Eu não lhe perdoo!
Como disse? Olha-se para a criatura e não dá para acreditar! Onde está a “asselfinada” personagem que enganou rebanhos de tolos com poses tão mentirosas quanto a da célebre vichyssoise?
Ávido na pressa em abrir o alçapão de acesso dos antigos correligionários ao poder, transforma-se amiúde de jovial Jekyll em hediondo Hyde. Sobretudo se os tem à frente ou ao lado: vê o Coelho e envia-lhe inflamada declaração de amor, sente o olhar de Montenegro e fulmina a pobre da ministra da Coesão com um ralhete, que desmente qualquer réstia do que poderia ser a conduta de um verdadeiro cavalheiro.
O problema é irem-se somando tantos passos em falso, que nos vemos em dificuldades para escolher o mais patético: por ser o mais recente fica o do discurso final na Web Summit. Se a pronúncia inglesa continua q.b., o conteúdo e, sobretudo, a mímica facial, confirmou o grotesco, que se lhe vai acentuando como indelével característica! E ameaça-o com a tragédia, que Bertolucci deu a interpretar a Ugo Tognazzi em 1981, atribuindo-lhe a condição de um homem ridículo!
Parece uma inevitabilidade: na hora da despedida os secretários-gerais do Partido PCP tornam-se ainda mais sentimentais do que antes já tinham revelado ser: Cunhal pareceu apostado em substituir por vidro as paredes espessas, que a democracia não aligeirara, Carvalhas revelou singular humildade na precoce passagem à reforma e, agora Jerónimo, o mais emotivo dos três, chegou a ser lamechas nas definitivas confissões. Aguardemos pelo estilo desse tal Paulo Raimundo, de cuja existência não nos déramos conta, e tem o difícil desafio de recuperar a merecida relevância política, social e cultural de um partido, perdida à medida que se foi cavando o abismo entre os seus valores coerentes e uma evolução que, no somatório das suas trivialidades, os tendem a amesquinhar. Por muito que alguns deles continuem tão essenciais quanto os que Saint-Exupéry reconheceu como invisíveis aos olhos. Mormente a evidência marxista de tudo refletir a incessante luta de classes!
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