quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Que haja quem dê substância aos reparos de Rui Rio!

 


Em Águas Passadas, romance do João Tordo que ando a ler, é abordada a interligação entre a investigação de dois homicídios e o uso de manchetes jornalísticas para a encaminhar na direção pretendida por quem a protagoniza. De forma ambígua pode acontecer de acordo com quem pretende a condenação na praça pública de um suspeito de que apenas existem provas de abuso sexual, ou a subcomissária da polícia sabedora da sua inocência quanto ao crime mais gravoso e procura descobrir e condenar quem, efetivamente, o cometeu.

Até ver não é o ministério público quem surge no radar do escritor, mas não deixa de ter em conta o justicialismo em curso na sociedade portuguesa que os procuradores e os polícias vêm promovendo sob a implícita intenção de constituírem-se em guardiões morais quanto à conduta de uma dita elite, doravante confrontada com a obrigação de sacudir a presunção da culpa, que lhe mancha a reputação, mesmo depois de nada se provar antes sequer de ser levada a tribunal.

Nesse triângulo ainda há que considerar o terceiro vértice: os jornalistas mal pagos e precarizados, que têm de produzir títulos enganadores por serem eles, segundo os responsáveis editoriais, os que poderão levar os leitores a darem-lhes atenção. Vítimas da degradação da imprensa escrita são eles a carne para canhão de uma estratégia de que sai beneficiada a extrema-direita.

Neste ano que começa bem se justifica que, subscrevendo o defendido por Rui Rio - com quem antipatizo, mas a quem não deixo de dar razão! -,  haja uma ação política determinada contra quem anda a sabotar a efetiva independência entre os poderes político e judicial, remetendo este último para a dimensão constitucional, pondo quem de direito a conter os ímpetos irresponsáveis - ou pior ainda, ideologicamente direcionados! - por quem derrubou um governo com maioria absoluta.

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