O truque resultou com Marcelo Rebelo de Sousa e, ainda que de outra forma, Rui Rio anseia repeti-lo: criar no eleitorado uma imagem mistificada de quem é, colhendo os votos de quem se deixa iludir por este tipo de estratégias.
Marcelo continua a ser apoiado por fatia substancial do eleitorado, que lhe ignora a faceta intriguista (vide o episodio da vichyssoise, que conseguiu enganar Paulo Portas) e até mesmo a que dele fazia habitual companheiro de férias de Ricardo Salgado, para quem trabalhava a sua parceira afetiva.
Com selfies e beijinhos vai enganando quem dele devia desconfiar como homem de mão dos interesses de quem pretende manter a sociedade desigual em que vivemos, evitando tanto quanto possível (mormente através do veto!) as leis passíveis de reduzirem as injustiças presentes.
Rui Rio segue outra estratégia, mas tem por objetivo o mesmo abocanhamento do poder. Há quem se iluda com a atual guerra interna entre ele e o grupo parlamentar, tal como se viu esta semana com a questão da sobretaxa sobre os combustíveis. Pensam que, coitado dele, tem de se haver com a tralha passista que o líder anterior lhe legou e dificulta a aposta numa oposição mais consequente ao atual governo.
Rio deve rir-se destas análises, ora dando palmadinhas nas costas a Negrão, com quem volta a almoçar esta semana, ora lançando-lhe farpas assassinas através dos jornais, seja em afirmações de circunstância, seja através dos colaboradores, que se apressam a soprar para as redações o seu incómodo com as decisões do líder parlamentar.
A intenção parece óbvia: ao aproximar-se das próximas legislativas ele escolherá os seus homens de confiança para comporem o grupo parlamentar laranja na próxima legislatura e causará um enorme sururu nos preteridos, que se verão condenados a perderem as mordomias e os rendimentos de nada fazerem de substantivo em São Bento. Essa publicidade extra, que poderia parecer nociva para o PSD, pelo contrário favorece-o, porque os eleitores terão sido preparados no entretanto para a dissonância do seu candidato a primeiro-ministro com toda aquela gente assustadora, que muitos não perdoarão por terem sido os rostos dos entusiásticos defensores da troika.
Rio surgirá assim à frente de um partido «renovado», que enjeita a herança de Passos Coelho e pode voltar a prometer que «branco mais branco não há» como qualquer detergente de sucesso.
Ora, com António Costa causticado à esquerda pelos partidos com quem constituiu a maioria parlamentar nestes dois anos e meio - e, na sua insensatez, capazes de votarem propostas que põem o CDS a embandeirar em arco por liderarem coligações negativas contra o governo -, sujeito ao desgaste dos casos cirurgicamente lançados pelos jornais e televisões a darem a aparência de um país desgovernado (o que lhes daria muito jeito uma nova campanha dos incendiários à solta pelo interior do país!) e com as alfinetadas cínicas de Marcelo, Rui Rio tem razões para ter esperança num resultado, que lhe devolva a expetativa de vir a liderar um governo com o CDS como muleta. Sobretudo, porque a enfraquecida Assunção Cristas já mostrou ser muita parra e pouca uva, não conseguindo descolar do lugar de «lanterna vermelha» nas sondagens e até acabando de perder a Distrital do Porto para a oposição interna, que achincalhou nas urnas a sua protegida Cecília Meireles.
Através dos professores, dos enfermeiros e de outras classes profissionais, que vão cuidando de, através dos seus protestos, erodir progressivamente os apoios ao governo, a direita ganha ânimo quanto à possibilidade de transformar este período de quatro anos num mero intervalo para a sua contínua ação de salvaguarda dos interesses do costume. Mário Nogueira e afins estão, como é seu timbre, a servir-lhe de idiotas úteis para um desígnio, que é o de sempre.
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