Esta semana a revista alemã «Der Spiegel» traz uma entrevista com Slavoj Zizek, um dos mais interessantes filósofos atuais na forma como analisa a realidade em que nos inserimos. Sobretudo, porque a sua crítica ao capitalismo permite dar argumentos ao movimento de protesto internacional contra ele orientado e que, na sua perspetiva, deverá ser refrescado nos seus métodos e mensagens.
Para Zizek, o que estamos a viver não é propriamente a questão da sobrevivência do capitalismo, mas o do modelo da nossa democracia ocidental. As ameaças são muitas e as primeiras tempestades já começaram a pairar por cima de nós.
É que, olhando para a China, Singapura, Índia ou mesmo a Turquia, há uma versão do capitalismo moderno, que se está a desenvolver numa direção, que o torna mais “eficiente” sem recurso ao que estipulamos como regras democráticas.
Por isso Zizek interroga-se: “E se o capitalismo autoritário de modelo chinês é uma indicação de que a democracia liberal como a entendemos deixou de ser condição fundamental para o desenvolvimento económico”?
Ele antevê um cenário ameaçador para uma Europa decadente onde, de um lado há os EUA com o seu neoliberalismo brutal, e do outro os países asiáticos com as estruturas políticas autoritárias. E, pelo meio, uma Rússia de Putin com as suas aspirações expansionistas.
Esse contexto seria tenebroso com a componente mais valiosa do legado europeu, herdeiro do Iluminismo, com a democracia e a liberdade a terem uma expressão coletiva imprescindíveis para tornar possíveis a igualdade e a justiça, a perder-se definitivamente.
As tempestades de que Zizek fala no início da entrevista são as que decorrem dos
avanços da extrema-direita em vários países europeus. E que o levam a partilhar a opinião de Walter Benjamin para quem a ascensão do fascismo era produto de uma revolução que falhara.
Nas ameaças atuais demonstra-se a existência de um potencial revolucionário, que deverá obrigar a esquerda a aprender como usá-lo. Porque o capitalismo mundial - seja na versão norte-americana, quer asiática -, está a pôr em causa a existência do próprio planeta com os quatro cavaleiros do Apocalipse, que o acompanham: a catástrofe climática, as consequências das investigações biogenéticas, a falta de regulação dos mercados financeiros e o apartheid social a que são sujeitas milhões de pessoas, sem esperança de emprego num mercado cada vez mais globalizado.
Para Zizek, se a esquerda não se reinventar e o sistema atual continuar a reproduzir-se, iremos a caminho de uma inevitável implosão. Por isso mesmo, contra os perigos dos fascismos e outros fundamentalismos, cabe à esquerda recuperar a liderança ideológica e impor os valores, que poderão salvar o planeta e quem nele vive...
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