A luta de um pigmeu contra um gigante, assim classificou joão de deus pinheiro o confronto do governo do Syriza contra as instituições europeias e, muito particularmente contra o homólogo alemão. É que a reunião entre o sinistro schäuble e Varoufakis não terá sido muito diferente da deste último com o presidente holandês do Eurogrupo: o que é prometido à Grécia é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
Seria isto expetável? Claro que sim. Só os palermas veem recuos do Syriza numa negociação onde se começam por enunciar objetivos bastante ambiciosos para se alcançarem depois os tangíveis. Mas tangíveis que signifiquem resultados concretos em vez da submissão cobarde do anterior Executivo de Samaras aos ditames da troika.
Ao recusar liminarmente as propostas de Tsipras e de Varoufakis, e com o BCE a deixar de aceitar como garantia os títulos da dívida publica grega, há quem já tenha posto garrafas de champanhe no frigorífico à espera da humilhação do pigmeu.
É desconhecer a teimosia e a coragem, que está no ADN dos gregos como o demonstraram precisamente na guerrilha contra os alemães na Segunda Guerra Mundial. Lembremos que foram eles os únicos a não necessitarem do apoio dos Aliados para expulsarem os ocupantes nazis. E foi Churchill quem, prevendo a vitória da resistência comunista enviou para Atenas um exército suficientemente forte para impedir a Grécia de se tornar no que temia vir a ser um novo bastião de Estaline nos Balcãs.
A Guerra Civil, que se seguiu à Segunda Guerra, mais não foi do que uma aliança dos ingleses e da direita grega para impedir a esquerda de implantar um regime de esquerda. Então, como nos anos anteriores, a coragem de quem impunha de fora ordens que os gregos repudiavam, foi quase indomável.
É por isso que tenho mais confiança na vitória do pigmeu do que do tal gigante, que o antigo comissário europeu do PSD já dá como anunciado vencedor. É que, como escreve Teresa de Sousa no “Público”: “A realidade é muito mais complicada. E os compromissos desaconselham posições extremas. Por enquanto, continua tudo em aberto.”
É que a cartada russa volta a ser relevante na equação do atual momento: Tsipras já aceitou o convite de Putin para visitar Moscovo a 9 de maio, quando se celebrar a vitória na Segunda Guerra Mundial. E, em Atenas, fala-se numa proposta russa de financiamento, talvez de cinco mil milhões de euros, que não pesa decisivamente na negociação, mas teria forte efeito político.
Menosprezam os detratores do Syriza, que bem podem eles confiar na falida Rússia! Mas também pecam por exagerados os que anunciam a morte política de Putin a curto prazo em função do atual preço do barril de petróleo.
O urso russo tem encontrado artes de sobreviver nos piores cenários com que se confronta. Por isso mesmo será provável que, além de dificultar decisões da União Europeia contra a Rússia, Atenas também faça obstrução em questões concretas. Sem que a chantagem financeira já consiga prevalecer como na altura em que Papandreou quis lançar um referendo e foi prontamente derrubado.
Assistiu-se agora ao fim do primeiro round de um combate em vários assaltos. E o resultado terá sido o de um empate técnico!
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