quarta-feira, 27 de junho de 2018

Uma maioria parlamentar que já o não é ou que apenas ganha fôlego para voltar a sê-lo?


Nunca gostei, não gosto e nunca gostarei da fórmula emitida por um sujeito nem polido nem valente, que Paulo Portas citou para designar depreciativamente a maioria parlamentar saída das eleições de 2015. Por isso a não uso, apesar de figurar no título da crónica de ontem e Daniel Oliveira, que a dá como definitivamente morta por culpa do taticismo de António Costa. Segundo o articulista, ele tanto ansiou conquistar votos à direita acordando com os patrões uma matéria em negociações com o Bloco, que se arrisca a tudo perder. Não só esses apoios de quem começa a ver Rio como alternativa menos odiosa que a anterior, como dos que, no lado contrário, concretizavam nas urnas uma simpatia mesclada com a utilidade de darem fôlego a governação apostada em diminuir as desigualdades. Constata Oliveira que “Costa ganha votos aos partidos mais à esquerda quando os trata bem. Quando os desrespeita perde a simpatia desses eleitores”.
Embora ainda não tenha um impacto suficientemente significativo para fazer tocar as sinetas de alarme no Largo do Rato as sucessivas quebras nas sondagens deverão fazer pensar o primeiro-ministro, que dificilmente alcançará a maioria absoluta, equivalente a poder livrar-se da necessidade de consensos com outras forças parlamentares.
É verdade que bloquistas e comunistas também não se livram de darem mostras de insensatez, como provam os apoios às reivindicações dos professores que, além de incomportáveis para os orçamentos dos próximos anos, também pecam por injustas (poderá justificar-se que cheguem todos ao topo das respetivas carreiras por mera contabilização dos anos de serviço?), mas quando Costa põe Maria de Belém a tratar da Lei de Bases da Saúde porta-se como o camponês, que põe uma raposa a guardar o galinheiro e quando possibilita a Vieira da Silva que acorde com patrões aquilo que, parlamentarmente, estava a ser negociado com os partidos à esquerda, está a denunciar opções contraditórias com a vontade de militantes e simpatizantes socialistas que, não só querem ver as direitas afastadas do poder por muitos e bons anos, como querem sentir como consequentes as palavras em prol de maior justiça e igualdade para todos os portugueses.
Não admira assim que as redes sociais revelem número crescente de eleitores socialistas a formularem o desejo de se manter a maioria relativa, que imponha a António Costa a obrigação de prosseguir com os consensos à esquerda. A menos que lhe passe pela ideia a recriação de um Bloco Central que a História já comprovou ser a via acelerada para que os socialistas voltem a penar na oposição.

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