sábado, 27 de agosto de 2011

Uma morte anunciada


Numa entrevista hoje concedida ao Diário de Notícias Maria José Morgado não arriscava a duração do actual governo para todo o período previsto para a legislatura. E lembrava que o Pêndulo de Foucault demonstra a contínua rotação da Terra.
Mas se a procuradora não poderia avançar mais opiniões pessoais do que a subtil sugestão do seu cepticismo, eu não tenho quaisquer dúvidas: Passos Coelho tem tal vontade em ocupar todo o espaço político, que atropela os interesses do seu parceiro de coligação. E será por ele que o seu governo conhecerá um precoce enterro.
Porque a crise irá agudizar-se e muitos interesses corporativos terão de ser beliscados, trazendo para as ruas a expressão do desagrado colectivo. E será para não se associar à inevitável queda do partido laranja nas sondagens, que Paulo Portas apressará o fim da coligação. Ciente de que, a não avançar para essa distanciação, também o PP se arriscará a ser fortemente penalizado nas urnas.
Pouco a pouco este governo vai dando motivos para acreditar na sua morte antecipada...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A batalha de Tripoli


Na Líbia o regime de Kadhafi parece ter caído finalmente perante o ataque conjunto da NATO e das forças islamistas. Desaparece, assim, mais um dos poucos regimes árabes aonde os direitos das mulheres eram acautelados pela legislação estatal.
Daqui a não muito tempo quando, a exemplo, do Iraque, se veja a condição feminina esmagada pelos valores da sharia, sobrarão discursos hipócritas sobre as perversas derivações desses regimes implantados com a ajuda ocidental. Esquecendo-se os seus autores como terão servido de meras marionetas de um discurso politicamente correcto sobre a democracia, conceito sem sentido em culturas sujeitas ao filtro religioso dos seguidores de Alá...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma cultura de facilitismo?


Anda por aí a ser divulgada a tese peregrina segundo a qual temos vivido em injustificada abundância, e que deveremos conformarmo-nos com os sofrimentos próprios de uma vida doravante marcada pelas frustrações. A felicidade fica adiada para outras reencarnações, que nesta só nos resta sofrermos os efeitos das dívidas contraídas pelos bancos e pela Madeira de Alberto João Jardim e que (quase) todos somos obrigados a pagar.
Veja-se este naco de prosa publicada num dos principais jornais e da autoria de um suposto psiquiatra do Júlio de Matos: é preciso dizer às pessoas que o sofrimento também faz parte da vida e que a crise é uma situação de oportunidade. (…) A dificuldade em reagir à crise deve-se ao facto de na última década se ter vivido à procura do prazer e da satisfação. Havia uma cultura de facilitismo, que criou uma almofada e impediu o contacto com a realidade. Criou-se a ideia de que não há sofrimento.
Eis o exemplo mais lapidar do conformismo mais reaccionário, que se pode encontrar por esta altura. O mesmo que esteve subjacente ao discurso de Passos Coelho no Pontal, que em miúdos significou mais ou menos isto: «vocês portugueses vão ficar com ordenados de miséria se tiverem a sorte de encontrar um emprego. E nem pensem em vir para a rua protestar, senão passam por maus patriotas!».
É a cultura do «aguenta, que é serviço!». Aquela que deveremos rejeitar, porque dando a realidade sobejas provas da inexistência de Deus e de vidas além-morte, para que é que iremos esperar por tal ilusão para calarmos o nosso sofrimento?
Pelo contrário deveremos exigir ser felizes aqui e agora e um governo decente, que se preze, deve trabalhar para tal objectivo ficar ao alcance da grande maioria.
Que se fustiguem, pois, as vozes que se multiplicam a defender conformismo: os mais ricos de entre os muito ricos abriram uma guerra social contra as classes médias e só resta a estas a aliança com os mais desvalidos nas batalhas por um mundo diferente em que o sofrimento se torne uma palavra ostracizada...

domingo, 21 de agosto de 2011

Consumo privado em queda histórica!


O artigo de hoje do Público nem justifica comentários, já que vale por si mesma e pelo que este Governo tem suscitado: Nem nas intervenções anteriores do FMI, nem quando Portugal esteve em recessão, na sequência da crise financeira internacional, as famílias retraíram tanto os seus gastos. Em Julho, o consumo privado atingiu um mínimo histórico, empurrando a actividade económica para o pior nível dos últimos dois anos. As novas medidas de austeridade previstas para este ano e a desaceleração das outras economias europeias podem agravar o cenário e obrigar a rever em baixa as previsões de recessão.

A voz do Oráculo


É claro que por muito que os ultraconservadores do Congresso e do Senado norte-americano não queiram ouvir o Oráculo do Omaha, a verdade é que as suas palavras recentes sobre a necessidade de se impor uma maior carga fiscal aos mais ricos faz todo o sentido. E é paradigmático quanto à visão do célebre especulador, que já adivinha os sarilhos potenciais de uma distribuição cada vez menos equitativa dos rendimentos do país.
Depois de se ter esvaído o papão comunista é altura de os ricos voltarem a recear as consequências da sua ganância, em função do que se vai passando nas ruas de Atenas, de Londres ou de Berlim.
Inteligente, Warren Buffet quer antecipar-se a maiores aflições. Vejamos quanto tempo é que passará até que os seus pares milionários o comecem a ouvir.

sábado, 20 de agosto de 2011

Roubini recorda Karl Marx


É claro que nunca tive dúvidas sobre o carácter científico da abordagem de Karl Marx ao capitalismo e sobre a intemporalidade das suas conclusões. Ainda assim sabe bem ver um economista tão reputado como Nouriel Roubini a alertar para a crise actual dar razão à concepção marxista do defeito sistémico do sistema capitalista, quando se agudiza a cumulação de capital nas mãos de um número cada vez menor de ricos e uma pauperização crescente da generalidade dos cidadãos.
Como diz Roubini talvez seja exagerada a notícia da morte iminente deste sistema desumano - que tem sabido encontrar soluções sucessivas para adiar o seu previsível estertor - mas que ele se aproxima a passos largos, disso não duvidemos…

Os medos de Passos Coelho


No «Público», São José Almeida volta ao comício do Pontal para lembrar como Passos Coelho se apresentou aí na pele de um primeiro-ministro preocupado, até assustado, com as consequências que admite poderem surgir das medidas que tem tomado e promete ir continuar a tomar.
É curioso como, passados dois meses sobre a tomada de posse do seu Governo, o actual primeiro-ministro está muito longe de conseguir o benefício da dúvida da generalidade das pessoas com quem diariamente contacto.
Podem calar o incómodo de nele ter votado, contribuindo activamente para a derrota de José Sócrates, mas não saem das suas bocas quaisquer justificações convincentes para o verdadeiro ataque desde então iniciado ao tipo de regime redistributivo até então suportado numa concepção democrático proveniente do 25 de Abril.
E começa a subir o clamor contra tantas más notícias dadas pelos ministros sem elas conseguirem fundamentar uma qualquer visão positiva de futuro.
O medo que Passos Coelho sente é o de uma reacção violenta e descontrolada à guerra social e económica que o próprio poder abriu contra as populações europeias para baixar o nível de riqueza que é redistribuída pelo Estado na Europa. Uma guerra que tem como objectivo a concentração da riqueza na elite, nos donos do poder económico e na aristocracia empresarial e política que os serve…

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sinais de mudança


Não temos que aceitar as coisas tal qual elas nos são transmitidas pelos jornais e pelas televisões, ciosas de agradarem aos poderes de circunstância. A realidade é que o mundo pula e avança, como já o anunciava o poeta Gedeão, e nada o tenderá a cristalizar num qualquer ponto designável como «fim da História».
Veja-se, por exemplo, o que está a acontecer em Israel com uma réplica do moimento dos indignados já capaz de mobilizar manifestações de 300 mil pessoas em prol de maior justiça social e de preços aceitáveis no aluguer das casas. E a perspectiva não podia ser senão de esquerda, já que se contestam os dinheiros gastos com os colonatos e com as escolas ultra-ortodoxa. Hoje os jovens e os desfavorecidos israelitas aproveitam as competências ganhas no seu serviço militar para se organizarem e  condenarem a extensão das privatizações dos últimos anos, que tiveram por corolário a sujeição desigual de todos aos caprichos dos mercados financeiros.
Mas, se nas cidades israelitas os protestos são pacíficos, já o deixaram de ser na capital inglesa. Irradiando a partir do bairro mais pobre (Tottenham) os jovens revoltosos queimam tudo à sua frente para se vingarem da repressão policial, do racismo e do desemprego. Alerta Robert Berkeley: No Reino Unido, as taxas de desemprego entre jovens são de 20% na comunidade branca e 50% na comunidade negra. Isso gera um potencial para o crime e falta de esperança. Sentem que não têm um futuro e que ninguém os ouve.
Uma sociedade desigual é uma sociedade infeliz. O Governo tem que ter em conta as desigualdades sociais quando faz os cortes e não vejo nenhuma estratégia para gerir os problemas raciais.»
Mas para acabarmos melhor o dia recordemos o desagrado de Macário Correia, autarca de Faro, perante as nomeações e os ordenados decididos pelo governo para os quais exige explicações. Manifestamente a popularidade inicial de Passos vai-se degradando!


domingo, 7 de agosto de 2011

A agonia da direita chilena

A derrota dos socialistas chilenos nas mais recentes presidenciais foi extremamente dolorosa para quem vira nas vitórias anteriores de Ricardo Lagos e de Michelle Bachelet uma espécie de vingança contra o legado pinochetista, que se acreditava sujeito à rejeição duradoura.
Afinal a vitória de Sebastian Piñera em Março de 2010 significava o retorno ao passado tenebroso dos seguidores do  assassino de Allende. E, para sua sorte, o drama dos mineiros encerrados na minha de cobre, dar-lhe-ia picos imerecidos de popularidade logo a seguir à sua tomada de posse.
Mas, um ano depois, a situação mudou e sucessivas manifestações estão a exasperar o regime chileno, levando o New York Times a comentar a profunda insatisfação popular com o modelo neoliberal, e exigindo a imposição constitucional do direito universal à educação de qualidade e de custos gratuitos.
A situação actual do ensino chileno pode ser vista como uma antevisão do que poderá vir a suceder no nosso país: a direita chilena desinvestiu na educação pública para possibilitar o chorudo negócio das universidades privadas. que são caras e, portanto, só acessíveis a alguns. E de fraca qualidade pedagógica.
Agora exige-se passar do oito para o oitenta, numa altura em que Piñera bate recordes de impopularidade: apenas de 26% de aceitação da sua política, contra os 53%, que o rejeitam liminarmente...
Afinal há equívocos, que duram muito pouco tempo...

Receitas estafadas

Paul Krugman não gostou nada do acordo entre Republicamos e Democratas para resolver o problema do risco de default para a dívida norte-americana. Para esse Prémio Nobel, Obama cedeu em toda a linha e poderá pagar cara a sua falta de firmeza para com os seus adversários. Porque, em vez de iniciar o processo de recuperação, esse acordo irá deteriorar uma economia já de si deprimida: menos crescimento significa menores receitas fiscais prosseguindo assim a espiral de aumento do défice.
Ora, como Europa e EUA estão interdependentes, o sobre endividamento da primeira prejudica a recuperação americana, assim como a estagnação desta impede o crescimento da zona Euro.
O problema é que com estas receitas estafadas de cunho monetarista não vamos ultrapassar esta fase de contínuos apertos...




Para quando os Estados Unidos da Europa?

O que Paul de Grauwe, conselheiro económico da Comissão Europeia, defende num artigo do Finantial Times, é algo que me parece evidente há muito tempo: os Estados Unidos da Europa terão de ser uma realidade política num prazo não muito alargado se o continente quiser ainda desempenhar um papel relevante no mercado global.
Porque, de facto, do que se trata é de transformar o Banco Central Europeu num sucedâneo da Reserva Federal Americana, garantindo a liquidez - não só aos Bancos - mas também aos Estados do euro. Assim, se s/e os investidores não emprestam aos Estados ou pedem juros proibitivos, então imprimam-se euros.