Num futuro próximo a Europa pode assemelhar-se a um cenário de horror. Pelo menos é essa a possibilidade aberta por Annalisa Piras, a realizadora do documentário «The Great European Disaster», que escolhe para o caracterizar a metáfora de um avião cujos lugares são bastante mais apertados, as disfuncionalidades a bordo e em terra quotidianas e em que se sabe que a extrema-direita está no poder da maioria dos países outrora pertencentes à defunta União Europeia. O euro já não existe, os emigrantes oriundos da Ásia e da África são expulsos e já ninguém se lembra do tratado assinado em 1951, quando os criadores do ideal comunitário almejaram e prometeram o início de uma época de grande prosperidade…
Geert Mak, que escreveu «Viagem de um Europeu através do século XX», prevê que “estamos à beira de um desastre colossal” por culpa do setor financeiro. Onde Martin Wolf, do «Finantial Times» prevê que se voltem a repetir crises da dimensão da de 2008.
A tal acontecer o jornalista francês Bernard Guetta considera inevitável um súbito estilhaçamento da União Europeia.
Para que tal não aconteça, Philippe Legrain, autor de «European Spring», confronta a Alemanha com as suas responsabilidades: ou mantém-se cegamente agarrada aos seus interesses egoístas ou contribui para integrar uma Europa mais justa e equitativa.
Na primeira dessas hipóteses será inevitável assistir ao empolamento dos diversos nacionalismos que, segundo Felipe Gonzalez, corresponderão a uma falta de solidariedade coletiva.
A Espanha poderá ser um dos primeiros países a falir já que a exclusão social está à vista de todos um pouco por todo o lado desde a explosão da bolha imobiliária.
O movimento independentista catalão, embora já existente antes da crise, ganhou maior dimensão, mesmo que, a par do escocês, não seja comandado pelos eurocéticos. Bem pelo contrário…
A par dessa realidade surgiu igualmente a dos movimentos de cidadãos, que decidiram empunhar a bandeira da luta contra os despejos de quem já não pode pagar as prestações dos empréstimos contraídos, quando o sonho de possuir casa parecia acessível a milhões de espanhóis. Hoje muitos deles nem sequer conseguem rendimentos mínimos para assegurarem uma sobrevivência digna.
O Podemos e o Syriza ganharam espaço com a consciência de um maior número de cidadãos quanto à necessidade de uma mudança radical, completamente diferente da letargia proposta pelos partidos tradicionais. Para os apoiantes desses movimentos a União Europeia tem de ser bem mais do que um mercado económico para benefício exclusivo dos detentores do capital. Ela deve ser o espaço comum dos seus cidadãos reencontrados com a tal prosperidade prometida em 1951.
Sem comentários:
Enviar um comentário