sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O estertor do ultraconservadorismo católico


Um dos temas mediáticos deste verão tem sido o da possibilidade de setores ultraconservadores do Vaticano, comandados pelo cardeal norte-americano Raymond Burke, e com o apoio ativo de Steve Bannon e Matteo Salvini, conseguirem apear o papa Francisco substituindo-o por quem faça regressar a ideologia da Igreja Católica aos valores mais retrógrados, que esses contestatários reivindicam.
Embora o ateísmo me coloque em mera posição de observador não me espanta esta reação exacerbada dos que contestam as tímidas mudanças empreendidas pelo atual titular do cargo papal. É que não podemos esquecer as nomeações em grande número por ele efetuadas nos últimos meses e que tendem a reverter a favor da sua futura herança os Sínodos que se seguirão.
Por muito que as extremas-direitas insistam nas suas tenebrosas maquinações, também no mundo católico as mudanças tendem a impor-se.

A decência de Rui Rio


Obviamente que não aprecio nada as ideias políticas de Rui Rio, que consubstanciam quase sempre o contrário do que defendo. Mas devo reconhecer-lhe o sentido da decência quando justifica o silêncio a respeito dos fogos no Algarve como sendo uma questão de princípio, que o PSD nunca se pronuncie com as casas a arder e, no que for possível, ajude.
As suas palavras representam uma evidente chapada com luva branca na cara de Cristas, cujo despudor oportunista impede que consiga equivaler-se em seriedade ao seu putativo aliado. Um ponto a favor de Rio, eis o que se pode concluir...

A verdade dos números

A taxa de desemprego desceu para 6,8%, valor que não se atingia desde setembro de 2002, e todos os indicadores com ela relacionados espelham o bom momento vivido no mercado de trabalho, onde se assinalam aumentos significativos de remunerações nalguns contratos  - como os da restauração - recentemente negociados entre patrões e sindicatos.
Associando este indicador ao do crescimento da economia, que atingiu os 2,3% no segundo trimestre do ano, comparativamente com período homólogo, compreende-se que, mau grado as tentativas das direitas em falsear esta realidade (o «Observador» até conseguiu transformar esse crescimento num irrisório 0,5%!), os portugueses vão encontrando razões consolidadas para viverem numa tranquilidade, que desconheciam quando o entroikado Passos Coelho cuidava de lhes estragar os dias.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Não é o país das maravilhas, mas para lá vamos evoluindo!


Teresa Lago assumiu agora o cargo de secretária-geral da União Astronómica Internacional, a maior organização mundial dessa área da investigação e conhecimento. Trata-se da consagração de um percurso científico exemplar, que muito contribuiu para que, com a nunca por demais elogiada tutela de Mariano Gago, tenhamos passado de uma situação em que existiam três astrónomos profissionais em 1986 para mais de duas centenas atuais, muitos dos quais vinculados a algumas das mais importantes instituições mundiais envolvidas na prospeção do espaço galáctico.
Acentue-se o facto de tais saltos científicos terem sido dados em grande parte, quando era o Partido Socialista a governar, porque a visão economicista das direitas cavaquistas ou passistas, sempre primou por subestimar as áreas do conhecimento comparativamente com as que pudessem significar, na sua ótica, um retorno mais imediato e a contento das grandes empresas de que eram obsequiosas marionetas.
Essa mesma preocupação em atrair quem possui habilitações, que tanta falta fazem ao país para potenciarem uma economia desenvolvida, e não a assente em mão-de-obra barata e desqualificada, que era o sonho de Passos Coelho, explica a proposta do governo relativamente à facilitação do regresso aos que foram instados a sobreviver noutras latitudes e longitudes, porque quem aqui mandava considerava-os dispensáveis.
Os números oficiais mostram bem a evolução desse fluxo emigratório, que deveria ter envergonhado quem o suscitou: entre 2011 e 2015 quinhentos e oitenta mil portugueses foram empurrados para o exterior, num ritmo que teve o seu pico em 2014 em que saíram 134 mil. Se esse fluxo ainda não foi estancado, já que a dinâmica nesse sentido custa a travar, tem-se desacelerado significativa e continuamente, já só atingindo 81 mil em 2016, quando os efeitos positivos da governação atual ainda estavam a começar a fazer sentido. Explica-se assim o silêncio comprometedor com que as direitas abordam estes assuntos. Ademais, em 2017, o saldo entre os que saíram e os que regressaram pendeu significativamente para o lado destes últimos, atraídos pela retoma económica e redução significativa da taxa de desemprego.
É claro que não estamos no país das maravilhas, que só Assunção Cristas diz existir na cabeça do primeiro-ministro (mas a credibilidade dessa mentirosa contumaz ainda vale mais do que meio-tostão furado?) - basta atentarmos na denúncia do PCP quanto a estarem a ser desviados mais de 3 mil milhões de euros por ano do Serviço Nacional de Saúde para grupos empresariais privados só à conta das  convenções, PPP’s e subsistemas públicos! - mas tendo em conta o desespero, de previamente derrotado, hoje manifestado por João Miguel Tavares na última página do «Público», chegando a «elogiar» António Costa para ver se ele mantém Joana Marques Vidal no seu privativo tacho, até na área da Justiça as coisas só tendem a melhorar...

A Operação Condor e o momento político brasileiro


Revisito as fotografias sobre a Operação Condor de João Pina, que estiveram expostas no Torreão Ocidental do Terreiro do Paço, entretanto publicadas em livro pela Tinta-da-china, e o imprescindível livro de Eric Nepomuceno chamado «A Memória de todos nós». Ambos dedicaram-se à abordagem da terrível tragédia que se abateu sobre os povos latino-americanos durante os anos de chumbo em que as ditaduras militares decidiram combater o comunismo à custa de uma sucessão ininterrupta de torturas e assassinatos. A coordenação de toda essa conspiração partiu da Escola das Américas, que a CIA organizou no Panamá, mas há que não esquecer os especialistas militares franceses e israelitas que, igualmente, andaram a ensinar como subjugar «subversivos».
Quando corporizo as imagens desse tempo de terror encontro duas possíveis nas vivências passadas: a ordem para a adoção de ritmo rápido e sem olhares curiosos para lá dos muros da Escola de Mecânicos da Armada, quando se queria alcançar o centro de Buenos Aires a partir do cais onde atracavam os navios de cruzeiros. Os cartazes eram elucidativos: uma atitude mais suspeita poderia ser punida com um tiro sem aviso prévio. E, no entanto Raul Alfonsin já estava a concluir o mandato enquanto primeiro presidente pos-ditadura, avizinhando-se a campanha eleitoral, que levaria Carlos Menem a suceder-lhe.
A recordação dessa experiência inclui o estremecimento interior por saber que dentro desses muros, tinham sido mortos tantos dos que as mães da Praça de março ainda procuravam resgatar do esquecimento exigindo punição exemplar para quem os assassinara.
Compensa, de alguma forma, saber que esse sinistro espaço militar foi, entretanto, convertido em Museu de Evocação das vítimas da ditadura, tendo sido inaugurado por quem nele nascera enquanto filho de uma das logo assassinadas após o parto.
A outra imagem é também do período de transição da ditadura para uma forma condicionada de Democracia. Aconteceu-me em Valparaíso, quando Pinochet já se vira derrotado no referendo, que julgara incapaz de o remover do poder e quando o presidente entretanto eleito, Patricio Aylwin, ainda não fora empossado. O meu cirandar pela zona ribeirinha da cidade - não me arrisquei aos barrios altos - foi acompanhado por sucessivas patrulhas militares que, a cada esquina, vigiavam os movimentos de todos quantos por ali circulavam. Embora a ditadura tivesse sido derrotada, a pressão dos seus agentes continuava a ser ostensiva.
Desde então, nalguns dos países abarcados pela Operação Condor, a justiça veio a repercutir-se nos assassinos e torturadores, mesmo que tarde e a más horas. No entanto, seja na Argentina ou no Chile, o nome dos chefes militares desses anos negros, está agora manchado, poucos havendo que insistam em os considerar heróis.
Não aconteceu o mesmo com o Brasil. Pelo contrário: a associação do capital, do sistema de Justiça e da imprensa (Rede Globo, revista Veja, Folha de S. Paulo, etc.) nunca permitiu que o reequacionamento dos crimes da ditadura entre 1964 e 1985 fosse feito. Pelo contrário é comum viajar-se pelo país e encontrar quartéis militares com o nome dos sucessivos ditadores, que se sucederam no poder nesse período. Assim se explica o golpe de Estado concretizado contra Dilma, a conspiração para inculpar e manter Lula na prisão, impedindo-o de recuperar a Presidência, e a promoção do tenebroso Bolsonaro enquanto herdeiro desse passado até agora livre da merecida condenação.
O que aí acontecerá nos próximos meses é imprevisível porque, entre um recauchutado regime militar e o regresso à ordem constitucional com um presidente livremente eleito - Lula -, não será fácil prever qual a que se revelará vitoriosa. De qualquer forma confirma-se a velha lição de Edmund Burke sobre a possibilidade de repetir os erros do passado, quando se esquecem as lições da História. Os políticos brasileiros que, nos últimos trinta anos, pactuaram com um manto de silêncio sobre o sucedido nas duas décadas anteriores, foram cúmplices ativos do atual desastre, e porventura da tragédia, que se seguirá.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

As direitas e os seus tiques fascizantes nos media


Vai por aí uma campanha intensa, fundamentada numa reportagem da TVI, sobre a má aplicação de dinheiros públicos e donativos para os prejudicados com o incêndio de Pedrógão Grande no ano transato. As direitas, de que o antigo canal da Igreja, se faz porta-voz entusiasta, continua sem digerir bem que uma Câmara anteriormente enfeudada ao seu lado da trincheira política, tenha virado à esquerda, de nada tendo valido então, que muitos dos donativos tenham sido entregues então à Santa Casa da Misericórdia local comandada pelo cabeça-de-lista do PSD às mais recentes autárquicas. E que a brasileira do CDS continue a falar para os poucos, que ainda a aturam, não constituindo mais-valia, que se veja para os que a julgavam fadada a papel de relevo nos anos que virão.
Como António Costa já desmascarou apenas duas denúncias dizem respeito a dinheiros supervisionados pela sua tutela. E as situações ilícitas em curso de investigação pelo Ministério Público muito deverão à pressa imposta por vozes insensatas, que, no calor dos acontecimentos, exigiam pronta resolução dos problemas rastreados. Ora, como diz um ditado bastante sensato, “depressa e bem, não há quem!”.
Culpe-se, pois, Marcelo, a referida brasileira e todos quantos patrocinaram a histeria verbal de então e que obrigou a avançar com verbas sem as devidas cautelas, que só investigação criteriosa e demorada poderia consolidar.  Curiosamente o próprio Marcelo mostra-se agora cuidadoso em evitar conclusões precipitadas desalinhando-se dos que, agindo mentalmente com fundamentos fascizantes, se apressam agora a agarrar no caso para mais uma campanha antipolíticos, numa imitação de tantas outras, que levaram às sinistras governabilidades atualmente sofridas por húngaros, polacos, italianos.
A realidade demonstra que os oportunistas imitam os ladrões: quando a ocasião se proporciona aí estão eles a aproveitarem-se. E esse comportamento nada tem a ver com a «corrupção» dos políticos. Veja-se o caso das fraudes nas matrículas das escolas públicas de Lisboa e do Porto, que levava muitos alunos a não terem cabimento das áreas em que residiam, por provirem de outras, quem lhes ocupava o lugar. Identificada a situação, mudada a regulamentação de tais matrículas e o problema desapareceu, naquele que é um merecido sucesso da equipa do Ministério da Educação.

Os números do nosso contentamento


Os números continuam a falar por si quanto ao desempenho do governo de António Costa: se a despesa pública está a crescer 2,5% em relação ao período homólogo do ano transato, as receitas sobem 5,3%, com o défice a recuar 1109,7 milhões.de euros no mesmo intervalo comparativo. E se, durante 2017, as direitas agarraram-se ao tema das cativações, quando lhes falhou o dos incêndios, este ano ficam descalças do argumento, porque elas reduziram-se em 474.9 milhões de euros.
Conclua-se com os dias difíceis que essas mesmas direitas enfrentam, quando se trata de defenderem a privatização da Segurança Social, hipótese contrariada com a consolidação das contas graças ao aumento em 7% das contribuições a elas destinadas. Segundo o site «Geringonça» “o excedente da Segurança Social até junho [elevou-se] para 1185 milhões de euros. Este valor do excedente da Segurança Social é 14,3% superior ao verificado em igual período de 2017.”
Cristas diz não ver o país tal qual descrito por António Costa no discurso de Caminha, mas confirma-se-lhe a urgência em consultar o oftalmologista, decerto tentado a receitar-lhe um daqueles óculos ridículos de nerd, com muitas dioptrias.

domingo, 26 de agosto de 2018

Contra estes números não há argumentos


Servindo-nos do discurso de António Costa em Caminha não sobram dúvidas sobre em mil dias o país ter mudado para melhor. Para muito melhor, já que “estamos a crescer mais, temos menos défice, mas os portugueses estão a viver melhor”. Eis alguns dados factuais enunciados pelo primeiro-ministro: há 315 mil novos postos de trabalho; três em cada quatro postos de trabalho criados foram contratos definitivos que deram estabilidade de emprego; mais de 70 mil pessoas que estavam desencorajadas regressaram à vida ativa ou estão de novo à procura de emprego; o rendimento das famílias cresceu 4,7%; o salário mínimo aumentou 15%; aumentou-se em 700 milhões de euros o investimento no setor da Saúde, traduzido em mais 7900 profissionais colocados no SNS, em relação a 2015; em três anos reduziram-se de 15 para 7% os portugueses sem médico de família e no mesmo período concretizaram-se mais 19 mil cirurgias e mais 3 mil consultas.
É por tudo isso que, apesar da campanha mediática ostensivamente antigoverno, António Costa encontrou no Minho um número significativo de pessoas que, afiançando nunca terem votado no PS, revelaram vontade de o fazerem nas próximas eleições. Daí a confiança em como será possível só conhecer vitórias no próximo ciclo eleitoral, que incluirá as europeias, as legislativas e as regionais. Há motivos para encararmos com otimismo os próximos anos das nossas vidas...

Rápida ascensão para abrupta queda

Nunca tive admiração por nenhum dos que os jornais e televisões apresentaram como génios dos negócios nos últimos anos, porque ligados ao desenvolvimento de novas tecnologias. Bill Gates, Steve Jobs Mark Zuckerberg, ou, mais recentemente, Elon Musk, repetem os méritos, mas sobretudo os defeitos dos que, há um século, também eram promovidos como homens muito ricos, mas denotavam um comportamento crapuloso no relacionamento com quantos exploravam Existissem greves, que o incomodassem, e era imediata a reação dos Edisons, Fords ou Rockfellers em recorrerem a milícias armadas, que não hesitavam em matar os líderes dos revoltosos.
Musk sempre teve resultados financeiros medíocres, senão mesmo muito maus, nas suas empresas. A imprensa tem-no, porém, enaltecido, seja a pretexto dos carros elétricos, dos novos foguetões espaciais ou dos túneis com que pretende aliviar os fluxos de tráfico nas cidades. Quando se tratou de apoiar um candidato presidencial à Casa Branca alinhou ao lado de Donald Trump, que o nomeou seu conselheiro.
As últimas semanas têm-lhe sido tenebrosas com o risco de falência a tornar-se mais palpável. De empresa muito importante na Bolsa de Valores, a Tesla arrisca-se a converter-se em mais um daqueles fracassos, que se vão repetindo sem que os mercados aprendam as lições dos anteriores.
Há quem agora aposte na forte possibilidade dessa queda definitiva para, na compra e venda de ações, ganhar lautas fortunas. Quando essa inevitabilidade se confirmar  Musk será recordado como um daqueles génios do marketing, que andou anos a convencer os incautos das virtudes dos seus produtos, e afinal incapaz de satisfazer minimamente as altas perspetivas, que lhes terá criado...

sábado, 25 de agosto de 2018

E pur si muove - 25 de agosto de 2018


1. Mais dinheiro para a Cultura e para a Ciência - eis duas das boas notícias dadas esta tarde por António Costa no discurso da Festa socialista em Caminha - às quais acrescentou um programa para o regresso de jovens mandados para o estrangeiro por Passos Coelho.
A aposta no conhecimento constitui há muito a marca identitária dos governos socialistas, que continuam a ter como guia orientador a herança legada pelo injustamente esquecido Mariano Gago. Assim saiba o Partido Socialista igualmente seguir a de António Arnaut para que a Saúde também deixe de ser um não-assunto no discurso dos que, nas direitas, tudo fizeram para destruir o serviço público e o continuam a tentar, mesmo quando dele se fazem incredíveis defensores.
2. Em 1979 João Paulo II visitou a Irlanda e tinha à espera uma multidão de 450 mil católicos decididos a ouvi-lo. Quase quarenta anos depois, Francisco repete a experiência, mas as expetativas é para não conseguir falar para mais do que 10% desse número de seguidores. Desde então aquele que era um dos países mais fundamentalistas no respeito pelos preceitos do Vaticano descobriu uma vala com centenas de esqueletos de bebés num centro de acolhimento para mães solteiras, iniciou investigações sobre  casos de pedofilia e de imposição de trabalho escravo nas instituições católicas do país, aprovou o casamento para pessoas do mesmo sexo, aprovou a lei sobre a interrupção voluntária de gravidez e elegeu um primeiro-ministro homossexual.
Infelizmente Portugal ainda é, segundo um estudo recente, um dos únicos seis países europeus onde mais de 50% das pessoas entre os 19 e os 29 anos continuam a considerar-se cristãos. Os outros povos ainda rendidos a uma tão moribunda crença são os polacos, os lituanos, os austríacos, os eslovenos e estes mesmos irlandeses já dando sinais de tão significativa desconfiança em relação a ela. A tal ponto que os vendedores de artigos de merchandising relacionados com a visita de Francisco temem não conseguir fazer negócio digno desse nome.
3. Sei que ainda é arriscado o veredito, mas a morte política de Donald Trump vai-se consolidando à medida que os amigos vão-lhe virando as costas para aligeirarem as penas de prisão a que se arriscam por terem trabalhado ativamente no sentido de o fazerem eleger. Agora foi o dono do pasquim «National Enquirer» a colaborar com as investigações sobre as suspeitas de conluio com o Governo da Rússia. Day by day o enterro de tão grosseira singularidade vai-se aproximando...