Há muitos socialistas, que se empenharam ativamente na eleição de António Costa e se mostra agora insatisfeitos com a forma como ele tem liderado a Oposição ao governo de passos coelho. Acusam-no de não ser tão ostensivo a denunciar cada patifaria dos ministros laranjas, como se a questão da maioria absoluta nas próximas legislativas dependesse mais do volume de decibéis com que discursa do que da inteligência do que diz. E, relativamente à Grécia de Tsipras, não o veem tão entusiasmado com os sinais dali provenientes quanto desejariam.
Vamos lá então à minha declaração de interesses: apoiei entusiasticamente António Costa e voltaria a fazê-lo se por hipótese houvesse agora uma nova consulta aos militantes e simpatizantes.
Apoio entusiasticamente o governo de Tsipras e desejo muito sinceramente que tenha o maior dos sucessos, demonstrando aos timoratos, que ou se abaixaram a merkel (como Hollande) ou a incensaram como se fosse a nossa senhora de Berlim (como passos), que há mais vida para lá da estúpida austeridade.
Não darei, pois, qualquer cêntimo para um peditório de crítica a um ou a outro. António Costa tem o seu calendário bem definido e cumpri-lo-á escrupulosamente de forma a potenciar o mais possível a votação do eleitorado socialista.
Esperar que ele gaste munições nesta altura, quando as eleições ainda estão relativamente distantes, seria inconsequente: uma dinâmica de vitória constrói-se em crescendo e não pode iniciar-se demasiado cedo sob pena de perder o gás na precisa altura em que mais falta ele fará.
Que os meus camaradas tenham calma com os desejos de definições a respeito do pagamento da dívida e da sua necessária renegociação. É que tudo quanto se passar em Atenas corresponderá a uma forte sacudidela em toda a União Europeia. Para quê arriscar agora decisões num ou noutro sentido se nenhum analista conseguirá, nesta altura, prever como estará a Europa daqui a seis meses? Por isso mesmo António Costa só tem de manter-se firme na leitura há muito definida e inquestionável: “É claro que a ideia de austeridade como caminho para o crescimento económico foi um fracasso e que é necessário travar a austeridade para criarmos condições de crescimento económico.”
Confirmando uma consonância de objetivos entre o PS português e o Syriza, João Galamba nega que a direção socialista subscreva as ideias retrógradas expressas esta semana por Francisco Assis ou António Vitorino. Pelo contrário, ele asseverou que “o que temos é de libertar recursos para a economia; o modo como isso se faz não é o mais importante. Os gregos só estão a tentar atingir, por outra forma, os mesmos objetivos.”
Pedro Nuno Santos também confirma a simpatia implícita à irreverência do novo governo grego e à sua estratégia de ser realista pedindo o impossível: “o objetivo é libertar recursos e há várias formas de conseguir esse objetivo. António Costa não fecha a porta a nada. A Grécia está num processo negocial sem precedentes. Se o Governo grego não tivesse partido para a negociação com uma exigência de reestruturação de 50 por cento da dívida, não tinha margem negocial com amplitude suficiente para poder fazer cedências e, mesmo assim, conseguir uma vitória para o seu país.”
O que os críticos de António Costa não querem ver é a racionalidade da sua estratégia, que mantém várias vias em aberto para optar por aquela que melhor o aproxime dos objetivos de crescimento e de criação de emprego por que o país tanto almeja...
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