A gentrificação das grandes cidades europeias tem expulsado para as periferias as camadas sociais médias e pobres, incapazes de suportarem os custos de habitarem onde endinheirados estrangeiros surjam dispostos a pagarem mais para as substituírem. O turismo desenfreado, e sem regras, converte em hotéis e hostels, os prédios até ainda há pouco tempo ocupados por inquilinos com muitos anos de ocupação desses espaços. E os fundos financeiros, apostados em conseguirem retornos substanciais nas suas apostas especulativas, encontraram no setor imobiliário dessas capitais o canal apropriado para canalizarem fluxos de dinheiro anteriormente aplicados na , mas já não conseguindo nela os mesmos rendimentos.
Não admira que, perante essa realidade, os presidentes da Câmara de algumas das principais capitais europeias tenham subscrito um documento comum em que reivindicam dos respetivos governos os meios financeiros para poderem criar um verdadeiro mercado público de habitação. A exemplo do que tanto se reivindica na defesa dos direitos à saúde ou à educação, também o referente a uma habitação condigna completa o triângulo da construção de um autêntico Estado Social. Só assim será possível infletir a tendência para tais metrópoles perderem as características, que as tornaram tão apetecíveis para quem, proveniente de outras culturas, nelas aterram e pretendem, precisamente vivenciar esse «espírito do lugar». O problema é que, a prosseguir tal gentrificação, depressa depararão com a desertificação de espaços anteriormente pujantes de vida, despojados dos fatores de agradabilidade, que haviam justificado a sua mudança.
Trata-se, pois, de dar mais poder ao Estado para que defina a gestão do território e regulamente o mercado, de forma a retomar um controlo, de que jamais deveria ter prescindido.
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