sábado, 25 de abril de 2015

A Europa à beira do desastre (2)

Thomas Pikety considera que as instituições europeias estão cegas quanto à impossibilidade de se resolverem as dívidas soberanas sem causar problemas sociais de uma gravidade inaudita.
Entre 2008 e 2012 os contribuintes europeus pagaram 591,9 mil milhões de euros para salvar os bancos. Nesse mesmo intervalo a evasão fiscal atingiu anualmente um trilião de euros na União Europeia.
Philippe Legrain considera fundamental quebrar o poder financeiro, limitando a influência que ele  impõe aos responsáveis políticos. Os bancos têm de ser melhor regulados e disciplinados, de forma a que o sistema se simplifique e se torne mais transparente. Mas a crise resultou da prioridade dada pelos decisores políticos europeus à salvaguarda  dos bancos alemães e franceses.
Martin Wolf acredita na necessidade de conferir ao Banco Central Europeu os mesmos poderes que a Reserva Federal Americana e o Banco de Inglaterra já detêm, e aos quais o governo alemão se opõe. Há, porém, algo que muitos alemães já começam a reconhecer: em vez daqueles que acham os concidadãos poupados por só gastarem o que têm, ao contrário dos povos do sul demasiado propensos a viverem a crédito, há os que sabem dever-se a prosperidade alemã  às exportações que, em 57% se destinam ao mercado europeu.
A Alemanha também não teria alcançado a prosperidade atual se não tivesse havido um Plano Marshall para salvar o país da ruína em que ficara no final da Segunda Guerra Mundial. Uma estratégia, que se justificaria hoje repetir sob a forma de eurobonds.
A Europa está a transformar-se num espaço em que ganha dimensão a cólera e as acusações entre os povos que a constituem. Multidões desfilam a exigir o fim do poder dos bancos, mas, noutra vertente bastante mais inquietante, cresce o apoio a partidos de extrema-direita. Na Escandinávia essa involução ganha contornos alarmantes: na Suécia os partidos xenófobos conseguiram 13% nas eleições mais recentes, que lhes garantiram quase meia centena de deputados. Prova de uma crise de identidade, que põe em causa a sociedade aberta anteriormente existente. A emigração deixou de ser vista como a oportunidade para se obter a diversidade cultural, passando a encarar-se-la como ameaça.
Enquanto isso sucede as políticas sociais estão a perder peso nos orçamentos do Estado, com a aposta na educação e na saúde a perderem a importância prioritária, que haviam conhecido.

A Europa está a suicidar-se e a matar os seus valores e uma consequência colateral dessa mudança é o morticínio de milhares de africanos e asiáticos nas águas do Mediterrâneo.

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