Durante uns anos tive por colaborador um esforçado caçador, que voltava ao trabalho às segundas-feiras com relatos coloridos das caminhadas por campos e bosques até regressar ao carro com coelhos suficientes para lautos jantares com a família e os amigos. Uma das frases costumeiras desses solilóquios, animada variação das entediantes discussões futebolísticas, era a de «atrás de fraca moita, se poder encontrar bom coelho».
A expressão passou a ser adotada na empresa para muitas outras ocasiões: quando se contratava algum novo colaborador com currículo aceitável, mas aspeto duvidoso, e ele se revelava um excelente profissional. Ainda que pressionado para melhorar a aparência, desculpava-se-lhe o que parecia perante o excelente desempenho que cumpria. Ou algum dez réis de gente que, quando havia que erguer peças grandes e maciças, o fazia como se fosse atleta olímpico de levantamento de pesos.
Desde então habituei-me a elevar as expetativas do que, à partida, me pareceria periclitante. Explica-se assim o meu irritante otimismo, quiçá capaz de rivalizar com o que o primeiro-ministro sugerira a Marcelo.
Vem isto a propósito da sondagem agora conhecida sobre quais seriam os resultados se os eleitores espanhóis fossem chamados às urnas. Subindo quase dez pontos, o Partido Socialista abeira-se dos 30%, enquanto os dois principais partidos da direita recuam quatro e dois pontos respetivamente, daí resultando 20,4% para ambos: o PP e o Ciudadanos. Ora, como a coligação entre Podemos e comunistas está nos 16%, perspetivar-se-ia uma vida tranquila para uma maioria parlamentar semelhante à do vizinho ibérico.
Subitamente os que prenunciaram vida breve ao executivo liderado por Pedro Sanchez já se calaram, cientes da forte probabilidade de o verem imitar António Costa, a quem o mesmo tipo de zandingas profetizara rápido insucesso e confrontam-se agora com um sucesso, que promete ser duradouro.
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