Em Portugal ainda discutimos pouco as alterações climáticas e qualquer dos nossos grandes partidos ainda não interiorizou, nos respetivos discursos, que o problema radica na obsessão pelo crescimento económico. Se olharmos para o que dizem os líderes das forças políticas, que podem aceder à governação, nenhum deles equaciona a possibilidade de transição para um sistema económico completamente oposto ao capitalismo, mas também diferente do que foram as experiências de concretização do modelo comunista, porque uns e outros apostaram na produção de mais e mais riqueza na perspetiva dela contemplar quantos se sentem desfavorecidos. Ou pelo menos iludi-los nessa possibilidade.
E, no entanto, os sinais de alarme são múltiplos: em regiões dos vários continentes a falta de água potável anda a privar as populações de uma qualidade de vida digna e a situação tende a agravar-se com secas cada vez mais devastadoras e prolongadas. Noutros o risco de grandes tsunamis causados pela súbita desagregação de glaciares localizados nas altas montanhas ameaça a vida de milhares de habitantes, que vivem a jusante dos leitos de cheia pelos quais essas inundações ocorrerão. Na Califórnia a idiotice dos republicanos avessos ao reconhecimento do papel do Homem nas mudanças climáticas leva-os a explorar os recursos freáticos a uma profundidade sempre maior como se fossem inesgotáveis e não estivessem à beira do completo esgotamento.
Começam a surgir iniciativas de movimentos ecologistas apostados em exigir por via judicial que os poluidores do planeta - mormente os que produzem energia em centrais a carvão ou com uso intensivo de hidrocarbonetos - paguem os danos causados pelo progressivo aumento de emissões de CO2. Por agora o sucesso de tais iniciativas continua a ser improvável, mas a sucessão de catástrofes relacionadas com o aquecimento global tenderá a infletir essa relação de forças e a impor uma mudança que, a operar-se demasiado tarde, poderá não ir a tempo de manter a exequibilidade da nossa civilização.
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