1. Não terá tido a divulgação merecida o relatório do Instituto Nacional de Estatística sobre as condições de vida e de rendimento dos portugueses conhecido anteontem e por isso importa que a ele regressemos. É que ali se demonstra como este governo fez recuar dez anos aos indicadores de pobreza em Portugal. De facto só em 2003 é que se verificava a situação de um em cada cinco portugueses (20% da população) viver em situação de pobreza.
Verificara-se uma melhoria significativa durante os anos de governo de José Sócrates, regredindo-se continuamente com as políticas impostas por este governo. Em 2012 já se verificava uma percentagem de 18,2% de pobres no conjunto da população, que se agravaria para 19,5% em 2013.
O tipo de agregado familiar onde se verificou uma regressão mais significativa foi a monoparental, em que um adulto vive com pelo menos uma criança. O risco de pobreza chega, então, a 38,4%.
E desiludam-se os que pensam na hipótese de escapar à pobreza quem tem trabalho. É que um em cada dez portugueses com emprego também está nessa situação.
O mesmo relatório também é elucidativo quanto ao agravamento das desigualdades sociais, que costumam ser medidas pelo coeficiente de Gini: em 2013, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta diferença estava nos 10,7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011 e 9,4 em 2010).
Pode-se pois concluir que o governo de passos coelho aumentou a pobreza e as desigualdades sociais ao longo de todo o seu mandato. E, muito embora, não seja propriamente uma novidade, vê-lo refletido em números oficiais só confirma a mentira despudorada, que estará subjacente a tudo quanto os tenores desta direita irão entoar nos próximos meses.
2. Não é que o FMI mereça grande respeito - e Tsipras já revelou o que, na prática, pensa de tal instituição! - mas o relatório agora publicado sobre Portugal é assaz embaraçoso para o governo de passos coelho. É que, não só lhe desmente as previsões de crescimento económico, não as vislumbrando acima de 1,5% para os próximos anos, como a redução do número de desempregados só tenderá a acontecer com a sangria dos mais qualificados para o estrangeiro.
Quanto às exportações a opinião é a de virem a estagnar, se não mesmo a regredir, pelo que só a locomotiva do consumo interno terá combustível bastante para puxar o mísero crescimento para um débil movimento para diante.
É claro que as “soluções” avançadas por Subir Lall lembram as sangrias aplicadas aos doentes há uns séculos atrás, e que só lhes agravavam o estado, mas o relatório tem o condão de ver o FMI enredado no labirinto do seu pensamento único e que tantos danos tem causado aonde o obriga a aplicar.
3. Voltando aos relatórios do INE verifica-se uma previsão de –2,2% na variação do investimento privado na economia portuguesa para o ano em curso. É que os empresários alegam a incapacidade de encontrarem mercado (nomeadamente interno) para os seus produtos para que se justifique a aplicação de recursos financeiros no que se traduziria tão-só no aumento de stocks. Em vez de terem motivos de otimismo os empresários só se podem queixar das políticas deste governo que, maioritariamente, apoiaram.
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