sábado, 30 de junho de 2018

O esforço gigantesco, mas inadiável, que urge alavancar


O meu europeísmo já conheceu melhores dias. Hoje leio o que se terá passado no Conselho Europeu desta semana e não posso deixar de compreender António Costa, quando confessou ter sido das reuniões mais horríveis em que terá participado. Porque, ao olhar à sua volta, e tirando meia-dúzia de governantes razoavelmente aceitáveis, aquela mesa estava pejada de uma autêntica galeria de horrores, onde se juntaram as diversas gradações em que se pode subdividir o fascismo, desde a xenofobia populista ao racismo mais larvar.
Teremos de dobrar a finados por uma União Europeia, que começou a avançar para a degenerescência, quando o corpo burocrático sedeado em Bruxelas começou a ganhar um imparável crescimento tentacular, cuidando prioritariamente dos seus próprios interesses do que da coesão tão necessária a culturas distintas e de rendimentos desiguais? Convenhamos que os rostos de Durão Barroso ou Jean Claude Juncker como seus símbolos só poderiam prenunciar o pior. Mas o problema vem de muito atrás, quando o alargamento para leste teve uma ambição ideológica, que pretendia erradicar do continente as utópicas aspirações a sociedades mais justas.
Convenhamos que as direitas souberam utilizar em seu proveito o consumismo como ferramenta ideal para agilizarem o individualismo correspondente ao modelo neoliberal, porque o acesso aos sinais mais evidentes de riqueza só aos mais aptos estaria acessível, por muito que a maioria pensasse caber no estreito funil dos que lhes gozariam as delícias. E a qualificação de aptos não corresponderia a mais mérito e competência nos saberes, mas à chico-espertice de vir a integrar as cumplicidades dos que, partilhando cunhas  - as eufemísticas networks - se foram apossando dos cargos com potencial para enriquecerem e ajudarem os amigos a imitarem-nos nas lautas contas em paraísos fiscais.
Chegámos a um ponto em que se admiram os Portas ou os Relvas por terem agendas pessoais repletas dos números de telemóvel de quem importa contactar. Vemos com naturalidade Rui Rio antecipar-se a António Costa no encontro com o presidente angolano, porque o levou pelo braço um atrevido lobista , essa profissão a quem alguns parlamentares  pretendem dar a «dignidade» de profissão reconhecida.
Não admira que desse caldo de cultura tenha emergido essa geração de antigos jotinhas laranjas, que tão só chegados a cargos autárquicos logo trataram de, por avenças e contratos, garantirem bons negócios aos amigos, cujos pagamentos passaram a ser assegurados pelos cofres municipais, mas lhes devolviam a generosa comissão em dinheiro vivo. É o esqueleto desmascarado pela Operação Tutti Frutti, cujos contornos foram sendo conhecidos esta semana.
Infelizmente os partidos, os sindicatos e outras associações vocacionadas para a defesa de ideais e dos interesses de quem representam, foram sendo tomados de assalto por gente apenas interessada em encher os bolsos, não se preocupando sequer com os princípios enunciados nos seus programas e estatutos. Daí que urja uma boa barrela, depurando-os de arrivistas sem escrúpulos, e possibilitando que neles emerjam quem olha para a realidade em função dos desafios nela pressentíveis e nela encontrem as soluções mais adequadas para que a democracia, tal qual foi formulada na Europa a partir do século XVIII, reencontre as avenidas largas por onde se possam amplificar os anseios de mais liberdade, igualdade e justiça para todos. De Bruxelas, aos partidos e outras formas de associativismo democrático a nível global - sobretudo nos das esquerdas, já que os das direitas sofrem de um ADN irreparável! - o esforço afigura-se-nos gigantesco. Mas inadiável...

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Uma maioria parlamentar que já o não é ou que apenas ganha fôlego para voltar a sê-lo?


Nunca gostei, não gosto e nunca gostarei da fórmula emitida por um sujeito nem polido nem valente, que Paulo Portas citou para designar depreciativamente a maioria parlamentar saída das eleições de 2015. Por isso a não uso, apesar de figurar no título da crónica de ontem e Daniel Oliveira, que a dá como definitivamente morta por culpa do taticismo de António Costa. Segundo o articulista, ele tanto ansiou conquistar votos à direita acordando com os patrões uma matéria em negociações com o Bloco, que se arrisca a tudo perder. Não só esses apoios de quem começa a ver Rio como alternativa menos odiosa que a anterior, como dos que, no lado contrário, concretizavam nas urnas uma simpatia mesclada com a utilidade de darem fôlego a governação apostada em diminuir as desigualdades. Constata Oliveira que “Costa ganha votos aos partidos mais à esquerda quando os trata bem. Quando os desrespeita perde a simpatia desses eleitores”.
Embora ainda não tenha um impacto suficientemente significativo para fazer tocar as sinetas de alarme no Largo do Rato as sucessivas quebras nas sondagens deverão fazer pensar o primeiro-ministro, que dificilmente alcançará a maioria absoluta, equivalente a poder livrar-se da necessidade de consensos com outras forças parlamentares.
É verdade que bloquistas e comunistas também não se livram de darem mostras de insensatez, como provam os apoios às reivindicações dos professores que, além de incomportáveis para os orçamentos dos próximos anos, também pecam por injustas (poderá justificar-se que cheguem todos ao topo das respetivas carreiras por mera contabilização dos anos de serviço?), mas quando Costa põe Maria de Belém a tratar da Lei de Bases da Saúde porta-se como o camponês, que põe uma raposa a guardar o galinheiro e quando possibilita a Vieira da Silva que acorde com patrões aquilo que, parlamentarmente, estava a ser negociado com os partidos à esquerda, está a denunciar opções contraditórias com a vontade de militantes e simpatizantes socialistas que, não só querem ver as direitas afastadas do poder por muitos e bons anos, como querem sentir como consequentes as palavras em prol de maior justiça e igualdade para todos os portugueses.
Não admira assim que as redes sociais revelem número crescente de eleitores socialistas a formularem o desejo de se manter a maioria relativa, que imponha a António Costa a obrigação de prosseguir com os consensos à esquerda. A menos que lhe passe pela ideia a recriação de um Bloco Central que a História já comprovou ser a via acelerada para que os socialistas voltem a penar na oposição.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Quanto nos custam as propostas do CDS


Quanto nos tem custado com as suas políticas, ora impostas quando teve ministérios por sua conta, ora nas que bloqueia quando faz da demagogia fácil a forma de se afirmar opositora à atual governação?
Na sua coluna semanal no segundo caderno do «Expresso» Francisco Louçã acusa Assunção Cristas de ter mudado as nossas cidades com a nova lei do arrendamento, que possibilitou a rápida expulsão das populações dos bairros históricos. Chegou-se a uma situação em que se conclui que a cidade não é para novos, não é para velhos e não é para comerciantes, a não ser que sejam marcas de prestígio.
Constata Louçã:  “o CDS é muito caro, sobretudo para si, inquilino que vai ser despejado, para a sua filha, que já não pode comprar uma casa, ou para os seus netos, que nem pensar em alugar um quarto quando forem para a universidade.”

Esse falso herói cujas ambiguidades têm sido mais do que muitas


Um dos maiores equívocos dos últimos vinte anos tem sido essa personagem corrupta chamada Xanana Gusmão. É pena que a maioria dos que o olham com o capital de simpatia devido em tempos à resistência maubere contra o invasor indonésio se esqueça das palavras por ele proferidas a partir da prisão em que incitava os compatriotas a renderem-se ao ocupante, aceitando uma situação, que a realidade veio a demonstrar ser revertível. Estará por identificar qual era verdadeiramente o papel que os indonésios pretendiam atribuir-lhe se houvessem conseguido incorporar a ex-colónia portuguesa no seu território, mas confiemos que, num prazo não muito longínquo a abertura dos arquivos da polícia secreta de Jacarta no-lo venha esclarecer. Assim como valerá a pena estar atento para qual era o papel da ex-mulher Kirsty Sword na questão da partilha dos recursos petrolíferos offshore entre Timor e a Austrália e que há quem afiance não ter sido particularmente benéfica para os interesses de Dili.
Após a independência Xanana tudo fez para impedir a governação da Fretilin, que representava quem nunca se rendera ao invasor e nem desistira de o combater, mesmo que com enormes sacrifícios e custos em vidas. Pior ainda os sucessivos governos dirigidos ou inspirados por Xanana foram marcados por uma corrupção sem freios, razão para que o Presidente Lu Olo tivesse vetado alguns dos nomes agora por ele reindigitados para cargos sujeitos ao mesmo tipo de «tentações».
Não gostando dessa decisão de elementar higiene política, Xanana amuou. Mas o que seria de esperar de quem cuidou de expulsar sumariamente os magistrados portugueses colocados em Díli para ajudar à criação do poder judicial do novo Estado, quando quiseram investigar os negócios em que o sabiam envolvido?

A pobreza, pois então...


Na revista «Sábado», Pacheco Pereira critica a «masturbação da dor» a que se dedicam os telejornais, que fazem reportagens ininterruptas a partir dos locais dos incêndios do ano passado com propósitos nada inocentes, mas igualmente sem qualquer valia efetiva para quem nelas passa por vítimas do abandono do interior do país. A razão para o sucedido é bastante óbvia e não se resolvem com promessas nem com  aproveitamentos presidenciais: “Este é caldo de cultura para a asneira, muita emoção e pouca racionalidade. Se alguém pensa que isto ajuda a resolver os problemas dos fogos, ou o ressuscitar de terras que estavam quase mortas e vão continuar a estar, está muito enganado. Ouvi apenas uma voz dizer coisas acertadas, e era um sotaque estrangeiro, num português com sotaque: "Sabe qual é o problema? É a pobreza, estas pessoas eram pobres."“

Para que a infâmia conheça urgente termo


A notícia sobre a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem a propósito de Paulo Pedroso  já tem uns dias, aqui a abordámos por duas vezes, mas merece ser reiteradamente considerada, porque as causas que lhe presidiram - a iniquidade da (In)Justiça quando se trata de inculpar políticos conotados com o Partido Socialista e o vergonhoso jornalismo de sarjeta, que lhe serve de altifalante e consuma inculpações negando qualquer direito à presunção de inocência - continuam a existir e a não serem resolvidas com a vacina adequada.
Daniel Oliveira retoma o assunto num artigo publicado na edição diária do «Expresso» em que a considera uma acusação de facto à justiça portuguesa por prender sem indícios e sem que os arguidos saibam do que são acusados.
Academicamente o autor do texto esperaria que os jornalistas então mobilizados para disseminarem a mentira pedissem desculpa por terem destruído a vida de um homem e da sua família e que os procuradores e os juízes viessem dar explicações sobre tal arbitrariedade. Seria, porém, algo de impensável para quem mostrou ter da ética uma noção muito distorcida. A infãmia de tais intervenientes não tem espaço para qualquer remissão. São crápulas e não se eximem de o continuar a ser.
Conclui Daniel Oliveira: “Um dia estudaremos o caso Casa Pia com a distância da história. Ele servirá para retratar todos os entorses do nosso sistema judicial e a perversidade do jornalismo que dirige julgamentos sumários e executa ele mesmo a pena cívica. (...) Havemos de olhar para este caso como um dos mais abjetos exemplos do pior da justiça casado com o pior do jornalismo. Que se resume em duas palavras: irresponsável e arbitrário.”
Que não deixemos este caso no esquecimento, porque ele tem muito a ver com a decência, que devemos exigir para quem age na política, na justiça e no jornalismo. Ora o padrão de comportamento de muitos dos seus atores está muito abaixo do que lhes deveríamos reivindicar.

domingo, 24 de junho de 2018

A estratégia finória de Rui Rio


O truque resultou com Marcelo Rebelo de Sousa e, ainda que de outra forma, Rui Rio anseia repeti-lo: criar no eleitorado uma imagem mistificada de quem é, colhendo os votos de quem se deixa iludir por este tipo de estratégias.
Marcelo continua a ser apoiado por fatia substancial do eleitorado, que lhe ignora a faceta intriguista (vide o episodio da vichyssoise, que conseguiu enganar Paulo Portas) e até mesmo a que dele fazia habitual companheiro de férias de Ricardo Salgado, para quem trabalhava a sua parceira afetiva.
Com selfies e beijinhos vai enganando quem dele devia desconfiar como homem de mão dos interesses de quem pretende manter a sociedade desigual em que vivemos, evitando tanto quanto possível (mormente através do veto!) as leis passíveis de reduzirem as injustiças presentes.
Rui Rio segue outra estratégia, mas tem por objetivo o mesmo abocanhamento do poder. Há quem se iluda com a atual guerra interna entre ele e o grupo parlamentar, tal como se viu esta semana com a questão da sobretaxa sobre os combustíveis. Pensam que, coitado dele, tem de se haver com a tralha passista que o líder anterior lhe legou e dificulta a aposta numa oposição mais consequente ao atual governo.
Rio deve rir-se destas análises, ora dando palmadinhas nas costas a Negrão, com quem volta a almoçar esta semana, ora lançando-lhe farpas assassinas através dos jornais, seja em afirmações de circunstância, seja através dos colaboradores, que se apressam a soprar para as redações o seu incómodo com as decisões do líder parlamentar.
A intenção parece óbvia: ao aproximar-se das próximas legislativas ele escolherá os seus homens de confiança para comporem o grupo parlamentar laranja na próxima legislatura e causará um enorme sururu nos preteridos, que se verão condenados a perderem as mordomias e os rendimentos de nada fazerem de substantivo em São Bento. Essa publicidade extra, que poderia parecer nociva para o PSD, pelo contrário favorece-o, porque os eleitores terão sido preparados no entretanto para a dissonância do seu candidato a primeiro-ministro com toda aquela gente assustadora, que muitos não perdoarão por terem sido os rostos dos entusiásticos defensores da troika.
Rio surgirá assim à frente de um partido «renovado», que enjeita a herança de Passos Coelho e pode voltar a prometer que «branco mais branco não há» como qualquer detergente de sucesso.
Ora, com António Costa causticado à esquerda pelos partidos com quem constituiu a maioria parlamentar nestes dois anos e meio - e, na sua insensatez, capazes de votarem propostas que põem o CDS a embandeirar em arco por liderarem coligações negativas contra o governo -, sujeito ao desgaste dos casos cirurgicamente lançados pelos jornais e televisões a darem a aparência de um país desgovernado (o que lhes daria muito jeito uma nova campanha dos incendiários à solta pelo interior do país!) e com as alfinetadas cínicas de Marcelo, Rui Rio tem razões para ter esperança num resultado, que lhe devolva a expetativa de vir a liderar um governo com o CDS como muleta. Sobretudo, porque a enfraquecida Assunção Cristas já mostrou ser muita parra e pouca uva, não conseguindo descolar do lugar de «lanterna vermelha» nas sondagens e até acabando de perder a Distrital do Porto para a oposição interna, que achincalhou nas urnas a sua protegida Cecília Meireles.
Através dos professores, dos enfermeiros e de outras classes profissionais, que vão cuidando de, através dos seus protestos, erodir progressivamente os apoios ao governo, a direita ganha ânimo quanto à possibilidade de transformar este período de quatro anos num mero intervalo para a sua contínua ação de salvaguarda dos interesses do costume. Mário Nogueira e afins estão, como é seu timbre, a servir-lhe de idiotas úteis para um desígnio, que é o de sempre.

sábado, 23 de junho de 2018

A importância de acelerar o fim do sistema capitalista

Em Portugal ainda discutimos pouco as alterações climáticas e qualquer dos nossos grandes partidos ainda não interiorizou, nos respetivos discursos, que o problema radica na obsessão pelo crescimento económico. Se olharmos para o que dizem os líderes das forças políticas, que podem aceder à governação, nenhum deles equaciona a possibilidade de transição para um sistema económico completamente oposto ao capitalismo, mas também diferente do que foram as experiências de concretização do modelo comunista, porque uns e outros apostaram na produção de mais e mais riqueza na perspetiva dela contemplar quantos se sentem desfavorecidos. Ou pelo menos iludi-los nessa possibilidade.
E, no entanto, os sinais de alarme são múltiplos: em regiões dos vários continentes a falta de água potável anda a privar as populações de uma qualidade de vida digna e a situação tende a agravar-se com secas cada vez mais devastadoras e prolongadas. Noutros o risco de grandes tsunamis causados pela súbita desagregação de glaciares localizados nas altas montanhas ameaça a vida de milhares de habitantes, que vivem a jusante dos leitos de cheia pelos quais essas inundações ocorrerão. Na Califórnia a idiotice dos republicanos avessos ao reconhecimento do papel do Homem nas mudanças climáticas leva-os a explorar os recursos freáticos a uma profundidade sempre maior como se fossem inesgotáveis e não estivessem à beira do completo esgotamento.
Começam a surgir iniciativas de movimentos ecologistas apostados em exigir por via judicial que os poluidores do planeta - mormente os que produzem energia em centrais a carvão ou com uso intensivo de hidrocarbonetos - paguem os danos causados pelo progressivo aumento de emissões de CO2. Por agora o sucesso de tais iniciativas continua a ser improvável, mas a sucessão de catástrofes relacionadas com o aquecimento global tenderá a infletir essa relação de forças e a impor uma mudança que, a operar-se demasiado tarde, poderá não ir a tempo de manter a exequibilidade da nossa civilização. 

As lições que temos de aprender com quem está do outro lado da trincheira


Estando já em curso a Assembleia Geral dos sócios do Sporting confesso algum interesse pelo que a seguir acontecerá. Não tanto pelo futuro da instituição em si, que me é perfeitamente indiferente, mas pelo percurso de Bruno de Carvalho na sua ascensão e queda, que se me afigura interessante enquanto fenómeno populista de cariz neofascista.
No fundo vale a pena estar atentos a este tipo de fenómenos numa lógica de reprodutores de comportamentos coletivos, que nos poderão ensinar a evitá-los antes de ganharem dimensões incontroláveis. Nesse sentido dou total razão a João Rodrigues quando, ontem à noite num debate sobre populismos organizado pela Forum Manifesto no Restaurante O Bispo no Seixal, reconhecia na direita uma capacidade bastante mais desenvolvida de atentar no que se passa à esquerda para melhor a combater ou replicar-lhe as receitas estratégicas de sucesso. Ao invés a esquerda - e eu pecador me confesso! - assume alguma arrogância face à direita recusando-se a lê-la, a assistir-lhe á explanação de argumentos ou a analisar-lhe mais detalhadamente o fundamento dos seus projetos, arriscando-se, assim, a ficar desarmada perante a assertividade que eles possam colher nos seus tácitos eleitores.
Embora dele me reivindique sou o primeiro a reconhecer que a máxima de Terêncio faz todo o sentido: tudo o que é humano nos deve interessar.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

A demagogia de Cristas & Cº desmascaradas na Assembleia da República


Grande intervenção a de João Galamba no debate quinzenal de ontem na Assembleia da República!
Não é que seja uma novidade a enorme qualidade do seu desempenho como tribuno parlamentar, mas a forma como desmascarou a demagogia de Assunção Cristas e do PSD quanto à forma como têm reagido ao novo Orçamento Europeu, que reduz as verbas atribuídas a Portugal, demonstrou a má-fé, a vigarice de quem entenderia possível ao governo de António Costa impor mudanças aos demais parceiros comunitários de forma a aceitarem perder ainda mais verbas para que o volume de euros destinados ao nosso país se mantivesse idêntico ao anterior ou, quiçá, pudesse aumentar. Para quem o ouviu a explicação de Galamba foi didática, porque tão simples, quanto elucidativa: não só houve o corte devido ao Brexit - o Reino Unido era um dos grandes contribuintes das receitas previstas no orçamento comunitário! - como a ação da diplomacia portuguesa junto de Bruxelas conseguiu minimizar os custos dessa situação, conseguindo reduzi-la para apenas 6%, quando para outros esses cortes assumem dimensões acima de 20%.
É certo que a Espanha aqui ao lado, viu reforçado o valor previsto nesse financiamento europeu, mas é fácil concluir que na comparação per capita, Portugal continua a ser bastante mais beneficiado do que os nossos vizinhos ibéricos, conseguindo ser o 5º país melhor posicionado nesse indicador a nível europeu.
A intervenção de João Galamba teve o condão de reiterar o que já sabemos: a exemplo do conhecido propagandista nazi, a direita portuguesa repete mil vezes as suas mentiras na expetativa de ver os eleitores aceitarem-nas como verdadeiras. Continuam a minimizar-lhes, obviamente, a inteligência!

terça-feira, 19 de junho de 2018

Sinais de esperança na negra conjuntura internacional


Existem várias razões para crer que este ciclo político - caracterizado pela ascensão de políticos populistas ao poder e o crepúsculo de uma social-democracia incapaz de se adaptar a contingências económicas muito diferentes da época em que as medidas sociais eram possíveis não só como contraponto a uma falsa utopia eventualmente existente para lá da Cortina de Ferro, mas também como resultado dos superavits propiciados pelas inovações nos meios de produção e na energia barata, que o choque petrolífero de 1973 veio pôr em causa - venha a ter um fim muito em breve.
A incapacidade de ter um discurso atrativo para quem melhor deveria acolher as suas propostas, levou os partidos sociais-democratas e socialistas europeus a verem os seus eleitores fugirem para as extremas-direitas, que já tomaram o poder na Turquia, na Polónia, na Hungria, nos Estados Unidos, na Áustria, na Itália, na Eslováquia, na Rep. Checa e ameaçaram consegui-lo em França, na Alemanha, na Finlândia ou na Suécia.  Ou a deixarem-se seduzir por coisas oportunistas como o foram o Movimento 5  Estrelas em Itália ou o Republique en Marche em França. Ora é nestes últimos, que se está a verificar o desmascaramento muito rápido do que era o seu intento ao surgirem aos eleitores como algo de novo: em Itália, apesar de ser o partido mais votado, o movimento do palhaço Grillo limita-se a ser muleta subserviente de quem verdadeiramente abocanhou o poder, esse partido fascista que demonstrou a verdadeira natureza logo no sua primeira decisão governativa: a rejeição dos náufragos acolhidos no «Aquarius» e, entretanto, recebidos em Valência.
Se quisermos acreditar no primado da decência coletiva sobre a ignomínia de muitos fascistas europeus, a atitude do governo socialista espanhol revela uma superioridade moral, que ecoará nos que olharão para Salvini e seus aliados como os crápulas, que são.
Por outro lado, em França, o partido de Macron ameaça desmembrar-se mostrando o quão frágeis eram os princípios em que se baseava, suficientemente falaciosos para nele se terem reconhecido quem, afinal, lhe desaprova a clara opção direitista. As esquerdas francesas têm a oportunidade de, depois de defenestradas pelo oportunista, que ocupa o Eliseu, encontrar a estratégia capaz de replicar além-Pirenéus o que deste lado vai sucedendo. Tanto mais que a direita sarkozista conhece guerras internas, que a vão fragilizando, esperando-se idêntico cenário com o feudo de Marine Le Pen em vias de ser ameaçado pela ambiciosa, e ainda mais sinistra, sobrinha.
E que dizer do que se passa nos Estados Unidos onde as primárias republicanas para as eleições de novembro vêm sendo ganhas pelos apoiantes de Trump em detrimento das antigas e tradicionais tendências? Prefigura-se um embate entre candidatos democratas, que entre a ala esquerda de Sanders e a mais conservadoras, terão um outro nível de decência, e os defensores de coisas tão horríveis como a separação de crianças dos respetivos pais. Se isso bastar para inverter a relação de forças na Câmara dos Representantes e no Senado, algo poderá mudar quanto às políticas vindas do outro lado do Atlântico. Nomeadamente bloqueando a ação nociva da Casa Branca, impondo-lhe os freis, que outrora os Republicanos impuseram a Obama.
Acresce, enfim, a possibilidade real de, em breve, um dos ditadores chegados ao poder mediante eleições supostamente democráticas - Erdogan - ver-se derrotado pela mesma via num escrutínio antecipado por ele convocado ciente de, quando mais tempo demorar a convocar os eleitores, pior resultado terá, tão nocivos se revelam os efeitos das suas políticas junto de quem o chegou a julgar como um messias vindo á Terra para os salvar...

Já lá vem outro caminho!


A História tem-nos demonstrado inúmeras vezes que, quando a queda no abismo parece iminente, uma reviravolta vira de pantanas as piores expetativas, que poderíamos ter sobre o futuro próximo, e ele volta a afigurar-se-nos esperançoso como já admitíamos, que o não viesse a ser. Até porque víramos entretanto as vítimas acumuladas como saldo tenebroso do que contra elas se conjugara.
Foi assim com os judeus durante a Segunda Guerra Mundial cujo drama levou alguns deles, ainda que distanciados dos campos de concentração, a porem fim aos seus dias por não poderem suportar uma ameaça, que se lhes tornava mais tangível cada dia que passava. Os nunca por demais citados casos de Virginia Woolf ou de Stefan Zweig, que não puderam acreditar na hipótese de o pesadelo cessar daí a poucos anos com a redução a escombros do Império, que se julgava invencível para os mil anos seguintes.
Olham-se as notícias e é difícil suportar a sucessão de situações, que causam tanta infelicidade a gente indefesa. Mormente às duas mil crianças separadas dos pais na fronteira com o México e engaioladas em centros sórdidos, que estarão a viver traumas psicológicos, que as afetarão por certo para o resto das suas vidas. Ou as atitudes de governantes europeus eivados de uma criminosa indiferença para com os milhares de desesperados, que se vêm afogar no Mediterrâneo sem sequer contarem com o tratamento milenarmente devido aos náufragos no alto mar. Ou as ameaças à paz na Colômbia pela eleição de uma marioneta do assassino, que mais mortandade causou no país, quando ele próprio foi o Presidente. Ou...
E, no entanto, se olharmos para as outras notícias, as que recebem menos atenção, mas comportam sinais de sinal diferente, concluímos ser extemporânea a rendição ao desespero. É que, a exemplo da formiga no carreiro da canção do Zeca Afonso, já lá virá outro caminho!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

A galeria de horrores nas bandas de Assunção Cristas


Os tempos não andam a correr de feição para Assunção Cristas, que vê agitarem-se as oposições internas já insatisfeitas com o notório fracasso da agenda populista da líder. Se antes das autárquicas e do anunciado desastre laranja ainda acalentavam a expetativa de crescerem em votos e em cargos públicos à medida das suas desmedidas ambições, a irrelevância prometida pelas sondagens anda a desesperar os mais impacientes, que fazem contas à vida e julgam ser hora de impor mudanças urgentes.
No Porto a contestação sobe de tom, sobretudo porque não conseguindo fazer valer a força dos votos dos militantes na eleição de Cecília Meireles como líder distrital, a presidente tem utilizado todos os recursos, legítimos e ilegítimos, para derrotar o rival que a defronta. Por outro lado, outra tendência anda insatisfeita com o pouco empenho na defesa das touradas e quer impor essa posição troglodita na imediata estratégia política do partido. Que importa a rápida desafeição dos portugueses por um espetáculo degradante e de mais do que justificada proibição?
Não é que esses opositores sejam menos maus do que quem ainda os dirige, mas têm, pelo menos a virtude de não estarem com demagogias primárias, revelando-se sem peias naquilo que são: uns fascistas recauchutados. Ora as últimas semanas têm sido pródigas nalgum aparato mediático para algumas personagens sinistras desta direita encostada á sua extrema malignidade: Machado, o assassino condenado, revelou a vontade de capitanear a turba abrutalhada da Juve Leo; a Vera de Medicina andou a propagar a ideia de se estar na iminência de se matarem os velhinhos. E a brasileira de Pedrógão, provavelmente admiradora de Balsonaro, voltou a viver alguns minutos televisivos de indigna glória, querendo justificar a ambição a um lugar de deputada nas próximas eleições - europeias ou legislativas - mas não conseguindo disfarçar, nem sequer um bocadinho, o nauseabundo oportunismo.
É caso para considerar que nas direitas mais extremadas vigora uma autêntica galeria dos horrores.

domingo, 17 de junho de 2018

Os sinais que Marcelo dá ao PSD quanto às exigências dos professores


Não há que ter ilusões quanto à bondade súbita de Marcelo Rebelo de Sousa quando, pelo «Expresso», dá conta da sua desaprovação á vontade manifestada por algumas figuras gradas do PSD em associarem-se ao Bloco e ao PCP na imposição da contagem total do tempo reivindicado pelos professores no Orçamento de Estado para 2019. Não é que ele queira facilitar a vida ao governo de António Costa que anseia ver pelas costas e substituído por um outro mais conforme com as suas opções ideológicas.
É precisamente por adivinhar possível essa hipótese - sobretudo se os professores, arregimentados pelos seus sindicatos e pelos partidos, que se lhes têm associado - revelem sucesso na repetição da «bela» obra que conseguiram quando, na década transata, cuidaram de fragilizar os governos de José Sócrates de forma a possibilitar-lhe a substituição pelo de Passos Coelho.
Os que agora protestam nada aprenderam com o então sucedido e, como alguém dizia nas redes sociais, se daqui a um par de anos voltarem a recolher os «frutos» que a coligação das direitas lhes proporcionaram entre 2011 e 2015 não terão mais do que aquilo que se esforçam por merecer.
O problema que Marcelo pressente é que, colando-se o PSD oportunisticamente a esta luta insensata, estará a semear as pedras por que terá de passar se voltar a ser governo, porque os encargos futuros do Estado com os encargos agora reivindicados serão incomportáveis e condicionarão esse futuro. Porque só recorrendo ao argumento sólido da demografia, que faz existirem cada vez mais professores para um número de estudantes em clara redução, para impor despedimentos massivos no setor conseguirá conter a despesa do Estado em limites, que não arrastem o país para défices ingeríveis.
Marcelo sabe  que o PCP e o Bloco - agora a demonstrar que cinge a ambição a manter-se partido de protesto e não de governo numa coligação com o PS! - podem tudo exigir, porque nunca terão de se haver com as consequências do seu aproveitamento populista às exigências corporativas inaceitáveis dos professores. Mas o PSD aspira a voltar ao governo e, segundo o seu antigo militante e atual presidente, não poderá criar hoje as dificuldades, que não saberá como resolver amanhã se quiser evitar medidas demasiado impopulares. Porque não tenhamos dúvidas que só com grandes aumentos de impostos de todos os demais contribuintes é que os professores e as outras classes profissionais, que os imitam nas mesmas exigências, poderão vê-las satisfeitas.
Ora, pela parte que me diz respeito, sei que já pago impostos a mais para aquilo que o Estado me propicia em serviços públicos dignos desse nome. E muito menos quero voltar a ver-me espoliado dos milhares de euros que, entre 2011 e 2015, o governo das direitas me roubou como efeito dessa coligação nefasta que professores e partidos à esquerda do PS organizaram para o afastar do poder. Os professores que se cuidem, porque o seu prestígio social - que deveria ser uma das suas preocupações essenciais - vai decaindo mais e mais, à medida que se comportam egoisticamente sem olhar para os interesses de todos os demais cidadãos...