sexta-feira, 1 de junho de 2018

Como se o eleitorado fosse algo de rígido, de estático!


Uma das mistificações mais comuns nos nossos «comentadeiros» poderia resumir-se a uma fórmula simplista:  o Partido Socialista teria vantagens em posicionar-se ao centro para atrair eleitorado do PSD, porquanto situar-se à esquerda só significaria cativar uns esparsos votos do Bloco e ainda menos do PCP. Quando o tema se coloca é ver gente mais do que suspeita a pedir por favor, que o PS se reoriente na direção do Bloco Central. Essa tese surgiu, por exemplo, na entrevista que o «Expresso» fez a Augusto Santos Silva  na semana passada em que Luísa Meireles a enunciava, decerto com voz doce, e não tivesse diante de si um assumido defensor desse reposicionamento do Partido.
O interlocutor não se terá deixado cativar pelo canto da sereia e respondeu-lhe com a sua habitual sagacidade, que muito deixa transparecer no pouco que sugere dizer de facto, mas essa escusa a deixar-se enredar na armadilha não implicou clarificar o mais óbvio: abordagens feitas nessa forma esquecem-se que o eleitorado no seu todo não é estático. Não se trata, pois, de piscar o olho mais para a esquerda ou para a direita para cativar o máximo número de votos em eleições.  Basta olharmos para o resto da Europa e vermos como eleitorados frequentemente associados a tendências mais à esquerda, viraram completamente à direita como consequência de políticas de austeridade, que puseram em causa a proteção social, que mitigava as condições de pobreza mais complicadas de muitos dos seus cidadãos, ademais potenciadas pelos sucessivos afluxos de refugiados vindos de África ou da Ásia em relação aos quais os demagogos criaram receios tendentes a suscitarem anseios securitários.
Na Itália, na Áustria, na Hungria ou na Polónia, as esquerdas não encontraram a tempo discurso eficiente que impedisse as lamentáveis derivas dos eleitorados para a direita, e mesmo para a extrema-direita, que tanto custarão a infletir.
Em Portugal também abundam o mesmo tipo de demagogos, que se servem da imprensa em geral, e das televisões em particular, para gerarem idêntica «direitização» dos imaginários coletivos, mas sem o sucesso por que ansiavam. Uma das mais evidentes e falhadas tentativas nesse sentido foi a de acusarem o Estado ( e implicitamente o governo!) de falhar aquando dos grandes incêndios do ano transato. Ora não tinham sido essas mesmas vozes a, anos a fio, defenderem a destruição do Estado, para eles demasiado grande em funcionários e em meios neles investidos através dos tão reclamados impostos? Não proclamavam que menos Estado é que significaria melhor Estado?
Se essa incapacidade das direitas em inverterem a queda eleitoral, que, pelas sondagens conhecidas, se lhes perspetiva é porque não tem bastado mentirem descarada e diariamente aos eleitores. Eles sentem a carteira um pouco mais folgada desde que este governo iniciou funções e sabem-no capaz de bem gerir o Estado de modo a verem-no capaz de melhor lhes servir os anseios na Saúde, na Educação, na Segurança Social e nos outros aspetos em que a qualidade de vida melhor se usufrua. Por isso o eleitorado tende para a esquerda, cabendo ao Partido Socialista acompanhá-lo nessa animosa evolução. Até porque a maioria dos seus militantes sente-se efetivamente à esquerda, sem simpatia pelo tal centro, que é coisa de meias tintas, de inconsistente...

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