Não sou daqueles que se sentem muito preocupados com o estado anímico da esquerda a seis meses das legislativas.
Não comungo, pois, da interpretação que, no «Público» de hoje, Rui Tavares faz dos dias que correm: “é a direita que por estes dias se apresenta sorridente e a esquerda cabisbaixa.”
E as razões para o meu otimismo até estão por ele alinhadas no mesmo artigo:
- não há queijo que baste para fazer esquecer as políticas antissociais implementadas nestes quatro anos;
- todas as sondagens dão uma maioria clara à esquerda da ordem dos 60%;
- nas presidenciais, e depois de muito foguetório, já existe o candidato, que terá condições para fazer das funções em causa algo de higienicamente irrepreensível.
Há, porém, algo do que o líder do Livre diz, com que estou totalmente de acordo: “a esquerda deve assumir que só uma mudança de ciclo político interessa ao país. Menos do que isso é pior do que nada: é o mesmo, mais uma e outra vez.”
Um par de páginas atrás, Correia de Campos vem secundar o que Ferro Rodrigues já disse sobre as eleições presidenciais: depois de autênticos tiros no pé, que só aproveitaram à direita, é altura de nos concentrarmos nas legislativas para depois nos dedicarmos a substituir cavaco silva por quem António Costa e Carlos César já deram opinião tão superlativa.
O conselho, que o antigo Ministro da Saúde, endereçou aos socialistas é sábio e prudente: “Socialistas amigos consideram-se áugures: propõem candidatos, mesmo sem com eles falarem: estes não só recusam liminarmente a sugestão, como queimam qualquer ponte de reconsideração; derrubam candidatos com argumentos insustentados, tornando muito difícil a entronização; e chegámos ao ponto de a fação segurista também ter candidata, lançando às urtigas o espírito de bom entendimento que Costa generosamente lhes concedeu. A situação atingiu tal absurdo que só se corrige com o silêncio total. Silêncio forçado? Mas de que vale escondermo-nos atrás do velho desabafo de que o PS é um partido plural? Plural, tudo bem, mas disfuncional é de mais.”
E os relatórios oficiais que vão sendo publicados até justificam, que deles façamos o devido uso para denunciar as consequências da má governação. Assim o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) demonstra um crescimento significativo das situações de violência nas escolas, que muito devem aos efeitos nas crianças e nos adolescentes das situações de empobrecimento das famílias e do fim de muitos dos apoios sociais, que poderiam mitigar-lhes as dificuldades. Hoje são muitos os alunos deixados nas escolas às 7h que nelas permanecerão até às 20h, muitos dos quais sem pequeno-almoço
Noutro documento, produzido pelo Banco de Portugal, confirma-se o que se sabe: seis em cada dez trabalhos criados em Portugal são estágios. Com tudo quanto eles significam de precariedade e de ridículas remunerações...
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