1. Ainda não estão esquecidos os traumas da guerra subsequente à implosão da Jugoslávia e já novo conflito parece agudizar-se na Europa. E, uma vez mais, os norte-americanos surgem como os incendiários dispostos a agravarem o que já está a correr tão mal. O que não admira: a sua importante indústria do armamento já não conta com o Afeganistão ou com o Iraque para gerar lucros para os seus acionistas e no Pentágono os “falcões” ainda mal digeriram o facto de não terem conseguido derrubar Assad da Síria para privar a Rússia da sua importante base naval nem de lhes estar a correr de feição a campanha ucraniana pela qual julgavam possível impedir o inimigo de estimação de ter acesso ao Mediterrâneo.
Só os maniqueístas, que continuam a olhar para a NATO como feudo de gente impoluta e para Moscovo como sede das forças do mal, é que não conseguem ver como toda a operação de contestação ao anterior presidente ucraniano tinha todas as características das que costumam sair da «fábrica de produção» de Langley.
Apesar dos esforços alemães e franceses tudo se conjuga para que estejam ali a concentrarem-se as condições para uma nova demonstração da lei de Murphy. Com imprevisíveis consequências para o nosso futuro europeu!
2. Às vezes o fanatismo assume tal dimensão, que os defensores de uma causa não conseguem discernir o quanto de prejudicial a ela fazem por concretizarem em seu nome os mais hediondos crimes . É por isso que a derrota do Daesh não ocorrerá propriamente por efeito das ações militares contra eles organizadas, mas porque a opinião pública muçulmana, que até lhes terá desculpado os excessos em nome de mil e um argumentos falaciosos, passou a rejeitar a forma como foi queimado vivo o piloto jordano.
Se degolar norte-americanos, ingleses ou japoneses poderia ser aceite por não serem muçulmanos, a mediática morte de Moaz al-Kasasbeh constituiu um autêntico hara-kiri para os jihadistas. É que uma coisa é assassinarem muçulmanos, que não tinham identidade mediática, outra é conhecer-se-lhes a cara e o nome.
Estamos a assistir ao princípio do fim do pseudo Califado. Embora na escalada cada vez mais brutal dos últimos anos haja razões para temer quem lhe tomará o testemunho.
3. O fanatismo do Daesh é tão estúpido e repugnante como o de Schäuble e outros defensores das regras em má hora inseridas no Tratado Orçamental, que lhes dá argumentos para fecharem estrondosamente a porta às solicitações do novo governo grego.
De pouco lhes importa que as opções ideológicas dos anos mais recentes tenham causado tantas vítimas por toda a Europa! Austeridade é o que lhes mais importa até para lhes dar a oportunidade de reduzir o Estado á sua expressão mínima e livre curso às malfeitorias dos predadores financeiros. Que para eles equivalem à sagrada «liberdade dos mercados».
É por isso que, muito provavelmente, o Syriza significará para eles o Moaz al-Kasasbeh do Daesh: ao hostilizarem-no, quando a corrente de simpatia corre em favor de Tsipras e de Varoufakis, poderá precipitar o seu fim. Até porque as eleições espanholas e irlandesas estão quase aí a chegar...
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