sábado, 13 de janeiro de 2024

Amargura de uns e transferências oportunistas de outros

 

Razões acrescidas para o meu otimismo quanto ao que sucederá politicamente depois das eleições de 10 de março advém da leitura do Expresso deste fim-de-semana. Basta ler as crónicas de João Vieira Pereira e de Miguel Sousa Tavares para o compreender: um e outro, que já tanto tinham dito cobras e lagartos de Pedro Nuno Santos, reconhecem não ter Luis Montenegro nenhum talento para contrariar a dinâmica socialista.

Comecemos pelo texto do diretor do semanário que elogia a estratégia do novo líder do PS como “demasiado simples, mas muito eficaz” e, em contraponto, afiança que “Montenegro continua uma ténue luz do que deveria ser”. Lacrimejante, conclui com a mentira de ser o PSD o “único partido português que nasceu da social-democracia”, e de muito dizer do seu “atual estado” o estar ancorado num passado mitificado.

Quanto ao filho de uma truculenta figura da AD - de quem ideologicamente mais se aproxima do que da mãe, poetisa e deputada socialista -, denota amargura ao escrever: “Eis a dura realidade: disse mais Pedro Nuno Santos em 20 minutos de discurso sobre políticas alternativas e preocupações de futuro do que o PSD em oito anos.”

Muito embora eleições passadas - sobretudo as que levaram a derrotas de João Soares e Fernando Medina em Lisboa - alertem para os perigos das favas contadas, o PS só tem de ser tão notavelmente eficaz até 10 de março como o demonstrou no passado fim-de-semana na FIL para ter o justo prémio de ser, com o PCP e o Bloco, quem possui uma Visão para o futuro do país.

No Público, e do outro lado da barricada, Carmo Afonso dá inesperada razão a André Ventura: ao aliciar políticos do PSD e da Iniciativa Liberal para os órgãos nacionais e as listas do Chega ele dá algum fundamento ao que denunciava. Há, de facto, alguma classe política que só pensa nos “tachos” e muda de partido como quem muda de camisa sem denotar o menor escrúpulo pelo ideário xenófobo e racista, que passa a envergar. Que escolha precisamente esse partido para se albergar diz tudo sobre a sua natureza.

Acaso tivesse a mínima possibilidade de formar governo Montenegro não deixaria de associar-se com quem diz não querer coligar-se. E só precipitaria aquilo que parece uma realidade em construção: o fim do PSD tal qual sucedeu ao CDS a quem, na cumplicidade dos moribundos, pretendeu dar agora um ilusório alento.

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