Thomas Pikety considera que as instituições europeias
estão cegas quanto à impossibilidade de se resolverem as dívidas soberanas sem
causar problemas sociais de uma gravidade inaudita.
Entre 2008 e 2012 os contribuintes europeus pagaram 591,9
mil milhões de euros para salvar os bancos. Nesse mesmo intervalo a evasão
fiscal atingiu anualmente um trilião de euros na União Europeia.
Philippe Legrain considera fundamental quebrar o poder
financeiro, limitando a influência que ele impõe aos responsáveis políticos. Os bancos
têm de ser melhor regulados e disciplinados, de forma a que o sistema se
simplifique e se torne mais transparente. Mas a crise resultou da prioridade
dada pelos decisores políticos europeus à salvaguarda dos bancos alemães e franceses.
Martin Wolf acredita na necessidade de conferir ao Banco
Central Europeu os mesmos poderes que a Reserva Federal Americana e o Banco de
Inglaterra já detêm, e aos quais o governo alemão se opõe. Há, porém, algo que
muitos alemães já começam a reconhecer: em vez daqueles que acham os concidadãos
poupados por só gastarem o que têm, ao contrário dos povos do sul demasiado
propensos a viverem a crédito, há os que sabem dever-se a prosperidade
alemã às exportações que, em 57% se destinam
ao mercado europeu.
A Alemanha também não teria alcançado a prosperidade
atual se não tivesse havido um Plano Marshall para salvar o país da ruína em
que ficara no final da Segunda Guerra Mundial. Uma estratégia, que se
justificaria hoje repetir sob a forma de eurobonds.
A Europa está a transformar-se num espaço em que ganha
dimensão a cólera e as acusações entre os povos que a constituem. Multidões
desfilam a exigir o fim do poder dos bancos, mas, noutra vertente bastante mais
inquietante, cresce o apoio a partidos de extrema-direita. Na Escandinávia essa
involução ganha contornos alarmantes: na Suécia os partidos xenófobos conseguiram
13% nas eleições mais recentes, que lhes garantiram quase meia centena de
deputados. Prova de uma crise de identidade, que põe em causa a sociedade
aberta anteriormente existente. A emigração deixou de ser vista como a oportunidade
para se obter a diversidade cultural, passando a encarar-se-la como ameaça.
Enquanto isso sucede as políticas sociais estão a perder
peso nos orçamentos do Estado, com a aposta na educação e na saúde a perderem a
importância prioritária, que haviam conhecido.
A Europa está a suicidar-se e a matar os seus valores e
uma consequência colateral dessa mudança é o morticínio de milhares de
africanos e asiáticos nas águas do Mediterrâneo.
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