segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Eu, anti-imperialista puro e duro me confesso!

 

Enquanto antifascista execro os regimes russo, iraniano, polaco, turco ou húngaro, que o são em graduações mais ou menos autoritárias. Enquanto anticapitalista não me reconheço numa União Europeia que continua a acreditar nos méritos da Mão Invisível dos mercados, ou no regime chinês, que se disfarça de um pseudocomunismo com que já nada tem a haver. Mas nutro particular antipatia pelo imperialismo americano, cheio de falsos ideais democráticos, que apenas servem para iludir as enormíssimas desigualdades entre as suas oligarquias e a generalidade da população, bem como para justificar as indecorosas estratégias com que vai enriquecendo à custa da exploração dos povos dos vários continentes.

Nem os mais fervorosos antiputinistas conseguem negar que, graças à guerra da Ucrânia, têm sido os donos de Wall Street a verem dilatados exponencialmente os lucros, seja na forma de venda de gás natural a preços mais caros, a uma desenfreada produção de armamento e agora, na forma da Lei da Redução da Inflação destinada a proteger as suas indústrias da concorrência europeia pondo Bruxelas em estado de alarme contra o sempre interesseiro amigo americano.

No entretanto, o idiota que lidera a NATO vai pronunciando atoardas do tipo “derrotar a Rússia é também avisar os outros regimes autocráticos do mundo de que a lei do mais forte não pode prevalecer”, sendo que ela passa por muito natural quando são os mais ricos dos norte-americanos a colherem os frutos dessa imposição do quero, posso e mando!

Como se viu nos últimos dias a guerra irá acabar no dia em que a Casa Branca e, sobretudo, o Pentágono o impuser. Porque se Putin colhe os frutos podres do enviesamento da realidade facultada pelo autismo de quem se tem bastado à prestimosa corte que o rodeia no Kremlin, Zelensky mais não é do que um entertainer calçado em sapatos que, desde início, se via não serem os do seu número. Crescem os indícios em como, quer em Washington, quer em Bruxelas, são muitos os que estão fartos de aturar-lhe a desajeitada farsa do improvável herói!

sábado, 26 de novembro de 2022

Com um brilhozinho nos olhos

 

Sete são já os anos de António Costa enquanto primeiro-ministro e, depois de ultrapassar Guterres como socialista a aguentar-se tanto tempo no cargo, superará Cavaco Silva, aquele que, lamentavelmente, ainda detém esse record em tempo de democracia, tendo em conta a pesada herança da sua nefasta ação. E, repetindo o que sucedera na Câmara de Lisboa, depois de vitórias eleitorais por maioria relativa, viria a alcançar a de dimensão absoluta.

Enfrentou ainda assim a pandemia do covid, deparando-se agora com a espiral inflacionista agravada pela guerra no sudeste europeu. Em seu benefício creditam-se lhe, porém, sucessos inéditos dos quais avulta, em 2019 o primeiro superavit orçamental desde 1974, mediante a implementação de uma prudente, mesmo que ambígua, política das contas certas.

Importam, porém, as reformas, que tem lançado nestes sete anos e, de entre as quais se devem enfatizar a digitalização e simplificação administrativa do Estado, a descentralização de muitas competências para os municípios, comunidades intermunicipais e CCDR, o lançamento de mais ambiciosas metas para a descarbonização mediante o fecho das centrais a carvão e o desenvolvimento das energias renováveis, somando-se-lhes o aprofundamento de medidas sociais de inequívoca importância como o são a gratuitidade dos manuais escolares e creches na educação ou o fim das taxas moderadoras na saúde, cuja Lei de Bases se espera que resolva grande parte dos problemas do setor, ainda um dos mais mediáticos enquanto espaço de foco das armas de arremesso disparadas contra o governo.

Mesmo lamentando que a Geringonça não tenha conhecido melhor e mais duradoura sorte, continua a justificar-se que a confiança em António Costa, quando militei pela sua ascensão a secretário-geral e participei nas campanhas que o fizeram primeiro-ministro. Venham, por isso, muitos mais anos, tendo em conta as lamentáveis alternativas, que perante ele se pretendem apresentar...

Se, em certos aspetos, os seus governos me têm sabido a pouco, noutra perspetiva bem me têm sabido a tanto! 

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Mafias, viagens, jantares e outras palhaçadas!

 

1. Nestes dias de tanta conversa sobre os direitos humanos ostensivamente violados no Qatar, é positiva a ação contra o tráfico de trabalhadores migrantes no Alentejo. Mas  não é por acaso que, tal qual são fúteis muitos dos protestos contra o que se passa no país do Golfo Pérsico, também esta bravata do Ministério Público, da Judiciária e do sempre ambíguo Carlos Alexandre deixa incólumes os que mais contribuem para os lucros das mafias em causa: os proprietários das estufas e latifúndios que com elas negoceiam o trabalho escravo sem o qual ficam postos em causa os seus lucros.

2. Não têm faltado, igualmente, protestos em relação às viagens de Marcelo, Costa e Santos Silva para verem a equipa lusa jogar contra os adversários nesta fase de grupos. Mas, para além da caução ao regime qatari, quantos põem em causa a tremenda pegada de carbono, que essas deslocações pressupõem? Numa altura em que as alterações climáticas estão na ordem do dia não há quem diga basta a viagens sem sentido, que se limitam a contribuir para a ultrapassagem do tal grau e meio de temperatura, que não deveria ser ultrapassado sob pena de crescerem as nefastas consequências sobre milhões de cidadãos?

3. Na Assembleia Municipal de Lisboa foi outro o protesto: soube-se agora que, em julho, Carlos Moedas recebeu a presidente da câmara de Madrid, e organizou um lauto jantar partidário para o qual convidou a «fina-flor» da direita lusa. Quem pagou? Claro que os contribuintes que, sem serem tidos nem achados para a festança, se viram esbulhados de quanto foi necessário para a pagar!

4. Numa altura em que aumentam as evidências da prática de crimes de guerra dos dois lados do conflito na Ucrânia - depois do caso do míssil na Polónia como pode Zelenski calar o entusiasmo dos seus soldados, que logo publicaram nas redes sociais a execução sumária de prisioneiros russos? - crescem os indícios de decorrerem negociações secretas para impor uma solução negociada num conflito sem aparente fim à vista. Depois do remoque de Biden, há cerca de um mês, contra a má-criação do presidente ucraniano, há quem se enfarte com as suas vãs tentativas para arrastar toda a Nato para um situação, que poria em causa a sobrevivência da própria humanidade.

Convenhamos que já é tempo de deixarem o humorista ucraniano aproveitar os muitos dólares e euros, que tem a recato nos paraísos fiscais como os Panama Papers demonstraram. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O despeito de um incompetente

Naturalmente sou daqueles que não li, nem lerei, o livro, que andou nas bocas do mundo luso na semana passada, mas não gostei descartando liminarmente o sacrifício de o ler para me julgar no direito de dizer dele o pior.

Por natureza detesto gente despeitada, que não mostra o menor escrúpulo em mentir para alcançar objetivos pessoais e ideologicamente sinistros. Não foi preciso que o antigo governador do Banco Portugal viesse a lume com esta acrescida demonstração de tanta falta de predicados para o contarmos no que de pior sucedeu ao sistema financeiro nacional no início da década passada quanto à sua competente regulação.

Para quem levou a sério uma coisa tão abjeta fica a constatação de haver quem queira escamotear o facto inequívoco de quase toda a banca ter falido nos anos de Passos Coelho cabendo ao governo de António Costa e de Mário Centeno o difícil trabalho de a recuperar, devolvendo-lhe credibilidade e consistência.

Que para além da pior gentalha da direita se lhe tenham juntado Ramalho Eanes e Teixeira dos Santos só dá para lamentar que tenham dado razão a quem os situa no Portugal caduco, que o pior do cavaquismo pressupõe...

sábado, 19 de novembro de 2022

Oximoros exemplos da suposta «Democracia liberal»

 

1. Cada vez mais desinteressado do futebol, e até me irritando as manifestações de tonto nacionalismo em torno da seleção nacional, não conto perder um minuto a ver jogos deste Mundial. Ou de, provavelmente, qualquer outro campeonato relacionado com um desporto há muito desvirtuado na forma de uma indústria povoada de especuladores  e patos-bravos.

Todas as notícias relacionadas com o trabalho escravo no Qatar, a forma como as mulheres aí são destratadas, ou as minorias sexuais criminalizadas, justificaria o boicote da generalidade das seleções dos países, que se reivindicam dessa oxímora «democracia liberal». Que Marcelo, Costa e Santos Silva lá façam figuras tristes em nada contribui para os engrandecer. Pelo contrário!

2. Será que a investigação do consórcio de jornalistas, que demonstrou a infiltração da extrema-direita nas polícias terá, enfim, consequências? Será que os poderes políticos e judiciais cumprirão a lei quanto à proibição de membros dessas forças em militarem em partidos políticos delas depurando todos quantos revelem um pensamento xenófobo e racista?

Esperemos que sim: depois de tão evidentes provas será terrível ver a poeira assentar e, mediante alguns exercícios de cosmética, se deixe ficar tudo na mesma. Porque sucedem-se as notícias sobre este mesmo assunto a só  revelarem o quanto pior a situação ficou!

3. Depois de tudo quanto fez nos quatro anos de mandato e, depois, quando não quis aceitar o seu término, Donald Trump mais do que merecia longo e definitivo encarceramento. Hipótese improvável perante a realidade judicial e mediática da grotesca «democracia», que muitos teimam em considerar ideal.

A notícia da sua recandidatura não comporta nenhuma surpresa: por muito que as provas contra ele sejam irrefutáveis, qualquer acusação sempre será objeto de vitimização a pretexto de perseguição política.

4. A semana conclui-se com mais uma falhada tentativa de Volodomyr Zelensky em arrastar o resto do planeta para uma apocalítica guerra nuclear, que o salve do colapso inerente à destruição das infraestruturas elétricas do país.

Perante os riscos, que souberam evitar, quando não faltavam promotores do quanto pior melhor, os líderes europeus e da NATO parecem, enfim, dispostos a fazer aquilo que, desde o início da invasão russa, se lhes exigiria: promover a diplomacia e estancar o ininterrupto fluxo de perdas de vidas e de bens causado pelo terrível erro de cálculo de Putin e a inexperiência assassina do rival ucraniano. 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

O Tavares até treme perante o anunciado fim do capitalismo!

 

1. A desonestidade intelectual de João Miguel Tavares não tem limites. É assim que, decerto sem corar com a falácia defende, com unhas e dentes,  o capitalismo e a economia de mercado como “responsável pelo maior período de prosperidade e de erradicação da pobreza de toda a História da humanidade.”

O mundo que o cronista do “Público”, mesmo com óculos, vê não é o mesmo que nós constatamos existir, avaliadas as desigualdades entre quem quase tudo tem e quem morre de fome, entre quem polui sem freio e quem sofre as consequências climáticas, que inundam as terras onde vivem milhões e destroem as respetivas colheitas.

Assustado com os slogans anticapitalistas dos jovens que, por estes dias, exigem um mundo diferente, o autoinvestido porta-voz dos interesses dos endinheirados, veste-se de cátedra e aconselha quem se revolta a fazê-lo mansamente, sem nada mudar no essencial.

Azar o dele: como dizia Gedeão, o mundo pula e avança, por um lado havendo quem o queira manter na tal autoestrada para o inferno de que fala Guterres, mas também quem anseie por algo completamente diferente quanto a liberdades, igualdades e solidariedades entre os povos.

2. O livro hoje apresentado por Marques Mendes e, que um «jornalista» do «Observador» escreveu a mando do antigo governador do Banco de Portugal, é a demonstração eloquente d erro de casting que constituiu a sua nomeação por Fernando Teixeira dos Santos na altura em que o governo de José Sócrates tudo fazia para agradar à direita e evitar dela a certidão de óbito que se seguiria.

Ter alguém, que deveria ter pautado a conduta pelo crivo apartidário mais rigoroso, e afinal aposta em atirar lama ao atual primeiro-ministro numa atitude de despeito, que é ao mesmo tempo a de criar a cortina de fumo com que se quer esconder a propósito dos bancos falidos durante o seu mandato - em particular o grupo Espírito Santo - demonstra a mesquinhez e a cobardia de quem aposta em manchar a reputação alheia para ver se a sua sai menos embostelada.

3. A Guerra Fria continua dentro de momentos. É o que se depreende da fotografia para papalvos, que Joe Biden e Xi Jinping protagonizaram em Bali, como se um e outro não tenham em mente as respetivas ambições: um a ver se o seu domínio imperialista se mantém incólume, o outro ansioso por se ver na postura jupiteriana do rival.

Está prometido diálogo para o futuro? Assim será até uma Nancy Pelosi dê a Taiwan o aval de uma defesa, que Pequim logo porá em causa, ou que um míssil norte-coreano acerte por acaso numa qualquer cidade japonesa ou do vizinho do sul e as esquadras e silos de lançamento de ogivas nucleares passem subitamente ao estado de prontidão para entrarem em ação. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Quem mais ganha com a guerra na Ucrânia?

Em julho de 2008, na época da crise dos subprimes, que viria a condenar o governo de José Sócrates perante os subsequentes condicionalismos da economia internacional, o barril de petróleo atingiu os 147,5 dólares.

Hoje, face à sucessiva valorização do dólar comparativamente ao euro, o mesmo barril, agora nos 96 dólares, custa-nos bem mais caro do que então. Mas vá-se lá explicar isso aos jornalistas - ignorantes? mal intencionados? as duas coisas? - que as suas direções editoriais mandam para as bombas de combustíveis e delas regressam com inflamados testemunhos de condutores, que culpam o governo por «nada fazer».

Não seria deontologicamente avisado, que os telejornais servissem para fazerem pedagogia e explicassem a responsabilidade da guerra na Ucrânia e da agressiva política monetária da Reserva Federal Americana na imposição de preços tão altos nas gasolinas, nos gasóleos e no gás natural?

Para além da redução da carga fiscal - que já decretou! - António Costa pouco mais poderá fazer. Porque a culpa pode e deve ser dividida entre quem teima em prosseguir a guerra - Putin e Zelenski - e, sobretudo, quem dela sai como principal beneficiário, nem que para tal não cesse de lhe atirar com mais óleo para cima!

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Racismo e antirracismo não se equivalem

 

Sejamos claros: ser antirracista não é apenas o contrário de racista, assim como o comunismo nunca pode equivaler-se ao fascismo por muito que haja quem queira meter ambos no mesmo saco. Porque, de um lado existe intenção libertadora e igualitária (entre etnias, entre quem trabalha), enquanto no outro há propósitos de supremacia pela cor da pele ou de defesa da meritocracia para justificar iníquas distribuições de rendimentos.

Que o Ministério Público tenha arquivado uma queixa de Fernando Rosas contra André Ventura por difamação em nome da suposta liberdade de expressão entre quem milita em distintas formações políticas e agora aceite a do nazi Mário Machado contra Mamadou Ba por este lembrá-lo como um dos assassinos de Alcindo Monteiro diz muito de como a nossa Justiça anda com os valores virados do avesso. Que o juiz Carlos Alexandre se tenha juntado ao forrobodó aceitando a legalidade da queixa diz o resto sobre ele e a quem se tem sempre associado!

Justifica-se, pois, o abaixo-assinado pelo qual muitas organizações e pessoas individuais manifestam a sua indignação por este facto. O meu sentimento é o mesmo! 

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O céu cinzento a desanuviar-se?

 

Quando toda a gente parecia acomodada à ideia do regresso em força do trumpismo eis que a realidade traz a surpresa disso não suceder, pelo menos na dimensão esperada, aquela que justificaria ao bufão o anúncio da recandidatura à Casa Branca daqui a cinco dias. Pelo contrário a derrota de muitos dos mais fiéis correligionários até parece indiciar a forte hipótese das marés vivas das extrema-direitas ocidentais terem incidido na península italiana, iniciando-se agora a tendência para um ciclo de perda de fôlego. O que já se sentiu no Brasil por minguada que tivesse sido a vitória de Lula.

Lamente-se que as esquerdas ainda não tenham acertado o passo com esta fase histórica e recriado uma dinâmica em que serão elas a liderarem as grandes lutas dos próximos anos, marcadas pelas medidas mitigadoras das alterações climáticas.

Olhando para as eleições norte-americanas já se nota a crescente importância dos jovens, das mulheres e dos que possuem maiores habilitações em travarem o imparável e prometido avanço dos trogloditas republicanos. E que lição para a maioria dos juízes do Supremo Tribunal - seis deles enfeudados ou mesmo nomeados por Trump - os resultados das consultas verificadas em diversos Estados sobre o direito ao aborto das suas compatriotas: mesmo em regiões mais conservadoras, as mulheres porfiaram em manterem os direitos, que os fanáticos, manipulados pelas igrejas evangélicas, pretendiam reverter.

Uma das principais preocupações, que as esquerdas europeias deveriam consciencializar, é a da perda do proletariado para o campo contrário. Como é possível que os mais explorados acedam em servirem de tropa fandanga aos que mais os exploram? Eis uma questão para a qual importa encontrar resposta célere sob pena de termos os Venturas, os Abascais, as Le Pens ou as Melonis como arautos de quem, na realidade, só pensam em arregimentar como forma de melhor os aperrear a um estatuto social de menoridade, que é o exato contrário do que as esquerdas lhes poderão proporcionar.

Se temíamos a asfixia de uma conjuntura com Bolsonaros e Trumps a marcarem a agenda mediática, as recentes eleições nas duas Américas - a anglo-saxónica e a latina - puseram-nos a respirar bem melhor!

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Um é ridículo, o outro sentimental

 

Eu não lhe perdoo!

Como disse?  Olha-se para a criatura e não dá para acreditar! Onde está a “asselfinada” personagem que enganou rebanhos de tolos com poses tão mentirosas quanto a da célebre vichyssoise?

Ávido na pressa em abrir o alçapão de acesso dos antigos correligionários ao poder, transforma-se amiúde de jovial Jekyll em hediondo Hyde. Sobretudo se os tem à frente ou ao lado: vê o Coelho e envia-lhe inflamada declaração de amor, sente o olhar de Montenegro e fulmina a pobre da ministra da Coesão com um ralhete, que desmente qualquer réstia do que poderia ser a conduta de um verdadeiro cavalheiro.

O problema é irem-se somando tantos passos em falso, que nos vemos em dificuldades para escolher o mais patético: por ser o mais recente fica o do discurso final na Web Summit. Se a pronúncia inglesa continua q.b., o conteúdo e, sobretudo, a mímica facial, confirmou o grotesco, que se lhe vai acentuando como indelével característica! E ameaça-o com a tragédia, que Bertolucci deu a interpretar a Ugo Tognazzi em 1981, atribuindo-lhe a condição de um homem ridículo!

 

Parece uma inevitabilidade: na hora da despedida os secretários-gerais do Partido PCP tornam-se ainda mais sentimentais do que antes já tinham revelado ser: Cunhal pareceu apostado em substituir por vidro as paredes espessas, que a democracia não aligeirara, Carvalhas revelou singular humildade na precoce passagem à reforma e, agora Jerónimo, o mais emotivo dos três, chegou a ser lamechas nas definitivas confissões. Aguardemos pelo estilo desse tal Paulo Raimundo, de cuja existência não nos déramos conta, e tem o difícil desafio de recuperar a merecida  relevância política, social e cultural de um partido, perdida à medida que se foi cavando o abismo entre os seus valores coerentes e uma evolução que, no somatório das suas trivialidades, os tendem a amesquinhar. Por muito que alguns deles continuem tão essenciais quanto os que Saint-Exupéry reconheceu como invisíveis aos olhos. Mormente a evidência marxista de tudo refletir a incessante luta de classes!

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Não se menospreze a raposa velha

 

Não é preciso usar de grande argúcia para conjeturar que um teste de inteligência entre Lula e Bolsonaro daria um resultado eloquente: o vencedor deste domingo já passou por experiências de vida tão ricas, que dispõe de um amplo arsenal de ferramentas mentais para dar a volta às muitas dificuldades, que muitos prenunciam vir a encontrar nos próximos anos. Nomeadamente sobre os pretéritos  limites de transigência com certos interesses empresariais, que deram aos inimigos o ensejo de o quererem enterrar em vida. Pelo contrário o derrotado não tem como disfarçar: é burro mesmo!, e isto sem desprimor para os simpáticos jericos, sem culpa alguma por os associarem a características, que não são verdadeiramente as suas. Fenómeno fátuo, que se esgotará nessa menoridade intelectual, Bolsonaro depressa se verá abandonado pelos que o promoveram a marioneta dos seus interesses, substituído por um outro qualquer fantoche, que melhor se preste a ser-lhes fiel capataz.

Não tenho dúvidas quanto à consciência de Lula sobre essa inevitável mudança de maquilhagem nos inimigos de sempre. E em como para ela melhor se preparará sem se iludir com a aparente cordialidade, quando o quiserem levar a repetis os erros do passado. Não se menospreze o que entretanto aprendeu esta velha raposa.