quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Cada tiro, cada melro

 

Não fosse o enviesamento da justiça, que tende a absolver patrões e políticos de direita com o mesmo denodo com que persegue os de esquerda, e seriam mais frequentes as comparências daqueles putativos réus perante os coletivos de juízes. Porque a corrupção existe e alimenta-se de quem vive à conta das bem guarnecidas agendas de contactos, sejam advogados mais ou menos mediáticos, sejam «consultores» saídos das bancadas parlamentares ou de secretarias de Estado para se abalançarem a proveitosas carreiras de free lancers vinculados simultaneamente a vários patrões. E essa tem sido a cultura dominante no partido que vai a votos por estes dia com dois candidatos a enfrentarem-se numas diretas, que lembram a velha opção entre a lepra ou a peste.

De vez em quando vem a lume mais um daqueles casos que andavam escondidos, mas a que o Ministério Público só deitou mão, porque o juiz do caso do licenciamento do Hospital de Valongo não se contentou em ilibar de culpas o antigo deputado do PSD Agostinho Branquinho como aproveitou para zurzir nos meios de prova apresentados pela acusação. Tanto bastou para que os despeitados procuradores voltassem à carga com as provas até então sonegadas, e porventura “esquecidas” ad eternum não fosse o orgulho ferido pelas palavras duras de quem produzira o acórdão de absolvição. E eis que se sabe agora de uma conta bancária na Suíça, aberta em 2012, pelo político laranja e que chegou a ter 900 mil euros, que poderiam ser também movimentados por outra D. Constança deste tipo de festanças: Marco António Costa. E ela aparecia conectada a outras contas em paraísos fiscais cujo rasto se conhece, mas não tanto a sua dimensão e, muito provavelmente alimentadas por quem pagara pelos bons ofícios para garantir a obra daquele hospital.

Branquinho, que tivera batismo político no MRPP, a exemplo de Durão Barroso, ganharia depois destaque numa Comissão Parlamentar onde se questionava sobre o que era a Ongoing e logo depois para ela iria trabalhar no Brasil.  Agora, vinculado a uma bem sucedida carreira de administrador na área privada da saúde, Branquinho é só um exemplo de como tudo quanto com ele se relaciona vai parar a negócios singulares. E o mesmo se poderia dizer com outros parceiros políticos, sobre os quais se adivinham potencialmente certeiros os tiros nuns quantos melros. Conquanto a eles se apontem.

2 comentários:

  1. Conheci politicamente , Agostinho Branquinho , na Assembleia Municipal do Porto - no primeiro mandato de Rui Rio - e já então , para além duma vaidade que o tornava um pedante , dava sinais de ir ter progresso no " laranjal "; nesse tempo ainda não tinha Dr. e desde então , e a distancia sempre que dele tive noticias pensava comigo mesmo " confirmam-se os indícios " só nunca soube onde e como passou a ter Dr; enfim mistérios ....

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  2. "onde e como passou a ter Dr."
    Há muitos "encanudados" assim, caro egr.
    Conheço um, que tendo conta num banco se fazia passar por doutor, enquanto que na conta de outro banco já era arquiteto.
    Nem o décimo segundo tinha.

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