Pedro Adão e Silva é um dos colunistas da versão semanal do «Expresso», que merece leitura obrigatória.
Esta semana, num texto intitulado «O Estado Predador», cita o texto homónimo de Galbraith em que se constata que “a direita há muito abandonou a crença nos mercados livres como instrumento racional”.
Enquanto marxista nunca me convenceram as teses liberais, que elogiavam a capacidade dos mercados em gerarem mais riqueza acaso fossem deixados à sua livre iniciativa.
Bastou constatar ao vivo no Chile de Pinochet os efeitos da aplicação das receitas de Milton Friedman e seus apaniguados da Escola de Chicago para ficar elucidado quanto às suas consequências: um enriquecimento brutal dos ricos em desfavor dos pobres, cujos direitos laborais e sociais ficaram reduzidos a quase nada.
Mas reconheço que muitos dos que defendiam tal receita pareciam genuinamente convencidos das suas virtualidades, capazes de se medir pela qualidade de vida da generalidade das populações e pelos baixos índices de desemprego.
Até à queda do Muro de Berlim a prática parecia dar razão a tais liberais: enquanto a economia estatista do Leste se traduzia em prateleiras vazias nas lojas, a abundância da Europa ocidental aparentava um sucesso incomparável aos que apostavam no mercado puro e duro. Mas havia que levar em conta que essa prosperidade deste lado europeu tinha mais a ver com as políticas sociais-democratas, socialistas e até democratas-cristãs de muitos dos seus governos do que da aplicação do liberalismo suportado na lógica de deixar os mercados entregues a si mesmos.
Galbraith, citado por Adão e Silva, constatou, porém, a nova fase do capitalismo já bastante distante do «laissez faire» do passado, muito embora ele ainda lhe sirva de cartaz ilusório para a estratégia atual: a de criar uma campanha contra a ideia de interesse público de forma a colocar o Estado ao seu serviço de forma a que sirva de instrumento de financiamento dos negócios privados.
Quando passos coelho desinveste no Serviço Nacional de Saúde para transferir as verbas, que lhe cabiam, para os hospitais e clínicas privadas não está a seguir outra cartilha: trata-se de pôr os contribuintes a pagar elevados impostos, para que boa parte da verba assim recolhida seja entregue aos privados sob a forma de concessões ou de compras de serviços por adjudicações diretas.
É contra esse capitalismo predador, que a esquerda deverá encontrar resposta eficiente. A igualdade e a solidariedade continuam a ser valores fundamentais de que ela jamais se poderá dissociar. Aproxima-se, pois, uma época em que a recuperação do Estado Social representará um imperativo...
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