terça-feira, 30 de novembro de 2021

Coletes de forças de prevenção p.f.

 

Há quem no twitter se admire - mui justamente - por alguém ter dito um incrível chorrilho de disparates no passado fim-de-semana e, em vez de uma equipa de urgências a enfiar-lhe um colete de forças e a interná-lo como louco furioso, várias televisões terem-lhe dado tempo de antena como se alguma coisa do que saiu daquela boca fizesse algum sentido.

Parece que, um destes dias, o mesmo alienado mental vai apresentar aos seus a lista com os que quer ungir como putativos deputados. Porque néscios arrivistas existem demasiados por aquelas bandas há a expetativa de vê-los engalfinhados em tais desmandos, que melhor será precaver os equipamentos capazes de lhes conterem as fúrias.

Aqui exprimo (uma vez mais!) a veemente indignação!

 

Nunca eximi Marcelo nem Guterres da comum responsabilidade pelo número de mulheres mortas ou estropiadas durante o período em que conseguiram impossibilitar a legalizada interrupção voluntária da gravidez obrigando-as a recorrer às sórdidas condições em que se praticava o aborto clandestino.

Porque Marcelo nada muda quanto ao seu larvar despotismo vetou agora a nova legislação sobre a eutanásia, que merecera sólido apoio da maioria dos deputados da Assembleia da República. Razão mais do que justificada para Pedro Filipe Soares classificar de cínica essa atitude. Sem dizer tudo quanto essa atitude justifica: Marcelo torna-se, uma vez mais no culpado do sofrimento de muitas pessoas, que desejariam ver abreviado o desiderato do processo degenerativo em que se veem. Por preconceito  e sem respeitar quem maioritariamente acredita legítima a vontade de cada um dispor do seu corpo conforme lhe aprouver sem que mais ninguém tenha que impor-lhe aquilo em que não acredita.

Se a legislação em causa ainda não contempla tudo quanto desejaria ver nela consagrada era um avanço em relação ao que hoje é a triste realidade de quem se impacienta em não ver satisfeita essa aspiração.  A decisão presidencial só pode suscitar a mais veemente indignação...

domingo, 28 de novembro de 2021

Resolvidos os jogos florais nas direitas, persiste a pandemia

 

Esclarecidas as dúvidas é um PSD dividido a meio que está diante das legislativas daqui a dois meses. Com o passismo a falhar mais uma reconquista do partido, mesmo apesar do envolvimento de todas as suas marionetas no aparelho? Decerto. Mas com Rui Rio a adquirir algum suplemento de alma por arrogar-se do mérito de se revelar um justiceiro David capaz de acertar no Golias com uma débil funda.

Para eleitores, que gostem de heróis improváveis, Rio pode neles encontrar algum ascendente e garantir uma derrota menos humilhante do que algumas sondagens prenunciavam se fosse o adversário a marcar presença a 30 de janeiro. Para António Costa fica a possibilidade de ter interlocutor menos dado a desvarios do que pressuporia a alternativa. Mesmo que, em contraponto, a maioria reforçada tenda a não ser absoluta.

Catarina Martins poderá, por seu lado, sentir-se confortada com a probabilidade de vir à boca de cena a dizer que sempre tivera razão quanto à tentação socialista pelo bloco central. Mais acomodada à liderança de um partido de protesto do que a assumir responsabilidades governativas, voltará à posição de conforto de continuar a ser quem o seu papa Louçã quer que seja!

Por seu lado Viseu consagrou a versão MRPP das direitas. Qual Arnaldo de Matos, que segregava os menos entusiastas com a sua liderança enquanto representantes de uma qualquer «linha negra», o Ventura ganhou novos poderes podendo afastar ou expulsar, quem lhe apetecer. Esperemos para ver quando chegará o momento de faltar gente a quem apodar de «ratos», e ser ele a expulsar-se a si mesmo.

E. no meio disto tudo, há a pandemia a não dar tréguas, agora sob a forma de uma variante capaz de dar razão aos que apostavam na vacinação intensa nos países mais pobres como forma de poupar aos mais ricos os seus dilemas existenciais. Sem que, igualmente, estranhemos o que constatam os médicos: nos hospitais, e sobretudo nos seus Cuidados Intensivos, onde contam-se em maioria os que se tinham constituído em negacionistas das vantagens da elementar precaução. 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Comédias de enganos e de ilusões

 

Eis-nos num fim-de-semana adequado a perdermos algum tempo em que descansemos das coisas sérias e, mastigando umas pipocas e bebendo uma coca-cola (uma francesa que conhecemos costumava usá-la para desentupir canos!), assistamos  brevemente a uma daquelas comédias em que uns quantos bufões competem pela capacidade em ostentarem as mais grotescas facécias.

No principal partido da oposição par(a)lamentar agitam-se dois antigos compinchas, que tudo une nas ideias - os costumados cortes nos rendimentos de quase todos e as poupanças nos impostos para os prendados com as antigas e as potenciais novas privatizações! - mas separam-nos o estilo, mais contido e austero um, mais agitado, senão mesmo amaneirado, o outro.

Em Viseu o bruxo mau do nosso cantinho ocidental olhar-se-á uma vez mais ao espelho e perguntará: existe alguém mais poltrão do que eu? Pelo menos oitenta dos quinhentos convivas acham que sim e, acusando-o de já bem conhecidas vilanias, intentam cortar-lhe as débeis asas. Razão para que o candidato a Ícaro  os apode de ratos e lhes enderece uns quantos tanglomanglos viperinos.

E há esse inenarrável Chicão, que propõe quinze compromissos aos eleitores, mas vai ficando, dia-a-dia, de pio cada vez mais reduzido ao vê-los distanciarem-se dando-lhe a sentir-se tíbia voz, que clama do seu deserto de ideias, apenas polvilhado pelos muitos preconceitos.

Toda essa gente de nenhumas virtudes e imensíssimos pecados conseguiu encontrar-se conjunturalmente no sempre moribundo governo regional açoriano. Ou na titubeante gestão municipal lisboeta onde um tardio nerd julgou-se druida capaz de inventar poção mágica afinal revelada em ruim placebo.

Comédia, que não chega a ser trágica, assemelha-se àquelas fitas sem graça em que os protagonistas tudo fazem para se fazerem de engraçados. As direitas continuarão a suspirar pelo denso nevoeiro donde possa emergir um Sebastião, que a venha tirar da irrelevância.

Comidas as pipocas e bebida a água suja do imperialismo poderemos sair do breve descanso onde quase nos teremos estado tentados a adormecer e levantar-nos-emos para cuidar do que realmente é importante: garantir a governação à esquerda mais ou menos alargada e abrangente, mas sobretudo reforçada, de que o país precisa. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Cada tiro, cada melro

 

Não fosse o enviesamento da justiça, que tende a absolver patrões e políticos de direita com o mesmo denodo com que persegue os de esquerda, e seriam mais frequentes as comparências daqueles putativos réus perante os coletivos de juízes. Porque a corrupção existe e alimenta-se de quem vive à conta das bem guarnecidas agendas de contactos, sejam advogados mais ou menos mediáticos, sejam «consultores» saídos das bancadas parlamentares ou de secretarias de Estado para se abalançarem a proveitosas carreiras de free lancers vinculados simultaneamente a vários patrões. E essa tem sido a cultura dominante no partido que vai a votos por estes dia com dois candidatos a enfrentarem-se numas diretas, que lembram a velha opção entre a lepra ou a peste.

De vez em quando vem a lume mais um daqueles casos que andavam escondidos, mas a que o Ministério Público só deitou mão, porque o juiz do caso do licenciamento do Hospital de Valongo não se contentou em ilibar de culpas o antigo deputado do PSD Agostinho Branquinho como aproveitou para zurzir nos meios de prova apresentados pela acusação. Tanto bastou para que os despeitados procuradores voltassem à carga com as provas até então sonegadas, e porventura “esquecidas” ad eternum não fosse o orgulho ferido pelas palavras duras de quem produzira o acórdão de absolvição. E eis que se sabe agora de uma conta bancária na Suíça, aberta em 2012, pelo político laranja e que chegou a ter 900 mil euros, que poderiam ser também movimentados por outra D. Constança deste tipo de festanças: Marco António Costa. E ela aparecia conectada a outras contas em paraísos fiscais cujo rasto se conhece, mas não tanto a sua dimensão e, muito provavelmente alimentadas por quem pagara pelos bons ofícios para garantir a obra daquele hospital.

Branquinho, que tivera batismo político no MRPP, a exemplo de Durão Barroso, ganharia depois destaque numa Comissão Parlamentar onde se questionava sobre o que era a Ongoing e logo depois para ela iria trabalhar no Brasil.  Agora, vinculado a uma bem sucedida carreira de administrador na área privada da saúde, Branquinho é só um exemplo de como tudo quanto com ele se relaciona vai parar a negócios singulares. E o mesmo se poderia dizer com outros parceiros políticos, sobre os quais se adivinham potencialmente certeiros os tiros nuns quantos melros. Conquanto a eles se apontem.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Futebolices, mitomanias e outros desfasamentos

 

1. O poeta António Osório, falecido na semana passada, chegou a escrever um ensaio sobre o futebol, que apreciava enquanto espetáculo desportivo, mas o desgostava por tudo quanto a ele se associava, enquanto hábil manipulação de quem deveria preocupar-se mais com a defesa dos seus direitos e menos com as vicissitudes de casos ocorridos dentro do campo ou fora dele. A verdade é que já não estamos a falar de um desporto, mas de uma “indústria” gerida por gente corrupta e sem qualidades, porém promovida a uma importância, que nunca deveria recolher. Olhando para a generalidade dos dirigentes e agentes desportivos não sobram dúvidas quanto ao seu exclusivo interesse em se servirem dos clubes para satisfazerem os seus interesses pessoais, muitos deles acobertados pelos paraísos fiscais e outras manigâncias, que nos devem indignar.

Pela parte que me toca há muito tempo, que não perco um minuto  de atenção num qualquer jogo de futebol, seja ao vivo, seja via televisão. Porque tudo aquilo cheira a coisa muito pouco limpa.

2. Do coio em que se esconde João Rendeiro garantiu equívocas audiências à novel CNN Portugal (mas com indisfarçável cheiro a mofo por aparentar à mudança das moscas, mas tudo ficar na mesma!) ao anunciar uma ação contra o Estado português pedindo trinta milhões de euros de indemnização. Megalómano, próximo da mais exacerbada mitomania, ele é só mais um dos «génios», em tempos promovidos pela imprensa económica, que acabaram, mais tarde ou mais cedo, desmascarados quanto aos seus efetivos talentos e até a contas com casos de justiça.

3. Flop crescente também o de Mário Nogueira  e da sua federação sindical, que decretou a greve às horas extraordinárias nas escolas e ninguém cumpriu logo no primeiro dia. Ligando esse facto aos discursos de Jerónimo de Sousa por estes dias comprova-se que os comunistas andam com um inquietante desfasamento em relação á realidade. E que bem fariam em seguir os conselhos de Manuel Loff quando, no «Público», escreve sobre a ascensão das extremas-direitas em França ou no Chile, que justificam aprofundada reflexão.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Em vez de messias outros (falsos) profetas se chegam à frente

 

Não deixa de ser óbvia a metáfora que o Tavares da última página do «Público» hoje ali afixa, dando Rio e Rangel como réplicas de São João Batista a anunciarem a chegada do verdadeiro Messias à liderança do PSD. Quando será não sabe, mas pode-se sempre pensar que poderão ser tantos quantos os que os ortodoxos judeus têm andado a esperar com uma paciência que vai muito para além da de quantos, na peça de Beckett,  aguardavam por Godot. O que apraz registar na prosa daquele militante saudosista do passismo é não ter pejo em reconhecer, mesmo que implicitamente, o que qualquer eleitor das direitas menos extremas ponderará na altura do voto: entre apostar em quem não tem futuro à frente do partido e a continuidade do desenvolvimento dos últimos anos assegurada por um governo, que até possa não condizer com os seus conceitos políticos, talvez seja para este lado que se incline. Pelo menos façamos votos para que assim seja!

Por ora mantem-se a demonstração da imprudência (para não dizer pior!) dos que precipitaram o chumbo do orçamento, que corresponderia sempre a um bem menor do que o por eles pretendido: perante a presente quinta vaga da pandemia o governo precisaria de contar com menos constrangimentos constitucionais, tendo de a eles se ater para definir o que possa ser decidido no sentido de conter a regressada ameaça. Até porque há por aí muita gente sem o conveniente juízo na cabeça: que o diga Graça Freitas indignada com o facto de ter visto os espetadores do jogo de futebol entre Portugal e a Sérvia sem o uso da conveniente máscara. O desastre em campo poderá replicar-se naquele que acometerá muita daquela gente levando-a a entupir as urgências dos hospitais. E não é que já não escasseiem motivos para temer pela sua saúde: o Relatório da Agência Europeia do Ambiente aí está a demonstrá-lo mostrando como a poluição por partículas finas terá estado na origem de, pelo menos, 307 mil mortes em cidadãos europeus em 2019. Sendo seis mil deles nossos compatriotas... 

domingo, 14 de novembro de 2021

Palpos de aranha e argumentos glosados até à náusea

 

Ouvindo-se Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins o argumento é sempre o mesmo: em vez de apontarem baterias às direitas, que deveriam ser o seu principal adversário, fazem do Partido Socialista o alvo prioritário repetindo até à náusea o inalterado argumento, que não vejo como poderá ser suportável até às vésperas das eleições.

Em boa consciência não acredito que comunistas e bloquistas quisessem mesmo eleições nesta altura e assim o demonstraram Domingos Abrantes e Francisco Louçã na reunião do Conselho de Estado. Mas temiam que o PS chegasse às eleições de 2023 com argumentos bastantes para - via sucessos de implementação do PRR - alcançar a maioria absoluta remetendo-os à irrelevância a partir daí. Qual jogador de poker, que tem cartas pífias, mas quer sugerir uma das mais valorosas mãos,  tentaram ganhar ascendente em batalhas, que lhes servissem de bandeiras: uns com um salário mínimo, que poria os patrões das PME’s a ferro-e-fogo, os outros com a exclusividade dos profissionais do SNS e os contratos sem termo para os precários.

Julgavam uns e outros que não podendo dispensar a oportunidade de colher os dividendos políticos dos investimentos do PRR, António Costa cederia em toda a linha e afastar-se-ia do guião das contas certas, que sempre foi o seu desde 2015. No fim-de-semana anterior à votação ficaram, subitamente, sozinhos à mesa das negociações onde se entendiam capazes de vergar o outro lado. Porque os socialistas terão percebido que a repetição dos ex-parceiros ao lado das direitas iria pesar-lhes significativamente no desfavor do eleitorado. Porventura facilitando a tal maioria reforçada, que Costa logo pediu na ocasião.

Lamente-se que uns e outros tenham facilitado a afirmação do Chega como fenómeno político, que vem para ficar, mas a prova de fogo da realidade na próxima legislatura demonstrará o quão medíocre é Ventura quando acossado no seu labirinto. Por ora fica a curiosidade de aferir como Jerónimo e Catarina conseguirão superar o seu próprio enleio: o de não terem argumentos alternativos ao atualmente glosado até à náusea para justificarem os palpos de aranha em que se veem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Conflito de gerações à vista

 

Será que a luta de classes, que serviu de dinâmica à História do Mundo tal qual Marx e Engels nos ensinaram, ver-se-á complementada pela que Mao lançou durante a Revolução Cultural chinesa e pôs os novos contra os velhos? Nesse período os jovens Guardas Vermelhos eram o trágico exemplo de como a ignorância e a falta de experiência os fazia manipuláveis por quem os usava para vencer as disputas cortesãs dentro da Cidade Proibida. Mas, agora, vemos os velhos - muitos deles, pelo menos! - a corresponderem a essas juvenis características, que os leva a acreditarem em teorias da conspiração e a recusarem-se a serem vacinados.

Greta Thunberg e quem ela mobiliza demonstram uma sapiência, que prescinde da experiência, porque fundamentada no que demonstram os muitos estudos científicos. Por isso mesmo enquanto uns tomam Trumps ou Venturas como gente venerável, os outros sabem que não terão mais futuro, quando este se anunciar acabado para quantos continuam a defender uma civilização baseada no carvão e nos motores de combustão interna.

Atualmente discutem-se as medidas para que a Terra não ganhe mais do que 1,5º de temperatura. E porque 70% dela é feita de água, isso significa mais vapor na atmosfera a aumentar a energia de furacões e outros fenómenos extremos todos eles relacionados com ela exagerar nuns lados e faltar em demasia noutros.

A entregar os governos futuros a homens velhos, ligados aos interesses da indústria do petróleo e dos fundos especulativos, caminhamos para o apocalipse. Substituir esses provedores dos interesses dos oligarcas  - o grande capital no dizer do nosso vetusto PC - por quem conjugue melhor distribuição de rendimentos com práticas produtivas sustentáveis é  a alternativa. Que exige rápida extrema-unção para este capitalismo que garantiu bem estar para muitos durante algumas gloriosas décadas, mas só o possibilitará a muito poucos se teimar em sobreviver aos seus muitos anunciados dobres de finados. Até por uma questão de bom senso, outro futuro tem de se revelar possível...