sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Quando vale tudo para manter o estado das coisas!


Os incêndios de Monchique já estão apagados, mas convirá não esquecer quem andou nas televisões a incitar as populações à insubordinação civil, instando-as a ficar em casa, apesar dos riscos de nelas acabarem estorricadas. Numa altura em que os argumentos políticos contra a governação esboroam a cada divulgação dos indicadores do INE, propiciarem-se condições para se verificarem umas quantas vítimas mortais foi hipótese explorada até á náusea por gente sem escrúpulos. Os mesmos que, noutras matérias relacionadas com a vida, parecem ter convicções tão firmes, que procuram impô-las a quem delas discorda. Como escreveu Miguel Guedes no «Jornal de Notícias» “é espantoso ver tantas pessoas a valorizar mais a vida humana em feto (contra a interrupção voluntária da gravidez) ou a vida desumana em sofrimento atroz (contra a eutanásia), do que a vida de quem teima, por natural desespero, em ficar sozinha em casa a defender a sua propriedade para, possivelmente, nela morrer.
No mesmo texto o colunista também aborda outra candente questão relacionada com o desprezo pelas vidas alheias: o da queda da ponte em Génova. O que escreve é constatação puramente factual: “A ponte Morandi em Génova foi construída com betão leve nos anos 60 e vinha com um prazo: durabilidade máxima de 30 anos. Contavam-se cerca de 20 pontes como esta em todo o Mundo. Todas elas foram demolidas e reconstruídas. Todas, excepto a que ontem caiu, vitimando dezenas de pessoas. O caso único, a única comparação que faz sentido.”
Naquilo que vamos lendo, a indiferença para com a triste sorte dos mais desfavorecidos também ganha particular expressão na América de Trump, onde quem deveria estar a viver tranquila reforma se viu obrigado a voltar ao mercado do trabalho vítimas dos fundos abutres, que os espoliaram das poupanças, e pelos cortes nos apoios sociais. Razão para muitos idosos verem-se obrigados a trabalhar em empregos mal pagos até ao limite das depauperadas forças. Segundo o próprio Gabinete de Estatísticas do Trabalho da Casa Branca, os trabalhadores com mais de 75 anos representam uma fatia cada vez maior da população ativa e correspondem já a 85% do crescimento total da força de trabalho.
Nessa mesma América continua em curso a investigação sobre a interferência russa nas eleições norte-americanas que, mesmo com probabilidade reduzida, poderá expulsar Trump da Casa Branca ... Substituindo-o pelo não menos perigoso Mike Pence.
O que parece ser esquecido pelos media americanos é que o escândalo hoje pressentido por muitos dos seus editorialistas, deveria também ter sido escalpelizado e condenado, quando a CIA andou à solta na União Soviética, agindo para que o frouxo Gorbatchev fosse substituído pelo seu putativo agente Ieltsin. Nessa altura valeu tudo, conspirando e falsificando notícias, sobretudo quando as eleições para a Duma resultaram numa vitória inesperada dos comunistas e seus aliados. Ou assumissem a mesma indignação ao ser anunciado pelos serviços secretos alemães - há menos de dois meses! - que a filha de Himmler, trabalhara para essa mesma CIA a partir dos anos 60 apesar das suas recorrentes declarações de apoio ao regime nazi e às organizações de extrema-direita da Alemanha Ocidental. Mas a agência de espionagem norte-americana não tivera como seu responsável máximo em território alemão o nazi Reinhard Gehlen, que transitara diretamente desse tipo de atividade na Wehrmacht, quando a derrota nazi se consumara?
Há gente que não muda: quer os opinadores das direitas em Portugal, quer os agentes imperialistas não olham a meios, nem se compadecem com escrúpulos, para preservarem a ordem capitalista...

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