quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O céu cinzento a desanuviar-se?

 

Quando toda a gente parecia acomodada à ideia do regresso em força do trumpismo eis que a realidade traz a surpresa disso não suceder, pelo menos na dimensão esperada, aquela que justificaria ao bufão o anúncio da recandidatura à Casa Branca daqui a cinco dias. Pelo contrário a derrota de muitos dos mais fiéis correligionários até parece indiciar a forte hipótese das marés vivas das extrema-direitas ocidentais terem incidido na península italiana, iniciando-se agora a tendência para um ciclo de perda de fôlego. O que já se sentiu no Brasil por minguada que tivesse sido a vitória de Lula.

Lamente-se que as esquerdas ainda não tenham acertado o passo com esta fase histórica e recriado uma dinâmica em que serão elas a liderarem as grandes lutas dos próximos anos, marcadas pelas medidas mitigadoras das alterações climáticas.

Olhando para as eleições norte-americanas já se nota a crescente importância dos jovens, das mulheres e dos que possuem maiores habilitações em travarem o imparável e prometido avanço dos trogloditas republicanos. E que lição para a maioria dos juízes do Supremo Tribunal - seis deles enfeudados ou mesmo nomeados por Trump - os resultados das consultas verificadas em diversos Estados sobre o direito ao aborto das suas compatriotas: mesmo em regiões mais conservadoras, as mulheres porfiaram em manterem os direitos, que os fanáticos, manipulados pelas igrejas evangélicas, pretendiam reverter.

Uma das principais preocupações, que as esquerdas europeias deveriam consciencializar, é a da perda do proletariado para o campo contrário. Como é possível que os mais explorados acedam em servirem de tropa fandanga aos que mais os exploram? Eis uma questão para a qual importa encontrar resposta célere sob pena de termos os Venturas, os Abascais, as Le Pens ou as Melonis como arautos de quem, na realidade, só pensam em arregimentar como forma de melhor os aperrear a um estatuto social de menoridade, que é o exato contrário do que as esquerdas lhes poderão proporcionar.

Se temíamos a asfixia de uma conjuntura com Bolsonaros e Trumps a marcarem a agenda mediática, as recentes eleições nas duas Américas - a anglo-saxónica e a latina - puseram-nos a respirar bem melhor!

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