Felizmente vivo num país, que a Constituição reconhece ser republicano e laico. Execro a instituição monárquica, porque descreio totalmente da possibilidade de passarem de pais para filhos os méritos da boa governação - a História dos Reis de Portugal monárquico está pejada de facínoras e atrasados mentais! - e anseio ver a portugalidade liberta do obscurantismo inerente a todo o tipo de religião.
Congratulo-me, pois, por não ver o Presidente da República a tomar posse, jurando sobre a Bíblia, e arrepia-me quando o atual ou o anterior, trazem as coisas de Deus, onde elas não deveriam ter qualquer cabimento. Por isso mesmo detesto a vertente da política americana, que obriga os seus principais responsáveis a verbalizarem continuamente expressões do tipo «In God we trust», ou «So, help me God!».
Quando Marcelo faz depender da vontade do Deus em que acredita a decisão de se vir ou não a recandidatar a novo mandato, comete um pecado indesculpável para quem se apresenta como um beato sempre pronto à genuflexão. Não proíbe o Segundo Mandamento o recurso fútil ao nome de Deus, sobretudo reiterado no Exodus, 20,7, que afiança não deixar o Senhor impune aquele que pronuncia o Seu nome em vão?
O que faz Marcelo? Para uma questão estritamente mundana, sem qualquer ligação à espiritualidade de que se reivindica, vai arregimentar Deus como alibi?
Não é fácil adivinhar as condições que ele porá ao exercício de mais um mandato em Belém: se tiver esperanças de pôr fim á maioria das esquerdas, substituindo-a pela que se revelar bem mais simpática aos amigos com quem tanto prezava conviver, quando era convidado de Ricardo Salgado, comparecerá ao veredito das urnas, ciente de recorrer tanto quanto possível ao seu conhecido gosto pela intriga para pôr em causa o governo.
Se, pelo contrário, lhe cheirar a forte possibilidade de ver-se reduzido a mero corta-fitas sem poder efetivo para infletir a atual tendência política, quererá sair mais cedo, ainda a usufruir de significativo reconhecimento pelos atoleimados com quem multiplicou selfies e abraços, preferindo ficar para a História como um dos Presidentes mais «populares».
Não se trata de Deus se preocupar sequer com tão insignificante cordeiro. A existir teria por certo outros devotos a quem dedicasse a atenção. Mas, num país onde Fátima ainda cativa tanta incultura, Marcelo sabe que invocando Deus, mesmo pecando, ainda lhe vai mantendo estável o inepto rebanho...
Sem comentários:
Enviar um comentário