Houve um tempo em que líamos com atenção o que diziam os intelectuais franceses. Era o tempo de Sartre ou de Camus, e até um homem de direita como Aron produzia ideias com substância bastante para não o ignorarmos.
Não encontro explicação para a indigência do pensamento da maioria dos que hoje se esforçam por se equiparar aos «maîtres à penser» do passado. Parece que a necessidade de se distanciarem do comunismo lhes retirou as ferramentas de pensamento, que outrora eram estruturadamente consistentes.
Esta semana no programa “28 minutes” o jornalista do «Libé» Jean Quatremer constatava sem surpresa que todos os ditadores do Médio Oriente apeados mais ou menos diretamente pelas forças ocidentais foram sucedidos por regimes incomensuravelmente piores.
Quer as mulheres, quer as minorias religiosas, estavam muito mais resguardadas sob a proteção de Saddam Hussein, Moubarak ou Kadhafi do que atualmente. Mesmo Assad, ainda tão demonizado, garante maior respeito pelos direitos humanos do que os «libertadores» incensados pela NATO.
É por isso que concordo em absoluto com o libelo publicado por Ferreira Fernandes no DN contra o expoente maior da estupidez intelectual francesa: esse Bernard Henri-Lévy, que já não satisfeito com todos os danos causados na antiga Jugoslávia pela sua campanha propagandística, foi um ativo militante do derrube do ditador da Líbia. Que o resultado tenha sido o presente caos e a presença do Daesh a trezentos quilómetros das costas italianas não deixa de ser paradoxal para quem se julgava com potencial para vir a ser o grande intelectual europeu do século XXI.
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