quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Israel está a perder na guerra da propaganda

 

Que a guerra contra a população de Gaza não está a surtir os efeitos desejados, embora já se traduza num genocídio de milhares de vítimas, sente-se no desespero do governo protofascista de Netanyahu, que não se coíbe de exigir a demissão de alguém com a estatura moral de António Guterres. Apenas, porque como qualquer observador sensato do que se está a passar o secretário-geral das Nações Unidas lembrou que os atos bárbaros do Hamas “não surgiram do nada” e têm merecido como resposta a continuada e clara violação da lei humanitária internacional.

No fundo, porque terão sentido as costas quentes, que Biden e outros poltrões ocidentais (de Van der Layen a Macron passando por Sunak) lhes foram prestimosamente massajar, os sionistas não têm poupado nos esforços de propaganda: distribuíram imagens do rocket, que teria causado um morticínio num hospital sem repararem que a hora afixada nessas imagens não coincidia com a do efetivo bombardeamento; divulgaram uma conversa entre dois “palestinianos” a eximi-los de culpas, mas poucos terão acreditado na veracidade da origem desse suposto mea culpa palestiniano; e, cereja em cima do bolo, divulgaram as imagens das câmaras alegadamente trazidas pelos criminosos dos atos de 7 de outubro, mas só uma ínfima quantidade de “jornalistas” terá aceite ser veículo de transmissão dessa propaganda enfatizando o horror em si causado.

Pelo contrário boa parte da comunidade internacional critica a brutalidade do cerco a ~mais de dois milhões de pessoas, privadas dos recursos básicos para poderem sobreviver, incluindo os que permitiriam salvar vidas nos hospitais. O paralelismo com a estratégia nazi de esmagar o gueto de Varsóvia é evidente e não se pode deixar de lamentar que os alegados descendentes das vítimas de então não enjeitam replicar o crime dos seus algozes.

Se as vítimas do Hamas merecem a nossa compaixão, não menos deveremos ter idêntica atitude para com as dos indiscriminados bombardeamentos israelitas. E as provocações para que do Líbano ou do Irão venham respostas, que ainda mais aticem o conflito, poderão não bastar para aquilo que já é uma evidência: na dimensão das manifestações a ocorrerem um pouco por  todo o planeta não subsistem dúvidas sobre quem mais merece apoio nesta altura: esse povo palestiniano privado do Estado, que a ONU consagrou como legítimo e que o agressor de hoje (e dos últimos 75 anos!) ignorou apesar de dezenas de resoluções, que instariam a respeitá-las.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Chuva em casa degradada e os conluios com o sionismo

 

1. No «Público» de hoje, Ricardo Paes Mamede questiona o conceito de “contas certas” e dá uma perspetiva curiosa de como vê a estratégia orçamental do governo:  é como uma pessoa a quem chove em casa mas não faz obras. Chamar a isto ‘contas certas’ é um pouco absurdo”.

Confesso que não tenho ainda uma opinião definitiva sobre o assunto, sobretudo por não ignorar as vantagens de ver o país bem classificado pelas agências de rating internacionais, por mais que as saiba meras ferramentas dos interesses capitalistas, mas a forma como estão a saúde, o ensino ou a habitação, tornam pertinentes as palavras do professor do ISCTE.

2. Paddy Cosgrove nunca me despertou simpatia e pouco me interessei pelos eventos por ele organizados em Lisboa nos últimos anos. Confesso até que a memória se cinge aos desempenhos patéticos de Marcelo, quando neles discursou. Mas sabê-lo vítima da coligação entre o regime sionista e as grandes multinacionais das novas tecnologias de informação por ter dito umas suaves palavras  - “Os crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados.” - não deixa de justificar a apreensão por vernos o mundo tão virado do avesso que todo o ocidente parece consensualizar-se numa intransigente defesa dos crimes horrendos que Israel tem cometido contra os palestinianos nos últimos 75 anos, e agora subalternizados pelos cometidos pelo Hamas no dia 7 de outubro.

É aliás um professor israelita de direito internacional, Neve Gordon, que constata o óbvio: "Em vez de pedir o fim da violência, a Europa empurra Israel para continuar".

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Os palestinianos não podem defender-se?

 

A pergunta de Daniel Oliveira tem plena razão: se ninguém põe em causa o direito a defender-se não terão os palestinianos a mesma legitimidade em lutar pelo cumprimento das Resoluções da ONU, que lhe reconheceram o direito a existir como Estado e garantir a qualidade de vida dos seus cidadãos?

Dirão os fanáticos do apoio a Israel - entre os quais se conta o nosso lamentável ministro Cravinho! - que a ação do Hamas no dia 7 retira caução moral a essa luta. Embora alguns de entre eles ainda vão timidamente reconhecendo que os terroristas, que se filmaram abundantemente nesse progrom para garantirem este caos potencial, não representam em si todo o povo de que se dizem representantes. Espantosamente esses fanáticos apoiantes dos sionistas não conseguem perceber quão emotivamente andam manipulados pela propaganda do antigo twitter e os comentadeiros televisivos, que lhes servem de câmara de eco.

Dando toda a importância aos extremistas dos dois lados a situação não tem como transformar-se num barril de pólvora em vias de explodir num paiol dela recheado.

sábado, 14 de outubro de 2023

Saltos patéticos e sinistros assaltos

 

1. A sondagem do ISCTE, conhecida esta semana, terá desalentado Luis Montenegro, que sabe-se condenado a juntar-se aos que, antes dele, chegaram ao topo do seu partido, mas daí não divisaram o tal pote tanto por eles almejado. E mergulharam no esquecimento...

Os saltos patéticos de Moedas para mostrar-se acima do patamar, que os pés no chão lhe proporcionam, muito elucidam como, nas fileiras do principal partido das direitas, já se encomendou o funeral ao anunciado defunto e só se espera pelo momento certo para lhe ministrarem a definitiva extrema-unção.

2. Tem razão Daniel Oliveira, quando verbera o atual jornalismo por continuamente apelar à emoção, eximindo-se de apresentar uma leitura racional dos acontecimentos, que tivesse levado os líderes europeus a agirem de outro modo perante os acontecimentos passados na Ucrânia ou agora presentes em Israel, privando-se de enfileirarem atrás de quem deveria merecer-lhes prudente distanciamento. Porque se em Kiev Zelensky foi iludido com promessas de apressadas adesões à União Europeia e à NATO para as quais o seu país estaria longe de demonstrar merecimento, em Telavive um assassino como Netanyahu - tão terrorista quanto as chefias do Hamas! - vê a comunidade ocidental apoiar-lhe propósitos de massacre, que tanto envenenará o nosso futuro nos anos vindouros.

Em questão de humanidade, tanto é vermelho o sangue dos bebés israelitas assassinados no sábado passado, quanto o dos palestinianos que os bombardeamentos indiscriminados do agressor igualmente matam. Porque, ao contrário do que dizem alguns generais israelitas, os palestinianos não são animais sobre quem têm direitos de matar ou deixar viver.

Infelizmente as televisões multiplicam-se em reportagens pró-sionistas, que reduzem os acontecimentos destes dias a uma versão maniqueísta execrável. E o telejornalismo mergulha na ignominiosa cumplicidade com os assassinos  de ambos os lados, fazendo-lhes o jogo, ateando ainda mais o fogo da guerra...

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Satisfeito q.b. com o OE2024


 

Não é que me saiba a tanto, mas a proposta de Orçamento de Estado para 2024, também não me sabe a pouco, porque contempla, dentro dos possíveis, a tal temperança de que falava Mário Centeno dias atrás, quando expunha os condicionalismos que as circunstâncias externas impõem nesta altura.

Desconhecemos se essa prudência, que orienta o documento dentro da estratégia das “contas certas” bastará para nos colocar debaixo de eficaz chapéu-de-chuva se a tormenta se intensificar, mas reconheça-se-lhe a intenção de evitar o delírio de Durão Barroso que, perante a crise do subprime na segunda metade de 2007, mandou gastar euros a rodos.

Sócrates, que lhe seguiu o conselho, pagou os custos da sua credulidade, enquanto Passos Coelho seria o oportunista de serviço para aproveitar da situação sem qualquer escrúpulo.

Porque todos os simuladores dos vários jornais demonstram que, para pior já basta assim, se o melhor não vier efetivamente ao nosso encontro. E nenhuma das oposições mostra-se credível em dizer-se capaz de fazer melhor. 

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Eu Apoio Pedro Nuno Santos


Gostei do primeiro comentário semanal de Pedro Nuno Santos na SIC Notícias levando-me a reiterar a já consolidada perspetiva de o vir a apoiar como futuro secretário-geral do Partido Socialista a partir de 2026.

Concordo com ele no que disse sobre a necessidade de manter nacionalizada a maioria do capital da TAP como única garantia de manter o seu importante papel na economia portuguesa e na consolidação do hub de Lisboa. Até porque o contributo que a TAP dá ao Estado é muito maior do que os falaciosos três mil milhões de euros, que as direitas agitam como argumento para enganarem os que o querem ser.

Igualmente estou mais do que convencido que a decisão de Pedro Nuno no célebre despacho sobre o novo aeroporto em Alcochete era a mais sensata apesar de desaprovado por António Costa. Porque, sobre o assunto, o PSD continua na habitual estratégia de nem fazer, nem facilitar o trabalho a quem o quer aprovar. Apesar de ser assunto sucessivamente procrastinado há mais de cinquenta anos.

E, enfim, também é meu desejo que a Geringonça volte a ser uma realidade se se confirmarem resultados eleitorais coincidentes com os da sondagem ontem conhecida. Sendo Pedro Nuno um interlocutor bem mais fiável para as demais esquerdas do que o atual primeiro-ministro, que delas se livrou tão só pode. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Às vezes não é fácil defender o governo

 

Às vezes não é fácil defender o partido do governo apesar de ser aquele com que me identifico há quase quatro décadas. Um dos motivos atuais é a TAP por causa da intenção em reprivatizá-la entregando a interesses estrangeiros o que são os bons argumentos para a manter nacionalizada.

Ricardo Paes Mamede cujas ideias sobre economia quase sempre me convencem quanto à sua justeza explica isso mesmo num artigo do «Público», que até os totós mais indigentes da Iniciativa Liberal deveriam compreender:  “O que se perde com a venda da TAP são os dividendos que a companhia poderia dar ao Estado no futuro, mas não só. Passando o controlo da empresa para um grupo internacional, não há como garantir a prazo a manutenção do hub em Lisboa. Com a TAP reduzida a uma extensão de interesses estrangeiros, ficam em causa centenas de milhões de euros anuais em receitas fiscais e contribuições para a Segurança Social, milhares de milhões de euros de exportações e substituição de importações, mais de um milhar de empresas que fornecem a TAP em território nacional e, não menos importante, a conectividade intercontinental do país (em particular com o Brasil, a América do Norte e os PALOP), que é crucial para o turismo e não só.

Nenhum investidor estará disposto a pagar por tudo isto. Para piorar as coisas, o Governo cometeu o erro de anunciar a vontade de fechar o negócio até ao fim do ano, o que joga sempre a favor do comprador. Como mostra a privatização de 2015, a pressa em vender não pode dar bons resultados.”

Outro motivo de insatisfação com este PS tem a ver com o fanático seguidismo do Ministro dos Negócios Estrangeiros João Cravinho em relação ao que lhe mandam dizer os seus titereiros de além-Atlântico. Seja relativamente à Ucrânia, seja agora sobre o conflito entre Israel e o Hamas, o que profere está longe de corresponder ao que pensam muitos, se não mesmo a maioria dos portugueses, que sentem incómodo pela contradição entre a memória histórica do sofrimento do povo judeu durante o Holocausto e as práticas repulsivas, que os atuais sionistas perpetram contra o povo, que já vivia na Palestina, quando lhe impuseram a invasão de quem ali nunca havia posto os pés.  Desde então tem existido uma diferença hipócrita entre o sangue vertido por uns e outros, como se o dos judeus fosse mais merecedor de compaixão que o dos que por eles têm sido continuamente massacrados e humilhados.

E, no entanto, como o afirma Carmo Afonso no mesmo jornal, “as vozes que costumam ficar em silêncio perante as atuações brutais das forças militares israelitas contra palestinianos — situações que se repetem diariamente e que este ano foram particularmente mortais — são as que mais veementemente condenaram os ataques do Hamas e as que manifestaram maior comoção com a brutalidade exercida sobre civis israelitas. Este contraste, entre a insensibilidade ao sofrimento palestiniano e a comoção com o sofrimento israelita, é visível e é notório.”

E, no entanto, tal qual lembra Daniel Oliveira no «Expresso» não sobram dúvidas de, tal como a Al Qaeda foi uma criação norte-americana, também o Hamas resultou da ideia israelita de sabotar a esquerda palestiniana nos tempos de Arafat: “O papel de Israel no nascimento do Hamas está mais do que documentado. O general Yitzhak Segev, governador militar em Gaza no início dos anos 1980, confirmou que ajudou a financiar o movimento islâmico como um “contrapeso” aos secularistas de esquerda da OLP, com orçamento dado pelo governo israelita. “O Hamas, para meu grande pesar, é uma criação de Israel”, disse, em 2009, Avner Cohen, um ex-funcionário de assuntos religiosos israelita que trabalhou em Gaza mais de duas décadas.”

Por isso mesmo o articulista não tem dúvidas em reconhecer que “o Hamas é necessário às forças israelitas mais radicais, Netanyahu é necessário ao Hamas. O problema é que o monstro criado por Israel pode crescer ainda mais. E, depois de décadas a destruir as lideranças moderadas para levar a Palestina a um beco sem saída, estão os dois juntos na mesma viela.”

E tal como sucede com o conflito entre Putin e Zelenski, mal faz a diplomacia europeia, e a portuguesa em particular, em colar-se a um dos lados do conflito, sem para ambos engrossar o crescente apelo dos que sabem ser o diálogo a resolver duradouramente o que se arrisca a tornar num explosivo e interminável impasse.