quinta-feira, 30 de abril de 2015

De regresso ao campo de batalha...

Nos últimos dias andei estrangeirado pelo melhor dos motivos - fazer de avô a tempo inteiro. Por isso não participei nalgumas iniciativas cívicas, entretanto concretizadas, embora em compensação fosse poupado ao discurso de cavaco silva aos «cidadões».
Regressado a este cantinho ocidental de um continente forçado a austerizar-se por força da cegueira mesquinha de uma caterva de políticos sem  plena noção das consequências  do que pretendem impor, é altura de voltar à ação e, dentro dos limites das minhas capacidades, contribuir para três objetivos perfeitamente tangíveis tão só haja  entusiasmo para os levar por diante:
O primeiro tem a ver com a urgência em conseguir a libertação e completa ilibação de suspeitas de José Sócrates. Por muito que rosário teixeira e carlos alexandre teimem em perdurar a infâmia, terão mais tarde ou mais cedo de ser confrontados com a responsabilidade de uma violação continuada dos direitos do antigo primeiro-ministro à presunção de inocência. Mas se o objetivo era a submissão do poder político ao judicial, como houve quem o arvorasse como estratégia para esta década, a exequibilidade de tal propósito vai-se esfumando à medida que o edifício de suspeições criadas em conluio com os pasquins do costume se vai desmoronando por inconsistência e falta de provas do que pretenderiam demonstrar.
O segundo tem a ver com a necessidade de garantir ao Partido Socialista a maioria absoluta em outubro. Se havia quem duvidasse de tal probabilidade, a forma como a direita ficou em pânico com a apresentação do relatório macroeconómico para os próximos anos só confirma termos entrado numa nova fase deste período pré-campanha oficial com o PS claramente ao ataque e passos e portas a assinarem à pressa um novo contrato matrimonial a ver se ainda conseguem enganar uns incautos, que não associem os bolsos esvaziados com o efeito da desgovernação nestes quatro anos.
E, em terceiro lugar, haverá que tornar irresistível a dinâmica de vitória de António Sampaio da Nóvoa até Belém. Como Carlos do Carmo dissera há uns meses, nós tivemos o tremendo azar de suportar cavaco silva durante vinte anos, ora como primeiro-ministro, ora como presidente da república. Personificando ele tudo o que de mais vil se configurou na vida portuguesa durante os últimos trinta anos: nepotismo, compadrio,  mediocridade e uns quantos mais desqualificativos, que se colam a tão danosa figura pública. Daí a urgência de devolver à função presidencial a dignidade, que ela perdeu com tão nefasto titular.
Vencer essas três batalhas abre espaço para que voltemos a encontrar a tal manhã clara de que Sophia falava a respeito do 25 de abril, mas de concretização sempre adiada. Por isso estarei presente em todas elas para ajudá-las a ganhar a força inexorável dos fluxos que empurram a História para diante...

sábado, 25 de abril de 2015

A Europa à beira do desastre (2)

Thomas Pikety considera que as instituições europeias estão cegas quanto à impossibilidade de se resolverem as dívidas soberanas sem causar problemas sociais de uma gravidade inaudita.
Entre 2008 e 2012 os contribuintes europeus pagaram 591,9 mil milhões de euros para salvar os bancos. Nesse mesmo intervalo a evasão fiscal atingiu anualmente um trilião de euros na União Europeia.
Philippe Legrain considera fundamental quebrar o poder financeiro, limitando a influência que ele  impõe aos responsáveis políticos. Os bancos têm de ser melhor regulados e disciplinados, de forma a que o sistema se simplifique e se torne mais transparente. Mas a crise resultou da prioridade dada pelos decisores políticos europeus à salvaguarda  dos bancos alemães e franceses.
Martin Wolf acredita na necessidade de conferir ao Banco Central Europeu os mesmos poderes que a Reserva Federal Americana e o Banco de Inglaterra já detêm, e aos quais o governo alemão se opõe. Há, porém, algo que muitos alemães já começam a reconhecer: em vez daqueles que acham os concidadãos poupados por só gastarem o que têm, ao contrário dos povos do sul demasiado propensos a viverem a crédito, há os que sabem dever-se a prosperidade alemã  às exportações que, em 57% se destinam ao mercado europeu.
A Alemanha também não teria alcançado a prosperidade atual se não tivesse havido um Plano Marshall para salvar o país da ruína em que ficara no final da Segunda Guerra Mundial. Uma estratégia, que se justificaria hoje repetir sob a forma de eurobonds.
A Europa está a transformar-se num espaço em que ganha dimensão a cólera e as acusações entre os povos que a constituem. Multidões desfilam a exigir o fim do poder dos bancos, mas, noutra vertente bastante mais inquietante, cresce o apoio a partidos de extrema-direita. Na Escandinávia essa involução ganha contornos alarmantes: na Suécia os partidos xenófobos conseguiram 13% nas eleições mais recentes, que lhes garantiram quase meia centena de deputados. Prova de uma crise de identidade, que põe em causa a sociedade aberta anteriormente existente. A emigração deixou de ser vista como a oportunidade para se obter a diversidade cultural, passando a encarar-se-la como ameaça.
Enquanto isso sucede as políticas sociais estão a perder peso nos orçamentos do Estado, com a aposta na educação e na saúde a perderem a importância prioritária, que haviam conhecido.

A Europa está a suicidar-se e a matar os seus valores e uma consequência colateral dessa mudança é o morticínio de milhares de africanos e asiáticos nas águas do Mediterrâneo.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Europa à beira do Desastre (1)

Num futuro próximo a Europa pode assemelhar-se a um cenário de horror. Pelo menos é essa a possibilidade aberta por Annalisa Piras, a realizadora do documentário «The Great European Disaster», que escolhe para o caracterizar a metáfora de um avião cujos lugares são bastante mais apertados, as disfuncionalidades a bordo e em terra quotidianas e em que se sabe que a extrema-direita está no poder da maioria dos países outrora pertencentes à defunta União Europeia. O euro já não existe, os emigrantes oriundos da Ásia e da África são expulsos e já ninguém se lembra do tratado assinado em 1951, quando os criadores do ideal comunitário almejaram e prometeram o início de uma época de grande prosperidade…
Geert Mak, que escreveu «Viagem de um Europeu através do século XX», prevê que “estamos à beira de um desastre colossal” por culpa do setor financeiro. Onde Martin Wolf, do «Finantial Times» prevê que se voltem a repetir crises da dimensão da de 2008.
A tal acontecer o jornalista francês Bernard Guetta considera inevitável um súbito estilhaçamento da União Europeia.
Para que tal não aconteça, Philippe Legrain, autor de «European Spring», confronta a Alemanha com as suas responsabilidades: ou mantém-se cegamente agarrada aos seus interesses egoístas ou contribui para integrar uma Europa mais justa e equitativa.
Na primeira dessas hipóteses será inevitável assistir ao empolamento dos diversos nacionalismos que, segundo Felipe Gonzalez, corresponderão a uma falta de solidariedade coletiva.
A Espanha poderá ser um dos primeiros países a falir já que a exclusão social está à vista de todos um pouco por todo o lado desde a explosão da bolha imobiliária.
O movimento independentista catalão, embora já existente antes da crise, ganhou maior dimensão, mesmo que, a par do escocês, não seja comandado pelos eurocéticos. Bem pelo contrário…
A par dessa realidade surgiu igualmente a dos movimentos de cidadãos, que decidiram empunhar a bandeira da luta contra os despejos de quem já não pode pagar as prestações dos empréstimos contraídos, quando o sonho de possuir casa parecia acessível a milhões de espanhóis. Hoje muitos deles nem sequer conseguem rendimentos mínimos para assegurarem uma sobrevivência digna.
O Podemos e o Syriza ganharam espaço com a consciência de um maior número de cidadãos quanto à necessidade de uma mudança radical, completamente diferente da letargia proposta pelos partidos tradicionais. Para os apoiantes desses movimentos a União Europeia tem de ser bem mais do que um mercado económico para benefício exclusivo dos detentores do capital. Ela deve ser o espaço comum  dos seus cidadãos reencontrados com a tal prosperidade prometida em 1951. 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

E eu repito: que grande sarilho lhes arranjaram!

Ontem escrevi aqui que a direita ficou num grande sarilho. E o dia de hoje confirmou-o, e de que maneira.
Na Assembleia da República o objeto de debate era o Programa elaborado pelo governo para entregar em Bruxelas. “Era” mas “não foi”, porque tão só tinham a oportunidade de tomar a palavra e logo os membros do governo e os deputados da ainda maioria logo se punham a desancar no programa macroeconómico dos economistas convidados pelo PS.
Com argumentos sólidos? Se acredito que as críticas formuladas pelo PCP ou pelo Bloco de Esquerda assentaram numa prévia leitura do documento - mas tinham como preconceitos respetivos a imediata saída do euro ou a renegociação da dívida - as que provieram do CDS ou do PSD não pressupuseram uma atenção mesmo que mínima ao conteúdo em causa.
O guião que traziam ensaiado tinha duas cantilenas donde não conseguiam sair: a primeira “esquecia” o papel determinante da crise financeira internacional na criação da situação muito complicada que o governo de José Sócrates teve de enfrentar a partir de 2008, e atribuía ao antigo primeiro-ministro a culpa pela convocação da troika. Para os desafinados tenores e sopranos desta cantilena nem sequer sobrava uma referência à responsabilidade de passos coelho em derrubar o governo de então para chegar mais rapidamente ao «pote».
A segunda cantilena assemelhava-se ao grasnar de um urubu: se aceitarem que sejam os socialistas a governar eles voltarão a causar a bancarrota e a chamar a troika.
Como referiu, e bem, António Costa numa reação a passos coelho ao fim da tarde, seria asizado que a direita começasse por ler o documento em vez de se ficar pela reação, que preparara há vários dias, mesmo sem conhecer o que iria criticar. E que, face a números estabelecidos com todo o rigor por economistas de grande mérito e reputação, apresentasse os seus próprios números para que pudessem ser confrontados no seu verdadeiro significado.
Mas essa é outra dificuldade que se coloca a esta ensarilhada direita: o PEC de maria luís assenta em números de faz de conta sem qualquer fundamentação, que os suporte. Pode-se imaginar que ela quer tirar 600 milhões de euros aos pensionistas todos os anos para os dar aos patrões à capa da TSU, mas não o diz assim e até é capaz de imitar Paulo, o pecador, renegando três vezes o que está implícito no que elaborou.
Mas convenhamos que essa falta de rigor é aquela a que já nos habituou pires de lima que, com bazófia logo anunciou défices de 2 mil milhões de euros. A forma como o disse dá ideia de ter-se decidido por esse número como poderiam ser 3 ou 4 com o mesmo esforço de análise (que se presume ter sido nenhum). A menos que tenha feito tais contas no animado estado de espírito em que estava no dia das «taxas e taxinhas» na Assembleia e visse alguns números a dobrar ou a triplicar.
Reitero o que ontem aqui concluí: em que grande sarilho está a direita com estes cenários macroeconómicos traçados pelos economistas convidados pelo PS!!! 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Que grande sarilho arranjaram ao PSD e ao CDS/PP!

A apresentação do relatório técnico sobre o cenário macroeconómico português nos próximos anos resultou num enorme sarilho para o PSD e para o CDS/PP. Porque se trata de um trabalho rigoroso e fundamentado da autoria de alguns dos melhores economistas portugueses e ali não só se desmente a tese de não existir alternativa para o prosseguimento da austeridade como abre caminho para uma alternativa bastante mais favorável para todos quantos têm sofrido as penas da cegueira ideológica da direita.
Se os dois parceiros da coligação logo se apressaram a denegrir tal documento selecionaram para o fazer dois advogados - José Matos Correia e Cecília Meireles - que “têm” mesmo o tipo de competências adequadas para analisar e dissertar sobre um documento de natureza económica.
Nesta altura maria luís e os seus acólitos estarão a olhar para aquelas quase cem páginas a interrogarem-se como poderão, face a elas, recuar daquilo com que se tinham comprometido a semana passada: a eliminação da sobretaxa no IRC e dos cortes nos salários dos funcionários públicos só em 2019 e novo desfalque nas pensões dos reformados. E muitos dos joségomesferreiras, camiloslourenços e quejandos terão acrescida dificuldade em continuarem a defender o indefensável…
Até porque a direita e o relatório do PS prometem resultados finais completamente diferentes em 2019 após a aplicação dos respetivos projetos em número de desempregados, em dimensão da dívida e em défice. Com clara vantagem para o que a esquerda se propõe implementar.
A partir de hoje ninguém poderá dizer que não há alternativa ao austericídio destes quatro anos e esse é o primeiro passo para a vitória significativa de António Costa e do Partido Socialista em outubro. Devolvendo aos portugueses o direito à esperança num futuro melhor...

Uma estratificação clara entre ser de esquerda ou de direita

Há um abismo ideológico a separar a forma como a coligação PSD/CDS tem governado e aquela que consubstanciará o programa do Partido Socialista para as próximas eleições.  Por isso mesmo deveremos ser muito assertivos quando, à nossa volta, ouvimos quem continua a garantir que «eles são todos iguais» ou que essa «distinção entre a esquerda e a direita deixou de fazer qualquer sentido».
Compreende-se que esse tipo de ideias feitas aproveite claramente a quem ainda está a aproveitar os últimos cartuchos para dar cabo de tudo quanto for possível nos resquícios de Estado Social, que resistem à sabotagem terrorista destes últimos três anos e meio, mas em nada favorecem os propósitos de mudança associados à candidatura do maior partido da oposição.
Depois de uma longa dominação dos austericidas sobre os que fazem uma leitura política de tudo quanto complexifica a conjuntura atual, é altura destes tomarem a liderança do país e devolveram-no aos valores de igualdade, justiça e solidariedade, que estiveram no ADN da Revolução dos Cravos.

Um vibrante ensaio geral

A Festa da Democracia, que o PS organizou anteontem no Pavilhão Rosa Mota do Porto para comemorar o 42º aniversário do partido, constituiu um excelente ensaio geral para a mobilização dos portugueses em breve chamados a redefinirem o seu futuro nas legislativas de outubro.
Muito embora sobrem por aí muitos urubus a negarem ao PS a possibilidade de alcançar a maioria absoluta, a dinâmica a desenvolver pelos militantes e simpatizantes junto dos demais eleitores, nos próximos seis meses, será determinante para que essas previsões sejam desmentidas.
Para que o sucesso seja efetivo o PS irá falar verdade aos portugueses, não imitando passos coelho ou paulo portas que, em 2011, andaram a prometer amanhãs que cantam a quem neles votasse e o que lhes propiciaram foram muitos desencantos.
Perante milhares de socialistas, António Costa afiançou: “Os nossos compromissos serão isso mesmo: palavra dada é palavra honrada. É isso que faremos no nosso próximo ciclo de governação”. E, mais adiante: “Esse rigor do PS começará já nesta campanha eleitoral, porque ninguém nos verá a fazer o que fez o atual primeiro-ministro [em 2011] em campanha, prometendo que não cortava o que veio a cortar no Governo e prometendo não aumentar o que veio a aumentar no Governo. Nós só assumiremos compromissos perante os portugueses depois de testar a sua capacidade, consistência e sustentabilidade.
Podemos dizer olhos nos olhos aos portugueses que o que nós nos comprometermos a fazer na oposição é o que faremos no Governo. Só temos uma cara, só temos uma palavra.”
O futuro primeiro-ministro de Portugal também não deixou de denunciar a contradição entre os discursos frequentemente autoelogiativos do governo e os que lhe desmascaram, com indicadores reveladores e novas ameaças de austeridade, a fracassada “obra” que deixa: “Há um mês, o Governo dizia que tinha os cofres cheios, e agora o que vem dizer é que, afinal, precisa de nova dose de austeridade, porque os cofres estão cheios de dívidas”.
A tentativa de passos coelho voltar a impor cortes nas pensões dos reformados será um argumento decisivo que muito contribuirá para a dimensão da sua previsível derrota: “Há uma semana, o PSD vinha dizer que queria baixar as contribuições para a Segurança Social e agora, uma semana depois, o que vem dizer é que tem de cortar não nas contribuições, mas nas pensões, porque, afinal, a Segurança Social não tem capacidade para ter cortes, mas tem necessidade de novos cortes nas pensões que pagam aos pensionistas”. Ora, António Costa concluiu que, a tal respeito, “assim não é aceitável. Não é possível continuar a termos um Governo que perdeu o Norte e não sabe o que fazer com o país”. 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Quantos mereceriam ser julgados em Haia?

O terrível cemitério em que está convertido o Mediterrâneo deveria levar os governos europeus a imitar o nosso Marquês do Pombal quanto à importância de enterrar os mortos (pelo menos os que são recolhidos das águas), e, sobretudo, cuidar dos vivos. E, como Rienzi tem exigido, trata-se de tarefa que não incumbe apenas à Itália ou à Grécia como portas mais assediadas da fortaleza europeia, mas a toda a União, onde deveria acabar de vez a lógica exclusivamente financista imposta pelo BCE, pela Comissão e pela maioria dos governos em funções.
Se há vinte anos António Guterres ganhou umas legislativas a lembrar que as pessoas não eram números, essa evidência deveria impor-se a tais fautores de desgraças, que sujeitam milhões de europeus à mais degradante das misérias e não mostram a mínima compaixão por quem tudo apostou para escapar à guerra e à fome nos seus países de origem.
Nos próximos dias estarei em Haia onde está sedeado o Tribunal Penal Internacional, cuja missão é o julgamento de crimes contra a Humanidade. Ora, se nesta altura os facínoras do Daesh ou do Boko Haram estão a revelar-se os campeões do nazismo islâmico  (tal qual bem o designou Umberto Eco na entrevista agora publicada no «Expresso») e deveriam ali já estar detidos, sobram uns quantos governantes atuais bastante merecedores de lhes partilharem a companhia. Como há muito ali deveriam ter comparecido george w. bush, tony blair, aznar ou barroso por terem inventado uma guerra, que se revelou afinal a caixa de pandora donde emergiram os piores dos males atuais.
Prometiam derrubar Saddam Hussein, que até garantia direitos razoáveis às mulheres e respeitava os das minorias religiosas, para impor uma democracia de tipo ocidental um pouco por todo o Médio Oriente embora mantendo as ditaduras da Arábia Saudita, do Koweit, do Barhain ou do Qatar. O resultado está à vista!
Como não aprenderam com o erro, repetiram-no com Kadhafi, que até financiou a campanha presidencial de sarkozy para logo por ele se ver traído logo a seguir! E querem-no prosseguir com a tentativa de derrubar Assad, o único líder laico de uma região dominada por regimes religiosos ou por eles seriamente influenciados.
Agora os que querem aportar à Europa, vista como ilusório paraíso, vêm em grande parte do Iraque, da Síria, da Líbia e da África Central onde o jiadismo também encontrou terreno fértil para se expandir.
Quem originou esse jiadismo foram aqueles quatro meliantes que se reuniram nos Açores para decidirem o que se adivinhava ser um desastre anunciado. Mas se já Reagan criara a Al Qaeda ao financiá-la e armá-la para que combatesse os soviéticos! 
Pode-se bem concluir que já nem se trata de defeito ideológico, mas da cultura criminosa de quem causa tais catástrofes sociais... 

sábado, 18 de abril de 2015

A confissão do impasse de um modelo falhado

No debate de ontem na Assembleia da República toda a esquerda esteve bem a denunciar a teimosia ideológica de passos coelho, que viu fracassadas todas as experiências implementadas nestes quatro anos e insiste em querer prossegui-las. Por isso fez do PEC, agora entregue em Bruxelas, uma antecipação do que serão as suas propostas aos eleitores portugueses para as eleições legislativas do outono.
Ferro Rodrigues realçou o seu carácter de ataque aos que têm arcado com o peso do austericídio: “O programa do Governo, para as eleições e os próximos quatro anos, é um programa de ameaça.  (…) Diz que não aprecia contos de crianças, é uma brincadeira de faz de conta. Faz de conta que o PSD/CDS ganham as eleições, que Passos é primeiro-ministro. Faz de conta que é Cavaco Silva que vai continuar como Presidente da República.”
Jerónimo de Sousa terá sido quem melhor sintetizou a distribuição desigual de sacrifícios, que passos coelho entende serem necessários depois de ter prometido acabar com eles em 2013: “O Governo tem dois pesos e duas medidas”: mantém cortes nos salários e a sobretaxa no IRS até 2019, corta mais 600 milhões de euros na saúde, 400 milhões nos serviços públicos; ao mesmo tempo que baixa 1% todos os anos no IRC e elimina a contribuição extraordinária do sector energético em dois anos”, enumerou o líder comunista.
Por seu lado Catarina Martins demonstrou o carácter leviano de passos coelho ao confrontá-lo com uma questão pertinente a que ele não deu resposta: “O Governo tem debaixo da cartola a descida da TSU para sacar não se sabe quando. Quantos empregos são precisos criar para compensar uma medida da TSU em 2%?”
Mas Catarina Martins trazia as contas feitas: “Exige a criação de 320 mil novos postos de trabalho.” Algo que nem nas mais utópicas previsões se podem considerar como exequíveis!
Mas António Costa cortou cerce qualquer possibilidade de discutir com passos coelho as medidas previstas no PEC, dando um exemplo óbvio: se o Tribunal Constitucional já chumbou um corte de 372 milhões de euros na Segurança Social, terá a direita qualquer ilusão quanto à pretensão de a espoliar em 600 milhões de euros?
António Costa concluiu: “O Plano de Estabilidade e o Plano Nacional de Reformas são a confissão do impasse em que se esgotou este modelo, nada mais propondo que manter cortes de salários e a sobretaxa do IRS até ao final da próxima legislatura e a renovação de novos cortes nas pensões”.
Para contrapor a tal caminho, António Costa aposta na “recuperação dos rendimentos” das famílias, elencando a subida dos salários e pensões da função pública, “a progressão do salário mínimo e o desbloqueamento da contratação coletiva”.
Só podemos lamentar que cavaco silva dê ainda seis meses a passos coelho para causar ainda mais danos sociais do que os já produzidos. Sobretudo por parte de mota soares, que se prepara para que a Segurança Social mande para o desemprego 400 das 950 amas de que dispõe atualmente para cuidar de crianças até três anos ao aprovar um novo regime legal para o exercício da atividade. 

Don’t worry, be happy!

Se se fizesse hoje uma reaferição ao universo consultado pela Eurosondagem para os resultados hoje divulgados pelo «Expresso» será que eles seriam  os mesmos? Tenho dúvidas …
Com os funcionários públicos a perceberem que manteriam os salários cortados até 2019? Com os reformados a terem a confirmação de a direita teimar em lhes levar parte significativa dos rendimentos? Com a generalidade dos que trabalham a serem “convidados” a suportarem a sobretaxa do IRS durante toda a próxima legislatura?
Com a declarada intenção de destruir totalmente a Segurança Social retirando-lhe receitas quer através da redução da TSU dos patrões, quer da redução dos salários, quer da degradação contínua do nº de empregados em Portugal?
Com a confessada intenção de prosseguir as benesses aos mais endinheirados - nomeadamente às empresas de energia! - e retirá-las aos mais desfavorecidos?
É verdade que, por agora, o PS não descola na direção da maioria absoluta, mas estas últimas duas semanas foram aquelas em que os socialistas deram sucessivos tiros nos pés a partir do momento em que Sérgio Sousa Pinto publicou no facebook um texto execrável sobre a candidatura de Sampaio da Nóvoa. E há que contar com a aproximação de momentos culminantes na estratégia de António Costa: a divulgação dos dados macroeconómicos para os próximos anos traçados pelos economistas convidados a colaborarem com  o partido, e  a apresentação do programa eleitoral.
A própria saída de António Costa da Câmara de Lisboa já começa a dar efeitos positivos com as televisões a verem-se obrigadas a cobrir as suas atividades a um ritmo praticamente quotidiano. E ele é dos líderes que vê subir a popularidade nesta mesma sondagem.
Pode igualmente revelar-se perturbadora a falta de notoriedade de António Sampaio da Nóvoa nesta altura. O que só dá razão à decisão de já formalizar a sua candidatura a partir de 29 de abril. Até ao próximo ano espera-o um enorme trabalheira, mas que será provavelmente premiada com a vitória nas presidenciais. É que o maior equívoco em que incorre marcelo rebelo de sousa ao adiar para depois das legislativas a resposta ao seu tabu é necessitar do apoio de um partido derrotado nas legislativas e transformado num saco de gatos.
Se não surgirem novos disparates em gente com responsabilidades no PS, e se soubermos ser pacientes, a dinâmica da vitória construir-se-á com as ações de campanha a organizar até lá e com as sucessivas demonstrações do fiasco da política da direita nestes quatro anos... 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A falta que Mariano Gago nos irá fazer

Acaba de se conhecer a morte de Mariano Gago, o mais competente dos ministros que em democracia geriram as pastas relativas ao Ensino Superior e à Investigação Científica.
Se uma das principais marcas dos governos de António Guterres e de José Sócrates foi a da aposta numa economia avançada, feita de produtos e serviços de ponta, criados pelos jovens em cuja formação superior especializada se investia, muito se deve a esse ministro.
É por isso mesmo que a notícia nos apanha de surpresa, porquanto o novo ciclo político aberto pelas legislativas do outono  promete o reatar desse projeto, que a direita quis entretanto matar. E Mariano Gago, independentemente do maior ou menor protagonismo, que lhe fosse conferido nessa renovada aposta na qualificação e investimento na Ciência e Tecnologia, teria decerto um importante papel a desempenhar. Até porque o governo de passos coelho está a encarregar-se de minar toda a administração pública de forma a dificultar ao novo governo socialista a correção de todos os danos, que produziu.
Um bom exemplo disso, e para ainda nos quedarmos na área da Ciência e Tecnologia, foi a forma como o titular da Fundação respetiva - esse miguel seabra de má memória, que avalizou e cumpriu os cortes decididos por maria luís albuquerque nos Institutos dedicados à Investigação Científica -  se demitiu oito meses antes de concluir o mandato de três anos de forma a permitir a passos coelho a nomeação de uma nova responsável, que tratará de criar obstáculos às orientações do novo governo nesse setor estruturante da nossa economia.
Outro exemplo eloquente da tentativa da direita em sabotar as políticas, que se irão definir a partir de outubro tem a ver com a área da Proteção de Crianças e Jovens, atualmente muito em destaque pelo assassinato de algumas crianças.
Em vez de corrigir o erro de ter mandado para a “requalificação” muitas dezenas de técnicos, que acompanhavam as “famílias em risco”, mota soares anunciou um subsídio anual de 116 mil euros para  que sejam as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) a tratar de tais situações.
Essa teimosia em reduzir ao máximo o papel do Estado, subsidiando organizações caritativas e de cunho ideológico maioritariamente direitista para que sejam elas a tomar as responsabilidades, que lhe cabem, é uma herança que muito custará corrigir.
Essa tentativa de subsidiar muitas organizações dependentes da Igreja Católica para que elas cumpram fins caritativos tem três objetivos claros: o primeiro, o de considerar que a pobreza não deve ser menorizada com políticas sociais ativas, que a eliminem, mas com ações, que levem os visados a receberem alimento, roupa e o pagamento de algumas contas, não como um direito por viverem numa sociedade civilizada, mas por serem uns «pobrezinhos» a quem se dá esmola.
Num segundo objetivo cria-se à conta dessas IPSS’s um conjunto de funcionários facilmente mobilizáveis pelos seus responsáveis para votarem tendencialmente a quem lhes possa prometer estabilidade de emprego por via dos subsídios atribuíveis quando estiverem no governo. Será nos muitos milhares de funcionários destas organizações, que a direita conta compensar a perda de votos da classe média, que se encarregou de proletarizar.
E, num terceiro objetivo, uma maior dimensão reivindicativa das IPSS’s no apoio às posições da Igreja Católica permitirá infletir o tipo de legislação que contra ela foi aprovada. Veja-se como o patriarca de Lisboa já se atreve a querer a revisão da lei do aborto...