segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A inversão do ciclo das marés

 

A vida já me deu experiência suficiente para identificar ciclos de extensa duração na política global: em adolescente não duvidava da iminência de amanhãs cantantes, em jovem adulto temi que americanos e soviéticos concretizassem o apocalipse nuclear, mas logo a força tranquila de Mitterrand deu injustificadas razões para realimentar um otimismo que, se não seria o de uma sociedade comunista, criaria uma outra suficientemente justa na redistribuição de rendimentos para reconhecer-se mais decente.

Os últimos trinta anos foram o que se viu: a queda do muro de Berlim deu asas a um capitalismo ainda mais selvagem do que se revelara até então com as desigualdades a alcançarem dimensão bastante para justificar a expetativa quanto a uma nova dinâmica revolucionária ao nível da que criou as condições para a tomada da Bastilha três séculos antes. Mas, como a agudização da luta de classes assenta na polarização dos extremos, tem sido o das direitas, que tem conhecido imerecidos sucessos. De tal importância que parece invencível perante a incapacidade das esquerdas em contrariá-los.

Daí que muitos considerem inevitáveis as vitórias de Trump e de Marine Le Pen, conjugando-se com as já conseguidas por Meloni em Itália e Wilders nos Países Baixos.

Só que, tal qual o movimento das marés, visualmente é incerto se a inversão está já a verificar-se ou ainda tarda mais um pouco. O saldo muito positivo da governação de Lula ao fim de um ano no poder, e a derrota da extrema-direita polaca, sugerem essa presumível inversão de ciclo. Esperemos que ela signifique a curto prazo na redução dos venturas dos vários países à efetiva incapacidade para melhorarem a vida dos respetivos povos.

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