Se ontem víamos aqui no blogue as respostas sugeridas por José Castro Caldas para a questão de se saber para quê governar, regressamos agora ao mesmo artigo do autor, inserido na edição deste mês do «Le Monde Diplomatique», para vermos até que ponto é possível adotar políticas bem diferentes das implementadas nestes anos mais recentes.
Uma das constatações que o autor faz é seriamente comprometedora para alguns dos principais partidos socialistas e sociais-democratas europeus, da Grécia ou França, onde os descalabros eleitorais têm ido de mal a pior, até à Holanda ou à Alemanha, onde essas forças têm-se mostrado meras muletas da direita dominante.
É que as forças mais à esquerda e em ascensão no favor dos respetivos eleitorados (o Syriza na Grécia, o Podemos em Espanha ou o Sinn Fein na Irlanda) têm “programas que no passado descreveríamos como moderados, tornados radicais apenas pela radicalidade contrária das distopias do mercado.”.
Quer isto dizer que a direita pendeu para tal extremismo, que até a esquerda mais radical pareceu “esquecer” os seus fundamentos ideológicos de apostar numa sociedade igualitária e com intervenção significativa do capital público. Agora essa esquerda, tida como mais radical, limita-se a mostrar enorme sensatez na exigência do respeito por alguns dos princípios fundamentais que distinguem uma sociedade democrática de outras que não o são.
Para os socialistas e para os sociais-democratas o desafio que se coloca é este: ou aceitam que não existe alternativa a esta sociedade ditada exclusivamente pelas regras do mercado e pelas instituições internacionais que o querem perenizar, ou retomam a sua identidade e criam ruturas efetivas com o discurso “nem carne, nem peixe”, que tem sido o seu.
É que a multiplicação de afirmações tendentes a fazer crer no fim das ideologias e em como não existem diferenças substanciais entre o que é ser de direita ou de esquerda, tem garantido sucessivas vitórias aos que detêm o capital e derrotas dolorosas para quem só exigia uma melhor distribuição dos rendimentos e se tem visto continuamente pauperizar.
É por isso que socialistas e sociais-democratas têm de se libertar de preconceitos e ponderar se temos de facto a ganhar com a continuidade da nossa participação no euro e até na união Europeia. Porque um e outro projeto deixaram de representar aquilo que prometiam: uma redistribuição interpessoal e inter-regional no quadro da união, um tesouro com capacidade de emissão de dívida e uma união bancária.
Constata José Castro Caldas: “por diferentes razões, a Norte e a Sul o que encontramos como resposta é um ‘não’. Não à redistribuição, a Norte; não à tutela, a Sul”.
Pior: “a União Política que se está a configurar de facto é uma ratoeira sufocante. Uma União que esvazia as instituições democráticas das suas prerrogativas onde ainda existe democracia - os Estados nacionais - transferindo-as para onde a democracia não existe, isto é, para os diretórios que detêm o poder de facto na União Europeia e para o Banco Central Europeu.”
É nesse sentido que será esclarecedor o que se passará com a Grécia nos próximos meses. Porque, ou força a União a mudar no sentido de um maior equilíbrio entre as nações que a constituem, ou implicará a sua revolta contra a ditadura dos oligopólios, que têm nas merkels e nos junckers os seus testas de ferro.
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