sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Militares contra vontade

 

Pobres miúdos chineses a quem os pais internam em campos de férias para sujeitarem-se a treinos militares organizados por empresas privadas, que exploram a obsessão do regime em construir o mais poderoso exército do mundo.

Mimados até agora não aguentam a disciplina férrea a que os sujeitam logo telefonando para casa a pedir que os vão buscar. Mas deparando com a intransigência dos pais, indiferentes aos seus plangentes choros.

Dura realidade essa em que a vontade dos progenitores contrapõe-se às fragilidades psicológicas de uma geração muito diferente dos mitos familiares sobre os sacrifícios dos avós e outros antepassados, Uma coisa é o querer, outra é a possibilidade de o concertar com as bem diferentes realidades... 

Poluir em nome do planeta verde

 

Uma reportagem dá conta da oposição de muitos gronelandeses aos projetos de exploração mineira facilitados pelas mudanças climáticas, que os embaratecem e facilitam tecnicamente no seu território. O governo, de inspiração ecológica, procura travá-los em nome de um futuro verde assente na agricultura e no turismo, mas os interesses das multinacionais envolvidas pesam fortemente em sítios onde o desemprego é uma realidade e a promessa de solução a curto prazo parece promissora para muitos dos que sonham com um melhor futuro para si e os seus.

Ademais, os lobistas das multinacionais não hesitam em esconder a exploração poluidora do urânio atrás das que envolvem terras raras - vendidas como resposta para possibilitar menores emissões de CO2 nos transportes - e no sempre mitificado ouro.

Olhada de fora não há como dar toda a razão aos que pugnam por uma Gronelândia poupada à ganância das empresas mineiras. Mas, contrapostas as opiniões, que venho alimentando a propósito dos projetos nacionais assentes no lítio ou no hidrogénio verde, vou relativizando  juízos mais definitivos. 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Sem justificação para poupar nas palavras

 

Oitenta dias passados sobre a ação bárbara do Hamas não há como negar o óbvio: com mais de vinte mil pessoas - muitas delas mulheres e crianças! - mortas em Gaza o que o exército sionista está a perpetrar é um genocídio com todas as letras. E não me venham apelidar de antissemita por o proclamar, porque semitas são também as vítimas, que morrem nos territórios palestinianos, onde os ocupantes se querem instalar definitivamente contra todas as resoluções até hoje aprovadas nas Nações Unidas.

Há quem, para consolar a consciência, lembre as mortes e violações do dia 7 de outubro, mas quantos crimes sobre inocentes têm de ser cometidos para que os justiceiros fascistas de Telavive se sintam satisfeitos?

Embora há muito duvidássemos que os israelitas merecessem a nossa simpatia pelo que os antepassados sofreram durante séculos nos progroms por toda s Europa - e culminados no Holocausto! - , o que há décadas andam a fazer contra os legítimos detentores da terra onde assentaram a sua teocrática nação não tem perdão. É um crime contra a Humanidade e não vale a pena usar palavrinhas mansas para o apelidar!

Bons juízes que por si se julgam

 

No Reino Unido, entre 2007 e 2023, mais de 160 antigos ministros aceitaram empregos em empresas privadas ligadas aos setores em que tinham tido responsabilidade política. Olhando para os que integraram governos entre nós com quantos sucedeu o mesmo? Paulo Portas, Durão Barroso, Luis Amado ou Teixeira dos Santos são exemplos conhecidos de uma imensa lista, que fundamenta a realidade das portas giratórias entre as funções públicas e as desempenhadas em empresas privadas.

Essa corrupção é bem mais notória e prejudicial, que a procurada pela coscuvilheira atividade do ministério público embora seja esta - quantas vezes não provada! - a encher as primeiras páginas dos tabloides e a alimentar as demagogias populistas. Ou a dar argumentos para que gente da estirpe de um Paulo Morais e outros apaniguados da suposta Transparência se achem com alguma importância social.

Muitas vezes são os que enchem a boca com frases bombásticas sobre a corrupção que, intimamente, mais corruptos são. Porque lá diz o ditado que bons juízes são os que por si mesmos se julgam. 

domingo, 24 de dezembro de 2023

A frustração irremediável de um narcisista

 

Se algo consola na crise política, que levou à demissão do governo de António Costa é a provável frustração de Marcelo Rebelo de Sousa perante o lugar dele conservado pela História enquanto Presidente da República.

No seu narcisismo ele ter-se-á imaginado enaltecido pelo estilo de proximidade junto de quem se deixou “selfizar” até à exaustão. Enquanto Mário Soares e Jorge Sampaio, quiçá mesmo Ramalho Eanes, ficarão recordados pelo que representaram antes, durante, e mesmo depois dos seus duplos mandatos, os de Marcelo ficarão como um vazio sem direito a sequer vaga nota de rodapé.

A vontade em derrubar os governos socialistas foi tão obsessiva que, das duas vezes em que decidiu fazê-lo, o resultado terá sido bem pior do que suportara até então. Da primeira vez saiu-lhe um governo de maioria absoluta contra o qual ficou inibido de conseguir maior eficácia nas quotidianas obstruções, da segunda ficará uma de duas hipóteses: seja um governo norteado pela convergências das esquerdas que tanto execra, seja a putativa alternativa de ter a extrema-direita a integrá-lo e dando-lhe o duvidoso mérito de ter propiciado o acesso ao poder de quem sabe sem qualquer outro talento, que o do fanatismo ideológico de efémera utilidade para quem verdadeiramente precisa de manter sólido o capitalismo com recurso a ilusões subtis, fáceis de digerir por quem as amarga, em vez de contra elas se insurgir quando constata o quão indigestas se revelem.

Não escapa a Marcelo a mediocridade congénita de Montenegro, que de pouco lhe serve para o projeto de uma refundação das direitas ao jeito das que imaginou possíveis, quando liderou o seu partido. Mas não lhe interiorizou as lições de então, quando se viu desfeiteado pela geração de gente sem qualidades, que o cavaquismo representou.

Na cegueira em desfeitear António Costa ele esqueceu-se da falta de talento comum aos capitalistas nacionais e às forças políticas deles serventuárias. Os empresários dos transportes e da grande distribuição, que financiam o Chega estão ao nível rasteirinho de um Ricardo Salgado, fértil em ganância e jogos de poder, mas incapaz de criar riqueza substantiva ao país. Nesse sentido Ventura, Montenegro e Rui Rocha são balões cheios de ar, que dão às esquerdas a vontade de usar o alfinete...

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Sobram razões substantivas para acreditar na vitória

 

A menos que António Costa Pinto tenha razão na possibilidade de surgirem novas campanhas nos tabloides a partir das coscuvilhices dos procuradores do Ministério Público que, sabe-se lá quantos ministros e secretários de Estado têm tido sob escuta nestes últimos anos - a Galamba sabemos que foram quatro! - tenho sobejas razões para estar otimista a respeito dos resultados eleitorais de 10 de março. O Partido Socialista está unido depois da definição da sua liderança e, para já do Bloco de Esquerda, surgem intenções quanto a convergências das esquerdas para o dia seguinte à previsível vitória contra a soma das direitas mais ou menos extremadas.

Ademais, com António Costa a lembrar diariamente o lado positivo da sua governação nos últimos oito anos e com Pedro Nuno em pré-campanha a dar conta do que será o impulso a dar ao legado até agora consolidado, não faltarão oportunidades para contrapor visibilidade mediática positiva à nulidade inerente à cinzenta figura de Luis Montenegro em quem - di-lo Daniel Oliveira - ninguém de bom senso imagina na figura de primeiro-ministro. Na crónica hoje publicada no «Expresso», ele lembra que a cada tema que o possa comprometer, Montenegro foge. Preso aos interesses privados da ANA, foge do tema do aeroporto, a exemplo do que faz com o TGV ou a regionalização.  “A política tem horror ao vazio e é isso mesmo que Montenegro parece ser: o vazio.”

Não o terá ajudado, igualmente, a aparição fantasmagórica de Passos Coelho, não só porque propõe colar o PSD ao Chega - com o que isso contribui para afastar um eleitorado de direita, que não se revê na sua costela fascistoide! - mas também por lembrar o tal azedume com que António Costa o minimizou com merecida sobranceria. Como sublinha o mesmo comentador do semanário da família Balsemão todos sabem que “Costa demitiu-se por causa de um processo judicial. Má figura, para não dizer indecente, é transformar os efeitos imediatos dessa investigação numa sentença política. Passos pode fazer um balanço negativo do governo que cumpriu a estratégia orçamental (e eu lamento-o) que ele disse que nunca resultaria e que se resultasse ele teria de defender o voto no PS, BE e PCP. Não pode dizer que foi por isso que Costa se demitiu, porque é falso.” Mas sobre a natureza mentirosa do sebastião das direitas já todos tínhamos a perfeita noção, mormente todos quantos se viram espoliados de subsídios e partes significativas dos rendimentos, quando ele quis ir além da troika depois de lhes prometer mundos e fundos para lhes colher os votos.

Para quem desejaria ver a alternativa de direita apossar-se do tal pote por que, desde 2015, tem suspirado, também não terá sossegado a intervenção de Pedro Nuno Santos no jantar de Natal do PS: considerando-se em dívida para com António Costa e a herança que lhe passa, denunciando a profunda incapacidade de gestão do rival laranja, que só traria instabilidade à política e à economia portuguesa,  e afirmou-se como o garante da continuidade da estratégia progressista, que solucionará os principais problemas dos eleitores, seja na saúde, na habitação e na educação. Há nas convicções firmes de Pedro Nuno santos uma credibilidade, que Montenegro estará longe de replicar...

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A importância visual dos pormenores

 

A direita mediática anda sempre atenta a todas as imagens, que possam pôr em causa quem detém o poder e entende serem os seus ódios de estimação. Há uma dúzia de anos foi viral a imagem de José Sócrates a perguntar a um assistente se estava visualmente bem antes de iniciar uma conferência de imprensa. E o que o punha em causa era a suposta artificialidade da imagem a transmitir.

Embora não sejam de esquerda, Angela Merkel ou Joe Biden também mereceram essa atenção viral das direitas mais extremas, que prodigalizaram imagens das tremuras da primeira ou dos sinais de velhice do segundo. O tropeção de Biden a subir a escada para o avião presidencial, a cair de bicicleta durante um passeio, ou a necessitar da ajuda da mulher para vestir o casaco num aeroporto do Kentucky, visam facilitar uma possível vitória de Trump nas eleições americanas do final deste anos a pretexto da sua suposta senilidade.

Não admira que Pedro Nuno Santos dê conta da atenção aos pormenores na gestão da sua imagem sabendo que, se a de Montenegro é má, nenhum jornal ou televisão a enfatizará para o prejudicar, ao contrário do que logo farão se lhes der oportunidade para tal. Explica-se assim que, durante a campanha para a eleição de secretário-geral, acontecesse aquele momento em que pediu uma garrafa de água pequena, porque seria negativa a imagem ao verem-no a beber pelo gargalo de uma garrafa de litro e meio.  Seria certa a fotografia na primeira página de um qualquer tabloide, logo reproduzida pelas redes sociais até ao vómito, se a tal lhes desse azo.

Mostrando a intenção de fazer tudo bem, Pedro Nuno Santos revelou a importância dada aos mais ínfimos pormenores, passíveis de serem utilizados pelos detratores para o diabolizarem. É que, mesmo não se sabendo ao certo quem inventou a frase, e metaforizando conceitos que um ateu obviamente rejeita, deus e o diabo só poderiam estar escondidos nos mais anódinos detalhes.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Vai ser difícil, mas vai ser nossa

 

Fácil não será, mas a vitória das esquerdas em 10 de março tornou-se ontem mais viável com a consagração de Pedro Nuno Santos como secretário-geral do Partido Socialista. Para quem da convergência, conseguida há oito anos, guarda justificadas saudades cresce a esperança de algo semelhante voltar a ser possível. Como, aliás, vem sucedendo aqui ao lado, no país vizinho!

O nervosismo que se apossou da direita mediática ganhou tal fôlego, que foi eloquente ouvir alguns dos seus mais conhecidos representantes a comentarem os resultados de ontem nas várias televisões. Como não lembrarmos as mesmas reações aquando da noite da vitória de António Costa em 2015? Para quem delas se recorda até houve manifesto assassínio de carácter como se o vencedor de então fosse um Brutus capaz de atraiçoar a alvíssima e sonsa figura do oponente!

Agora é o suposto radicalismo de Pedro Nuno Santos, que lhes serve de pasto às ruminações. Mas elas começam-lhes a ser aziagas, porque não só veem-no contrapor resultados inequívocos (a salvação da TAP e os lucros agora por ela conseguidos!) aos episódios que lhes servem de armas de arremesso, como contam como seu putativo “herói” essa figura grotesca, que é Luis Montenegro. Basta colocar Arnaut ao lado do líder laranja para todos ficarmos cientes de como poria o Estado ao serviço da maximização dos lucros privados em vez de o tornar numa máquina administrativa eficiente capaz de providenciar melhores serviços públicos ao Portugal inteiro para o qual Pedro Nuno se compromete a trabalhar.

A inquietação dos “comentadeiros” também inclui o pressentimento quanto à facilidade de Pedro Nuno Santos em  falar para muitos eleitores das direitas - incluindo as suas extremas fascistoides e liberais -  numa linguagem colorida, pejada de provérbios, que lhes torna mais fácil o entendimento da mensagem. Por isso mesmo os quarenta e poucos minutos do discurso do Rato foram eloquentes: onde os detratores viram falta de novidades, ficou a repetição do que já se lhe conhecia, mas precisa ser lembrado muitas vezes, porque, para muitos dos que se deixam iludir pelas palavras de Montenegro, Ventura & Cª  importa seguir a regra da pedra dura só furada pela persistência com que é incidida.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Quem não se sente...

 

Ouvindo António Costa criticar a Procuradora Geral da República e Marcelo Rebelo de Sousa só pode concluir-se que só se perderam as farpas que cairam no chão.

É certo que o ainda primeiro-ministro teve sérias culpas na forma como desperdiçou a maioria absoluta caindo nas armadilhas de um ministério público, que confessadamente andou a investigar ministros (Azeredo Lopes, Eduardo Cabrita, Fernando Medina, Duarte Cordeiro) sem contra eles encontrar motivos substanciais para os inculpar de algum ilícito, ou sequer ouvi-los (João Galamba a quem nem sequer querem ouvir depois de oitenta mil ocasiões em que indecorosamente o coscuvilharam) mas passando abundantes e “oportunas suspeitas” para os tabloides.

Pior ainda foi como, apesar da sua tarimba, Costa deixou-se enlear na matreirice de Marcelo que, qual escorpião, se deixou levar em segurança entre as margens do rio, sem se conter no prazer com que foi dando umas aguilhoadas a quem deveria mostrar outra consideração.

Se teve a oportunidade de associar-se a um período dourado da história portuguesa em que, com a ajuda do PRR, iriam ser resolvidos os principais problemas sociais e económicos da sociedade portuguesa, aproximando-a dos níveis europeus mais avançados, Marcelo ficará com um legado de obstáculo maior a que tal venha a suceder.

No balanço que fará destes oito anos António Costa também não deverá poupar-se à introspeção sobre se manteria uma tão notória abstenção quanto a tomar medidas contra um ministério público em roda-livre e com reiteradas provas de irresponsabilidade, se não de algo pior. E se, relativamente ao seu ex-professor, melhor teria sido sorrir-lhe menos, deixá-lo levar a chuva nos costados sempre que ele às intempéries se sujeitasse, e conseguir na prudente distância, as suficientes cautelas que não terá tido.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Uma disputa taco-a-taco?

 

Quem terá convencido José Luís Carneiro a demonizar a Geringonça dia-sim, dia-não? Eis a curiosa pergunta lançada por Ana Sá Lopes na crónica de ontem no «Público» sabendo-se de antemão que foi António Costa, e não Pedro Nuno Santos, quem derrubou esse muro, logo secundado por quase todo o Partido.

Basta ouvir as palavras do ainda ministro da Administração Interna para o saber em rutura com o legado do seu primeiro-ministro, mormente quando se propõe como muleta para os orçamentos da direita se - estivessem os deuses loucos! - viesse a ser Montenegro a ganhar as eleições de março.

Só que outros interesses, que não os da verdade, poderão justificar a tese de uma luta taco-a-taco para o escrutínio do próximo fim-de-semana. Que jeito daria aos Arnauts deste país, que viessem a ter o líder laranja como interlocutor para o bom seguimento dos seus negócios!

Azar o seu, que os socialistas em geral e os portugueses em particular, têm grata recordação dos quatro anos da legislatura assente na convergência das esquerdas. E dão razão a António Costa quando afirmou ser a Geringonça um património do PS entusiasticamente apoiado por Mário Soares nos seus últimos tempos de vida.

Infelizmente, se a idade trouxe ainda maior sapiência e lucidez ao fundador do Partido, parece ter entontecido a brigada do reumático, que surge agora a secundar Carneiro. Porventura por saber-se definitivamente afastada pela nova geração, representada por Pedro Nuno, capaz de, na continuidade da mudança operada pelo governo de 2015, alavancar o PS para as mudanças que se seguirão e tão urgentes se apresentam.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O que não se espera e o que já era uma clara evidência

1. Sempre foi uma das mais execráveis atitudes a que assisti na longa vida profissional: a tendência de quem deveria liderar em sacudir a água do capote atribuindo a outrem as responsabilidades que se suspeitam ser as suas.

Nos últimos dias vimos essa cobardia a ser levada a um extremo impensável: se Marta Temido ter atirado para os secretários de Estado as decisões, que lhe queriam imputar, entra na lógica do expectável, ter um pai a fazer o mesmo com um filho já é algo que não poderia esperar por ir  além dos limites do crapuloso. Como escrevia Carmo Afonso hoje no «Público» “Marcelo tem dois pesos e muitas medidas”.

Nunca o conotei com padrões éticos particularmente aceitáveis  - e por isso nunca mereceu o meu voto! -, mas não imaginava ficarem a um nível muito rasteiro quando tão exemplarmente demonstráveis. Porque ainda temos na memória a sua preocupação com a “responsabilidade, confiabilidade, credibilidade e autoridade” dos governantes, quer no que fizessem, quer naquilo em que se revelassem omissos.

Depois do sucedido ainda se acha em condições para levar o mandato até ao fim, quando, ainda há dias, teve o ex-aluno a dar-lhe exemplo do que se espera quando se está posto em xeque?

2. Expectáveis foram as conclusões da Comissão Independente sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Alcochete é, para quem analisa os argumentos com um mínimo de isenção e sensatez, a melhor escolha. Tal qual Pedro Nuno Santos decidira - e bem! - há um ano e meio atrás.

Infelizmente desautorizado e condenado a uma via sacra, que está prestes a findar, pode lamentar que o país tenha perdido um tempo precioso e gasto mais dinheiro nos sempiternos estudos.

Há alguma dúvida que estamos a precisar de quem não tem medo de tomar as decisões, mesmo que conduzam a feitos, que não se revelem totalmente perfeitos?  

domingo, 3 de dezembro de 2023

Quando o indigesto ainda se torna pior!

 


1. As sondagens vão aparecendo com os mais desencontrados resultados o que significa nada esclarecerem quanto aos resultados de 10 de março. Fica, porém, a certeza de Luís Montenegro não descolar para a tão desejada vitória or uns quantos comentadores televisivos, nem sequer lhe valendo o apoio de Cavaco Silva, ou talvez também por isso mesmo. Porque sabê-lo unha com carne com Passos (de quem foi líder parlamentar!) já é mau, mas ter o beneplácito do antigo presidente só contribui para tornar ainda mais indigesto o que se afigurava intragável.

2. O que estará a passar-se na cabeça de Marcelo Rebelo de Sousa neste momento em que poderá deleitá-lo o sucesso em ter-se livrado de António Costa, mas assombra-o a possibilidade de vir a coabitar com um novo primeiro-ministro ainda mais difícil de enfrentar? Se a primeira dissolução saldou-se pela maioria absoluta do Partido Socialista, o que sentirá se a História se voltar a repetir, não propriamente enquanto farsa, mas como algo de muito sério?

3. Na COP28 a secretária de Estado da Energia e Clima, Ana Foutoura Gouveia, disse uma evidência lapalassiana, mas incontornável: a transição climática só será bem sucedida se implicar a criação de emprego, não a sua destruição. Mas, maior sentido faria, se ela acrescentasse só fazer sentido essa mudança se também acompanhada com a do sistema capitalista vigente, ele mesmo infecto para a saúde do planeta.

4. O terrorismo de Estado israelita já soma mais de 15 mil mortos em sete semanas de agressão à população de Gaza. E 40% são crianças.

Falta perceber até que ponto  chegará a hipocrisia ocidental, quando aceita o genocídio de quem está acantonado num gueto como resposta à forma bárbara como o Hamas ripostou à ocupação internacionalmente não reconhecida de uma parte do território palestiniano?

5. É um segredo cada vez mais mal guardado como o reconhece o New York Times: há mais de um ano que o exército e os serviços secretos conheciam os planos do Hamas para o ataque de 7 de outubro. Porque nada fizeram para o contrariar só permite conjeturar sobre os mais equívocos motivos, que os terão condicionado...

6. O doido oportunista, que ganhou as eleições presidenciais na Argentina já começou a sentir o banho de realidade. E, depois das mais despudoradas promessas, ei-lo de mão dada com a direita tradicional, aquela que provocou boa parte da crise e levou tantos crédulos a darem-lhe o voto.

A exemplo do sucedido com outro antecessor meio-estarola - Carlos Menem - o mandato de Javier Milei será um caso de estudo interessante antes de tornar-se numa irrelevante nota de rodapé nos livros de História da América Latina.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

O Pedro Nuno Santos que não se cuide...

 

Daqui a quatro meses e meio, quando a poeira assentar e a direita lamba as feridas de uma clamorosa derrota, que as sondagens não pressagiavam, com Luís Montenegro anunciar um Congresso para dar lugar ao sucessor, que quiser encabeçar uma oposição de mãos cada vez mais dadas às extremas-direitas, será bom que Pedro Nuno Santos tenha presente a lição, que António Costa não colheu com o sucedido nestas últimas décadas: parece existir no Ministério Público quem, logo no dia seguinte a qualquer vitória eleitoral socialista, inicie o necessário para o vir a derrubar a médio ou longo prazo.

Sabemos agora que António Costa, João Galamba, Fernando Medina e outros governantes socialistas - a que se juntam diversos autarcas da mesma área! - andam a ter devassadas as conversas telefónicas há muito tempo para nelas apurar indícios inexistentes de algo de irregular no desempenho das suas funções. Em desespero de causa, e como alternativa remanescente, os procuradores despejam para os tabloides as suspeitas, que se ficam pela aparência, nunca pela realidade factual, atirando assim a lama de que se aproveitam as vozes fachopopulistas.

 Não admira que, por isso mesmo, esta e a anterior procuradora geral da República se queixassem amiúde da falta de meios: pudera, com tanto dinheiro atirado para a rua em investigações que, só numa ínfima parte, dão sumo suficiente para estampar nessas falaciosas manchetes, não admira que se queira mais para multiplicar o número dos ouvidos coscuvilheiros.

Daí que não seria mal lembrado que a procuradora-geral adjunta Maria José Fernandes, agora sujeita a processo interno para pronto silenciamento, abraçasse a pasta da Justiça no futuro executivo: é que ela conhece bem demais os podres dos pares e a dimensão da profilática vassourada, que pudesse tornar o Ministério Público numa coisa bem mais asseada.

Acaso imite Costa na inação quanto a este poder paralelo, que pretende ser hegemónico na política nacional, Pedro Nuno Santos depressa se arrisca a sentar-se no banco dos réus, mesmo que por alegações depois demonstradas como mais do que insuficientes para o levarem a tribunal. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Moderadamente otimista me confesso

 

Faltam três meses e meio para as eleições e, apesar de termos a experiência de quem perdeu eleições (João Soares, Fernando Medina) por estar demasiado convicto de serem “favas contadas”, estou moderadamente otimista quanto a uma nova vitória das esquerdas no dia 10 de março.

Em primeiro lugar, porque Pedro Nuno Santos é de facto um excelente candidato, bom tribuno no palanque dos discursos, capaz de unir o PS em torno do seu programa e com justificada reputação de ser capaz de fazer, sem encontrar pretexto em estudos e mais estudos para procrastinar decisões.

Depois porque, neste sábado, Luis Montenegro confirmou ser aquilo que dele já há muito sabíamos: um troca-tintas capaz de prometer mundos e fundos a quem por ele e seus comparsas foi duramente prejudicado há uma dúzia de anos, julgando que a memória é curta e esqueça o que então defendeu. Ademais, toda aquela gente, incluindo Cavaco e Ferreira Leite, comportou um cheiro a mofo demonstrativo de quão cadaveroso anda o microcosmos laranja, ciente de nada lhe valer o finado CDS e vendo a Iniciativa Liberal pôr-se a milhas para, na derrota eleitoral, surgir-lhe como alternativa modernaça, mesmo que ainda exígua. Quanto ao Chega teremos a sinistra criatura a inchar o peito como sapo ainda minúsculo, mas ainda a sonhar com a possibilidade de crescer à dimensão de um pujante vitelo.

Aprendam as esquerdas as lições da Geringonça e saibam frutificá-las em algo de higiénico. Mormente tenham em atenção o que, há um par de semanas, escrevia na «Visão» um professor do ISEG (Carlos Farinha Rodrigues): “A pobreza não é um problema dos pobres, é um problema de todos nós”. É que, como se viu agora na Argentina, há muitos pobres a votarem nos seus inimigos, julgando-os capazes de lhes trazerem a esperança, que os amigos políticos foram incapazes de lhes alimentarem.

O combate à putrefacta fação fascizóide da Assembleia da República, consegue-se com melhor qualidade de vida, garantindo soluções expeditas para os problemas na saúde, na educação e na habitação, contra os interesses de quem delas quer fazer gananciosos negócios. E isso só com politicas decisivamente progressistas se conseguirá!

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

É Carneiro quem dá sobejas razões para nele não votar!

 

1. Há muito que intuí ser incontornável o apoio a Pedro Nuno Santos, quando a questão da sucessão de António Costa se pusesse e o Partido Socialista se visse entre duas escolhas ideológicas antagónicas em relação à experiência da Geringonça. Enquanto apoiante desta última, nas suas muitas virtualidades e limitadas ambiguidades, não equacionei sequer que fosse outra a minha decisão de militante com quotas em dia.

Não esperava, porém, que o antagonista de Pedro Nuno Santos tornasse tão fácil essa ratificada intenção. Ao ouvi-lo não é a direita, que surge como seu mais óbvio adversário: pelo contrário até se dispõe a apoiar um eventual governo minoritário do PSD a pretexto de poupar aos eleitores a inserção do Chega na lógica do poder executivo. E demonizando o Bloco e o PCP como se correspondessem no outro extremo ao que André Ventura significa para a direita. Como escreve Carmo Afonso na crónica da última página do Público de hoje “José Luís Carneiro prefere apoiar e, mais do que isso, fomentar, o preconceito ignorante e por vezes mal-intencionado contra a esquerda. Não se esperaria que um candidato ao maior partido deste espectro içasse tal bandeira. A mensagem política que passa é: antes um entendimento à direita que um entendimento à esquerda.”

Resta pois combatê-lo como tratando-se de uma opção indesejável para o que deve ser o PS: um partido verdadeiramente socialista e não uma mera muleta da direita!

2. No mesmo jornal é interessante ler a análise de Ricardo Paes Mamede sobre o quanto interessa ao país a criação do famigerado centro de dados em Sines, reconhecendo tratar-se de negócio promissor para os fundos de investimentos que comandam o seu núcleo acionista, mas estará longe de criar os postos de trabalho prometidos para a região tendo em conta muitos deles virem a ser ocupados por nómadas digitais, que nem sequer viverão em Portugal. Daí o seu sábio veredito: “Com base no que se sabe, o grande centro de dados de Sines parece longe de constituir uma aposta decisiva para o nosso futuro comum. Ainda menos um motivo que justifique um envolvimento atípico das autoridades na sua promoção.”

3. Continua a confirmar-se o lastimável desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa na crise agora despoletada pela recente investigação de alguns procuradores da República.  Agora até é desmentida a sua afirmação quanto a ter sido o primeiro-ministro a sugerir-lhe a reunião com Lucília Gago.

Dias depois de ter forçado Mário Centeno a desdizer-se a propósito do que terá feito nos dias subsequentes ao pedido de demissão do primeiro-ministro, seria legítimo exigir a Marcelo, que também viesse corrigir as suas alegações mentirosas. Mas desconfio que teremos de esperar sentados ...