sábado, 28 de fevereiro de 2015

Mistificações bem sucedidas?

É claro que Pedro Santos Guerreiro é insuspeito de qualquer simpatia pelo Partido Socialista. E muito menos por António Costa a quem critica  com dureza na crónica da versão semanal do «Expresso». Mas, no seu texto faz sentido atendermos ao extrato em que considera estar a ter sucesso a mistificação mil vezes repetida pelos ministros, secretários de estado e deputados do PSD e do CDS em como a receita aplicada nestes três anos e meio resultou.
Se de facto não fosse trágica, a intenção confessada por passos coelho na entrevista ao mesmo jornal em  solicitar a maioria absoluta nas próximas legislativas só deveria suscitar o riso sardónico. Porque todos os indicadores sobre a qualidade de vida dos portugueses pioraram ao longo da presente legislatura.
Nesse sentido António Costa tem razão: o país está bem diferente do que era há quatro anos. E bem pode a direita rezar aos santinhos chineses (que meteram cá dinheiro e deram emprego de luxo a catroga!), a são mário draghi a quem devem os juros baixos e até provavelmente a são alexis tsipras, cuja irreverência deverá impor maior contenção às exigências troikeiras não vá o «bom exemplo» a que se agarram sair-lhes furado e privá-los do último dos seus pífios argumentos.
É claro que quero crer no erro de Pedro Santos Guerreiro: se ainda parecem colher sucesso, as mistificações de passos & Cª estarão condenadas ao fracasso. E já há um caixote do lixo a preparar-se para recolher a memória histórica (ou meramente estórica?) dessa trupe. Tão estanque quanto possível, porque arrisca-se a rapidamente decompor-se e ficar nauseabunda...

A virulência das pérfidas criaturas

O cartoon de António inserido na edição do «Expresso» desta semana não prima pela originalidade: ainda temos na memória um pequeno filme de animação em que blair surgia como o cãozinho de estimação de george dabliú durante a guerra do Iraque. Mas havendo semelhanças  nas circunstâncias, é compreensível, que se utilize o mesmo tipo de representação.
É por isso que a imagem de marilú albuquerque transformada em cadelinha de estimação ao colo de schäuble  faz todo o sentido e tem condições para perdurar duradouramente na nossa mente. Porque andando a direita tão ocupada a distorcer o sentido do que António Costa disse aos investidores chineses, anda a “esquecer-se” da vergonhosa figura assumida por um dos seus mais adorados ícones.
Se a História portuguesa tem no seu rol uns quantos biltres, que preferiram servir toda a vida do que serem reis nem que fossem por um dia, a ministra das finanças de passos coelho é deles meritória descendente.
Mas, se isso não bastasse a reiterada denúncia dos governantes gregos em como ela e o colega espanhol foram os mais vigorosos oponentes ao acordo estabelecido com a Grécia  só mostra a falta de carácter da pérfida criatura, que não olha a meios para defender os seus interesses egoístas, nem que para tal procurasse dificultar a vida aos seus concidadãos e pôr inclusivamente em causa todo o projeto europeu.
O episódio é bem elucidativo do dano, que um minúsculo vírus pode causar numa comunidade de cidadãos desejosos de, simplesmente, serem tão felizes quanto o possível. 

Porque será que os denunciados não reagem às denúncias de Miguel Sousa Tavares?

Miguel Sousa Tavares voltou a publicar um excelente texto a condenar as circunstâncias em que ocorreu e se mantém a detenção de José Sócrates.
De entre os muitos comentadores hoje existentes na imprensa portuguesa, ele tem sido um dos mais veementes denunciadores das iniquidades cometidas pelo ministério público e pelo juiz de instrução. Sem a truculência indignada de Mário Soares, mas com a racionalidade de quem olha para a realidade e não gosta nada de a ver caracterizada pela ausência dos mais elementares direitos reconhecidos pela Democracia.
Os seus argumentos têm sido tão consistentes e coerentes, que não têm despertado a vontade de quem neles é criticado em contestá-lo. Porque sabem bem quão distanciados da razão se encontram e quanto arriscam em se deixarem definitivamente desmascarar nos seus ínvios propósitos.
O que se passa atualmente na Justiça em Portugal é demasiado grave para que se esteja calado. Compreende-se que cavaco silva e o governo permaneçam em silêncio, porque os move a vingança mesquinha perante um adversário político, que tantas vezes os fez sentir medíocres! Mas começa a ser inquietante que outros poderes se mantenham silenciados. A começar pelo Conselho Superior da Magistratura, que assiste a sucessivos atropelos ao comportamento de alguns dos seus pares e não toma a atitude sensata de limitar os danos de um sério risco de descredibilização total do setor em Portugal.
Porque manter um primeiro-ministro preso por suspeitas não demonstradas de um tipo de crimes, que se sabem cometidos por atuais e antigos ministros da coligação sem que incorram ou tivessem incorrido em quaisquer consequências, é demonstrativo de que a Justiça portuguesa está a mostrar-se politicamente parcial e com um tipo de prepotência só conhecida nos tempos do fascismo...

O estado do Estado de Direito

Porque é de leitura obrigatória aqui fica o artigo de Miguel Sousa Tavares hoje publicado no «Expresso»:


Uma amiga minha, amiga verdadeira, aconselhou-me, há dois meses, a não escrever mais sobre José Sócrates, porque “fazeres a defesa dele agora arruína toda a credibilidade que conquistaste para ti”. Durante dois meses, de facto, não escrevi — não porque o conselho dela me tenha parecido adequado, mas porque, depois de ter criticado as circunstâncias em que se verificou a sua prisão, os pressupostos em que assentou a decisão de prisão preventiva e a escabrosa campanha de linchamento popular em alguns jornais, entendi que era altura de ficar à espera para ver como evoluía o processo. Passado este tempo, e numa altura em que a lei manda que o juiz de instrução reveja a situação, também eu vou fazer idêntico exercício.
Fazendo-o, sou obrigado a reconhecer que a conveniência e a prudência nunca foram virtudes de que me possa gabar. Mas se “fazer a defesa de José Sócrates” (que não é o que eu faço, mas já lá irei) não é conveniente nem prudente e pode arruinar a minha “credibilidade”, qualquer que ela seja, vejo-o como um dano colateral: pagam-me para dizer o que penso. E mal andaria o mundo (e anda!), se, justamente quando é mais difícil remar contra a verdade e a justiça estabelecidas, todos optassem pela prudência e pela conveniência. Quem defenderia aquilo ou aqueles cuja defesa é inconveniente?
 Três meses depois, o meu ponto de partida é o mesmo de então: não sei, não faço ideia e não tenho maneira de saber se as gravíssimas acusações que pendem sobre José Sócrates são verdadeiras ou falsas. Mas não é isso que está em causa agora: eu não faço a defesa de José Sócrates, faço a análise sobre as circunstâncias da sua prisão preventiva e de tudo o que tem acontecido à volta dela. Não é a inocência ou a culpabilidade de José Sócrates — que só se apurará em julgamento — que agora interessa: é o funcionamento do Estado de direito. E isso não é coisa pouca.
Creio que uma imensa maioria dos portugueses julgará, nesta altura, que José Sócrates está muito bem preso. E por três ordens de razões diversas: uns, porque abominam politicamente Sócrates e acreditam que foi ele sozinho que criou 170 mil milhões de dívida pública (hoje, 210 mil milhões), assim conduzindo o país à ruína; outros, porque acreditam que o “Correio da Manhã”, o “Sol” ou o “i” são uma fonte credível de informação e, portanto, já nem precisam de julgamento algum em tribunal, porque a sentença já está dada; e outros, porque, mesmo não emprenhando pelos ouvidos dos pasquins ao serviço da acusação, acreditam mesmo na culpabilidade de Sócrates e, por isso, a sua prisão preventiva parece-lhes aceitável. Porém, nenhum destes três grupos tem razão: o primeiro, porque confunde um julgamento político com um julgamento penal, assim fazendo de Sócrates um preso político; o segundo, porque prescinde de um princípio básico de qualquer sistema de justiça, que é o do contraditório e do direito à defesa do acusado: basta-lhes a tese da acusação para se darem por elucidados e satisfeitos; e o terceiro, porque ignora a diferença fundamental entre a fase de inquérito processual e a fase de julgamento. O erro destes últimos (que são os únicos sérios na sua apreciação) é esquecer que a presunção ou convicção de culpabilidade do arguido por parte do juiz de instrução, as suspeitas, os indícios ou as provas que o processo possa conter, não servem de fundamento à prisão preventiva. Se assim fosse, a fase de inquérito seria um pré- julgamento, com uma pré-sentença e uma pena anterior à condenação em julgamento: a pena de prisão preventiva. Que é coisa que a lei não prevê nem consente e que, a meu ver, é aquilo que o juiz Carlos Alexandre aplicou a José Sócrates e a Carlos Santos Silva.
A lei consente apenas quatro casos em que o juiz de instrução pode decretar a prisão preventiva de um arguido: a destruição de provas, a perturbação do processo, o perigo de fuga ou o alarme social causado pela permanência em liberdade. Sendo esta a medida preventiva mais grave e de carácter absolutamente excecional (visto que se está a enfiar na prisão quem ainda não foi julgado e pode muito bem estar inocente), a liberdade de decisão do juiz está taxativamente limitada a estas quatro situações e nada mais. Não interessa rigorosamente nada que o juiz possa estar absolutamente convencido da culpabilidade do arguido: ou existe alguma daquelas quatro situações ou a prisão preventiva é ilegal. (E convém recordar que, ao contrário daquilo que as pessoas foram levadas a crer, o juiz de instrução não é parte acusatória, mas sim equidistante entre as partes: cabe-lhe zelar tanto pela funcionalidade da acusação como pelos direitos do arguido).
A esta luz, é difícil ou impossível enxergar em qual dos quatros fundamentos se abrigará Carlos Alexandre para manter Sócrates e Santos Silva em prisão preventiva. O perigo de destruição de provas é insustentável, depois de revistadas as casas dos arguidos, apreendidos os computadores, escutadas as chamadas telefónicas durante mais de um ano. O perigo de perturbação do processo (“fabricando contratos”, como foi veiculado para a imprensa) tanto pode ser consumado em casa como na prisão, através do advogado ou por outros meios. O perigo de fuga, para quem se entregou voluntariamente à prisão, tem o passaporte apreendido e pode ser mantido sob vigilância visual e de pulseira eletrónica em casa, só pode ser invocado de má fé. E o alarme social, só se for nas páginas do “Correio da Manhã”. A avaliar por aquilo que nos tem sido gentilmente divulgado, o dr. Carlos Alexandre não tem uma razão válida para manter os arguidos em prisão preventiva. E mais arrepiante tudo fica quando se torna evidente que o motorista de Sócrates só foi preso para ver se falava, e foi solto, ou porque disse o que o MP queria (verdadeiro ou falso) ou porque perceberam que não tinha nada para dizer. Ou quando a SIC, citando fontes do processo, nos conta que uma das razões para que a prisão preventiva de Carlos Silva fosse prorrogada por mais três meses foi o facto de ele não ter prestado quaisquer declarações quando chamado a segundo interrogatório por Rosário Teixeira. Se isto é verdade, quer dizer que estes presos preventivos não o foram apenas para facilitar a investigação (o que já seria grave), mas para ver se a prisão os fazia falar. Nada que cause estranheza a quem costuma acompanhar os processos-crime, onde a autoincriminação dos suspeitos — por escutas ou por confissão — é quase o único método investigatório que a incompetência do MP cultiva (e, depois da transcrição da escuta feita a Paulo Portas no processo dos submarinos, ficámos a saber que a incompetência pode não ser apenas inocente, mas malévola e orientada).
Dizem-nos agora os suspeitos habituais que a prorrogação da prisão preventiva daqueles dois arguidos, requerida pelo MP e fatalmente acompanhada pelo juiz, se ficará a dever à chegada de novos factos ou novas “provas” ao processo — o que, em si mesmo, contradiz o fundamento da prisão baseado em potencial destruição de provas. Pior ainda é se essas tais “novas provas” não são mais, como consta noutras fontes, do que os dados bancários da conta de Santos Silva na Suíça, cuja chegada ao processo o MP terá atrasado deliberadamente durante um ano, justamente para as poder usar no timing adequado para fundamentar a prorrogação da prisão preventiva. Porque ninguém duvida de que tanto o procurador como o juiz estão dispostos a levar a prisão até ao limite absurdo de um ano, sem acusação feita.
Que a tudo isto — mais a já inqualificável violação do segredo de justiça, transformado numa espécie de atividade comercial às claras — se assista em silêncio, com a procuradora-geral a assobiar ao vento e o Presidente da República, escudado na desculpa da separação de poderes, fingindo que nada disto tem a ver com o regular funcionamento das instituições, que lhe cabe garantir, enquanto se discute, nem sequer a pena ilegal de prisão preventiva, mas a pena acessória de humilhação de um homem que foi duas vezes eleito pelos portugueses para chefiar o Governo e que agora se bate pelo direito de usar as botas por ele escolhidas e ter um cachecol do Benfica na cela, é sinal do estado de cobardia cívica a que o país chegou. As coisas estão a ficar perigosas. Eu não votarei em quem não prometa pôr fim a esta paródia do Estado de direito.


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Para quem é algum do primeiro milho...

A sondagem hoje publicada no «Expresso», que a intitula em grandes paragonas como de “empate técnico entre o PS e a coligação de direita”, permite outra leitura alternativa e bastante mais consistente.
Se fosse hoje a direita conseguia 100 deputados contra os 102 do PS? Eis um cenário, que fará pensar quantos estão fartos deste governo e ainda não se decidiram se vale a pena dar por ora opinião. A acreditarmos na ficha técnica da Eurosondagem foi o que se passou com 22,3% dos inquiridos.
Podemos, pois, considerar que há males que vêm por bem! Quantos irão votar na alternativa a este governo apenas porque não o querem ver repetir-se por mais quatro anos?
Mas, há mais do que isso. Como alertava Jorge Coelho na «Quadratura do Círculo», o novo secretário-geral do PS ainda só está há três meses em funções. Será tempo suficiente para se comprometer com medidas concretas e definitivas, numa altura em que ainda faltam oito meses para as eleições e a Europa está em convulsão por efeito da situação grega? E não será avisado esperar pelo trabalho atualmente em preparação para, mais próximo do início da campanha eleitoral, avançar com propostas claras e convincentes, sobre as quais nem a usura, nem a desinformação da direita terão tempo de desqualificar?
É claro que o discurso sobre a escassa diferença entre o PS de António Costa e o de António José Seguro interessa, - e de que maneira! -, à direita!
Da mesma maneira que tenta convencer os portugueses - e essa é a tónica da entrevista de passos coelho no «Expresso» de amanhã - em como ele em pouco se distinguirá do atual primeiro-ministro.
A batalha da desinformação passará por aí e a direita concentrará enormes esforços e recursos financeiros em fazer com que tal mentira seja repetida milhentas vezes para ver se pega como verdade!
E o pior que poderia acontecer seria ver socialistas a deixarem-se embalar por tal campanha. É por isso lamentável que Alfredo Barroso dê tanta publicidade à sua saída do Partido.
Até admitimos que ele prefira votar e intervir politicamente no Bloco de Esquerda. Mas tornar-se instrumento de propaganda da direita, que o usa como exemplo de um suposto mal-estar interno no Partido Socialista não é fazer o jogo do partido de Catarina Martins, mas o da direita.
Se Alfredo Barroso conta transferir uns votos do PS para o Bloco estará sobejamente enganado. Poderá sim influenciar muitos a optarem pelo voto branco, nulo ou na proposta de Marinho e Pinto.
É caso para questionar o referido fundador do Partido se o quer ver fragilizado num governo minoritário, e sujeito ao boicote da direita, ou se, mesmo discordando, não seria mais atinado se contribuísse para a sua maioria absoluta.?
Como propunha Jorge Coelho no programa da Sic Notícias, há que mostrar serenidade e aguardar pela calendarização definida pela Direção do Partido Socialista quanto à divulgação das traves mestras em que assentará a Agenda da Década na governação imediata do próximo governo tão só tome posse…
Por agora algum do primeiro milho continua a ser dos pardais... 

Fanatismos de matizes diferentes, mas de lógicas iguais

Uma das séries mais interessantes que está a ser transmitida num dos canais por cabo é «Years of living dangerously».
Em cada episódio surgem dois nomes conhecidos do cinema, da televisão ou do jornalismo norte-americano e analisar uma situação concreta demonstrativa dos efeitos do aquecimento global.
No desta semana a atriz Olivia Munn, que nos habituámos a ver como a especialista financeira de «The Newsroom», acompanhou as dificuldades do governador do Estado de Washington, Jay Inslee, em levar por diante a sua agenda ecológica perante a cegueira dos republicanos, que controlam maioritariamente o senado estadual. E o jornalista Mark Bittman recordou toda a campanha populista do governador Chris Christie, de New Jersey, em torno da tragédia, que, sob a forma do furacão «Sandy», destruiu a zona costeira do seu Estado.
A exemplo do que já víramos em episódios anteriores - onde já tinham passado Harrison Ford ou Arnold Schwarzenegger, entre outros - espanta o fanatismo dos republicanos contra as evidências da ciência.
Seja virando ostensivamente as costas ao discurso científico ou falsificando-o sem qualquer pudor, essa direita troglodita apenas se interessa em garantir o apoio financeiro dos grandes conglomerados industriais e económicos, que se estão completamente borrifando para o futuro do planeta tão só garantam a continuidade dos seus obscenos lucros por mais uns quantos anos.
Deste lado do Atlântico podemos estranhar esse comportamento, que tem tantas semelhanças com os dos jihadistas do Daesh. E, no entanto, encontramos entre nós a mesma falta de lógica.
O melhor exemplo dessa cegueira ideológica tem a ver com as consequências nefastas que a imposição da austeridade custe o que custar aos países do sul da Europa e à Irlanda  estão a explicitar-se com pertinência crescente.
Daí que o mea culpa de Juncker e a vitória do Syriza tenham abanado, mesmo que ligeiramente, a intranquila muralha construída pelos alemães e os seus mais próximos aliados, e baseada numa teoria sem qualquer sucesso quando passada à prática.
Mas, ao contrário do que ocorreu durante a II Guerra Mundial, quando a muralha do Atlântico não impediu os Aliados de desembarcarem nas praias da Normandia, a relação de forças ainda parece pender em demasia para o sinistro schäuble.
Em Atenas os esforços de Tsipras e de Varoufakis são sabotados pela aliança do costume entre a direita, os comunistas (que até já convocaram uma manifestação contra o novo governo) e a extrema-esquerda (as franjas mais radicais do próprio Syriza. Alguma esquerda continua sem nada aprender e a servir de idiotas úteis dos que deveriam ser os seus mais óbvios inimigos.
Estamos a acabar a semana com a possibilidade da bancarrota grega ocorrer já nas próximas semanas, traduzida no esmagamento do corajoso david pelo  estúpido, mas ainda demasiado forte golias.
Seria necessário, que os socialistas europeus - na reunião desta semana em Espanha - tivessem manifestado o grão-de-asa necessário para se libertarem definitivamente do papel de muleta da doutrina neoliberal conforme agiram em muitos dos países da União durante estes anos. E também dissessem não aos schäubles, que ainda querem mandar.
Mas, a menos que Atenas resista ao cerco e que as eleições da Andaluzia deem o abanão esperado, e podemos estar à beira do verão do nosso descontentamento...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Poeira para os olhos!

Momentaneamente eclipsado das notícias, que vão preenchendo os títulos de abertura dos telejornais, fiquei surpreendido quando cheguei a casa para jantar e dei com a falsa polémica sobre as declarações de António Costa perante a comunidade chinesa.
Ouvi as palavras do secretário-geral do PS, as circunstâncias em que foram ditas e questionei-me: mas é só isto que a direita tem para pegar no seu circunstancial odiozinho de estimação?
É que nem António Costa disse o que a direita quis ouvir - «diferente» não é a mesma coisa que «melhor»! - nem mesmo sendo essa “melhoria” real (o que não é o caso, como se vê pela dimensão da dívida, do desemprego e dos portugueses forçados a emigrar!) se  deveria aos méritos de passos &  Cª.
Sabemos que os escrúpulos não abundam à direita, mas falta-lhes argumentação para esconder o seu fracasso. Só se entende a cortina de poeira para os olhos dos portugueses pelas notícias comprometedoras vindas de Bruxelas, e que deixaram passos e pires de lima em silêncio.
Mas o funcionamento das cabecinhas pensadoras da coligação é sempre o mesmo, como se viu com a maninha de marques mendes na Assembleia a querer colar as propostas do Syriza ao que o (des)governo fez nestes quatro anos. Está-se mesmo a ver as enormes semelhanças entre Tsipras e passos coelho, ou entre Varoufakis e maria luís!!!
Até um amblíope é capaz de ver que, como escrevia Mário de Carvalho, vai uma enorme diferença entre género humano e manuel germano!!!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A forma como os gestos traem o que se quer dizer

Há imagens, que valem por mil palavas. E estas não faltaram na boca da senhora procuradora-geral da república na entrevista dada à Rádio Renascença  e ao «Público». Mas os gestos, oh que gestos!, tão reveladores foram do que procurava esconder só para si.
Não sei se joana marques vidal tem algum conhecimento do significado de algumas expressões faciais ou da forma como mexe as mãos. Mas se o tem, não conseguiu utilizá-lo, quando a questionaram sobre as fugas de informação oriundas dos seus subordinados para o pasquim da Cofina : a forma como olhou obliquamente para baixo a reconhecer os “deslizes” e a afiançar ter, entretanto, resolvido a questão, foi bem demonstrativa como estava comprometida com o que reconhecidamente é um crime público.
E a forma como se mexeu na cadeira, quando garantiu não haver preconceito político na investigação a José Sócrates, indiciou precisamente o contrário.
Razões mais do que bastantes para justificar a óbvia conclusão de não se tratar da pessoa mais adequada para o cargo que desempenha. É que a falta de garantias para quem é acusado de eventuais atos ilícitos,  e não consegue ver reconhecido o seu direito ao bom nome até surgirem provas concludentes de o não merecer, só tem paralelo com o tipo de (in)justiça  praticado antes do 25 de abril.
Há, pois, que fazer a revolução dos cravos ter efeitos num dos setores mais estruturantes da nossa Democracia!!!

Eles continuam a querer sempre o mesmo!

O escândalo em torno da Operação Marquês não conhece limites, já que quem os deveria estabelecer revela-se cúmplice dos infratores. É assim que a notícia da reaferição das medidas de coação sobre José Sócrates e Carlos Santos Silva foi uma mera fantochada já que o juiz e o procurador já tinham dado ao pasquim da Cofina  a notícia do prolongamento da prisão preventiva.
Mas, se associarmos esta  situação com outra notícia em como o ministério público andará a investigar outros membros dos governos de José Sócrates, conclui-se facilmente aquilo que se tem querido iludir ao longo destes três meses: trata-se de um processo movido por uma estratégia política, que visa, em última instância, impedir a vitória do Partido Socialista nas próximas eleições legislativas.
O que corre mal aos inspiradores dessa conjura é o facto de se estar a afundar  inapelavelmente o governo em que depositavam todas as suas esperanças. Não assistíramos a novas investidas do Sindicato dos Juízes a justificar a legitimidade de lhes aumentar as remunerações? E não terão em mente a possibilidade de verem o poder executivo e legislativo procederem a essa urgente reforma estrutural, que corrija definitivamente o facto de ser a (falta de) justiça um dos principais argumentos invocados pelas organizações internacionais para justificar a pouca atração dos investimentos estrangeiros por Portugal?
A Operação Marquês poderá vir a revelar-se a ponta de um perigoso iceberg, que esteve quase a causar sérios danos com a história da pedofilia na Casa Pia. Tal como hoje visavam-se então dirigentes socialistas de topo e procurava-se impedir a sua vitória previsível depois da desastrosa governação de durão barroso.
Já que a metodologia vai-se repetindo, e sempre em torno dos mesmos grupos de pressão, será avisado, que contra eles se tomem as medidas necessárias para que não voltem à expectativa de quererem condicionar a Democracia e os seus princípios fundamentais, entre os quais se destacam o direito à presunção de inocência e o segredo de justiça.
Mas, nem por acaso, saiu agora o relatório da inspeção ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que tão  tristemente se tem celebrizado nos últimos tempos. E o que se conclui sobre tais ”justiceiros” é elucidativo: há nele, segundo o «Público», “uma profunda desorganização no funcionamento daquela estrutura, polícias recrutados por amizade, gastos avultados, uma distribuição dos inquéritos sem qualquer critério e atrasos que chegam aos 10 anos na tramitação dos processos de prevenção de branqueamento de capitais.”
E, mais adiante, a notícia complementa-se com a pouca apetência dos senhores do DCIAP em investigarem os crimes de colarinho branco … embora se tenham mostrado tão acelerados em acusar José Sócrates sem para tal contarem com as devidas provas: “Os inspetores arrasam a prevenção do branqueamento de capitais com proveniência ilícita feita pelo DCIAP (uma atividade que a União Europeia têm vindo a aprofundar no Relatório da inspeção alerta ainda para profunda desorganização no departamento mais especializado do MP âmbito do combate ao terrorismo) constatando que existem atrasos que chegam aos 10 anos na avaliação e tramitação das comunicações bancárias feitas à estrutura de topo do Ministério Público, o que é incompatível com os objetivos destas ações. de acordo com critérios predefinidos que as classificam como suspeitas.”