domingo, 10 de junho de 2018

As inquietações de um apoiante desta maioria parlamentar


Não andam fáceis os dias para os que, a meu exemplo, acreditaram nas potencialidades da atual maioria parlamentar e anseiam vê-la replicada por muitos e longos anos de forma a evitar que as direitas austeritárias possam retomar o leme dos nossos destinos.
Seja nos jornais ou nas televisões, seja dentro do próprio Partido, parecem levantar-se forças dispostas a travar os perigos que a afirmação política dos «jovens turcos» poderá representar para os novos candidatos a serem os «donos disto tudo». A luta ideológica entre quem vê o futuro como espaço de afirmação dos valores socialistas e os defensores das falaciosas propostas da «Terceira Via», definirá muito do que será o futuro dos portugueses no seu todo. Ganhando os primeiros, criam-se condições para que as desigualdades diminuam e a precariedade seja eficientemente combatida. Ganhando os segundos eis-nos condenados ao percurso das pedras, que já conhecemos entre 2011 e 2015. Tanto mais que as condições externas andam a agravar-se a olhos vistos aumentando os juros com que o país se possa financiar nos mercados e ficando em perigo as exportações no contexto da guerra comercial entre Trump e o resto do mundo.
Ao contrário do que sugerem Louçã ou Jerónimo de Sousa não será a vontade de se libertar dos parceiros à esquerda, que motiva a António Costa quando se escusa a dar satisfação às reivindicações dos sindicatos dos professores. Acredito que ele veja como inevitável a sensata prudência perante um futuro próximo toldado de nuvens tormentosas.
Perder o equilíbrio nas contas públicas para dar satisfação aos interesses corporativos de uma classe profissional equivaleria a pôr um laço ao pescoço só esperando pelo momento em que as circunstâncias o viessem a apertar. E o próprio primeiro-ministro terá mais do que consciência do fundamento da tese há dias apresentado por Daniel Oliveira numa das suas crónicas do «Expresso»: enquanto o Bloco e o PCP podem fazer acordos com os socialistas para que estes governem, conquanto satisfaçam alguns requisitos de favorecimento das classes trabalhadoras, e sem nunca aspirarem a substitui-los no poder, o mesmo não se passa com o PSD, que facilitará algumas convergências como estratégia para ganhar tempo até os poderem derrubar. Daí que faça mais sentido a expressão de António Costa sobre evitarem-se mexedelas em equipa que ganha do que a lógica de um Francisco Assis, que causaria um suicídio político muito semelhante ao verificado noutros partidos socialistas ou sociais-democratas do espaço europeu.
A outra face do problema é o infantilismo esquerdista do Bloco ou a ilusória sensação comunista de conseguirem motivar as ruas em seu apoio. A manifestação deste sábado em Lisboa deverá ter causado séria apreensão em Arménio Carlos e nos que dela esperavam ter alavanca para forçar o governo a render-se às absurdas reivindicações dos últimos tempos. Porque, tendo sido um flop mal disfarçado, obrigará os  organizadores a equacionarem a oportunidade de repetirem iniciativas, que acabem por demonstrar o alheamento dos seus supostos apoiantes ao proporem a agudização do relacionamento com o governo.
Somos muitos os que pedem inteligência emocional a socialistas, comunistas e bloquistas, arrefecendo os ânimos mais exaltados e exigindo negociações de parte-a-parte que todos beneficiem, sobretudo os eleitores que neles se reconheçam e todos os outros que, ainda atraídos por discursos enganadores, resistam a render-se-lhes às virtualidades. O que equivalerá a, de um lado, ser realista nas reivindicações e, no outro, menos subserviente aos bancos do que se tem sido. Porque foi assustador ouvir um secretário de Estado pregar sobre a importância dos bancos invocando os impostos, que entregam ao Estado, afinal maioritariamente constituídos pelo IRS dos seus funcionários, ou a passividade com que se vê o Novo Banco transferir para a Lone Star a propriedade de milhares de imóveis muito mais valiosos do que a ninharia negociada por Sérgio Monteiro.
Se não se pode dar tudo às classes profissionais com maior poder reivindicativo, também não se se aceita que se olhe para o lado quando o fundo abutre apadrinhado pelo Banco de Portugal confirma os piores receios relativamente à última das operações financeiras, que caracterizaram a desgovernação de Passos Coelho como um autêntico «bodo aos muito ricos».
Cinco breves notas finais:
 - curioso o apagamento da notícia do roubo da medalha no Museu da Presidência da República, que mereceu da comunicação social muito menos relevância do que o das armas em Tancos. Se em relação a este último a imprensa pedia ostensivamente a cabeça do ministro da Defesa por não passar os tempos livres a fazer turnos ininterruptos de guarda ao paiol em causa, parece que nenhuma responsabilidade se imputa a um Marcelo, que vive ali paredes meias com o espólio roubado.
 - o aeroporto de Lisboa está a rebentar pelas costuras causando sérios danos de imagem junto dos turistas, que nos visitam e sofrem com os incómodos ali impostos. E, no entanto, andam caladinhos como ratos os que, no tempo do governo de Sócrates, diabolizavam a simples ideia de se construir um novo aeroporto. Não mereceriam que se lhes enviasse a fatura por todos os danos que andam a causar com tão criminosa campanha antinacional?
 - detesto a caridadezinha propiciada por Misericórdias e instituições afins, que servem de tropa fandanga a interesses eclesiásticos ou caciquistas. Mas a antipatia ainda mais se consolida, quando ficamos a saber que elas preparam-se para promover ativamente essa coisa execrável, que é a tourada!

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