoso e procura descobrir e condenar quem, efetivamente, o cometeu.

Até ver não é o ministério público quem surge no radar do escritor, mas não deixa de ter em conta o justicialismo em curso na sociedade portuguesa que os procuradores e os polícias vêm promovendo sob a implícita intenção de constituírem-se em guardiões morais quanto à conduta de uma dita elite, doravante confrontada com a obrigação de sacudir a presunção da culpa, que lhe mancha a reputação, mesmo depois de nada se provar antes sequer de ser levada a tribunal.

Nesse triângulo ainda há que considerar o terceiro vértice: os jornalistas mal pagos e precarizados, que têm de produzir títulos enganadores por serem eles, segundo os responsáveis editoriais, os que poderão levar os leitores a darem-lhes atenção. Vítimas da degradação da imprensa escrita são eles a carne para canhão de uma estratégia de que sai beneficiada a extrema-direita.

Neste ano que começa bem se justifica que, subscrevendo o defendido por Rui Rio - com quem antipatizo, mas a quem não deixo de dar razão! -,  haja uma ação política determinada contra quem anda a sabotar a efetiva independência entre os poderes político e judicial, remetendo este último para a dimensão constitucional, pondo quem de direito a conter os ímpetos irresponsáveis - ou pior ainda, ideologicamente direcionados! - por quem derrubou um governo com maioria absoluta.