sábado, 30 de junho de 2018

O esforço gigantesco, mas inadiável, que urge alavancar


O meu europeísmo já conheceu melhores dias. Hoje leio o que se terá passado no Conselho Europeu desta semana e não posso deixar de compreender António Costa, quando confessou ter sido das reuniões mais horríveis em que terá participado. Porque, ao olhar à sua volta, e tirando meia-dúzia de governantes razoavelmente aceitáveis, aquela mesa estava pejada de uma autêntica galeria de horrores, onde se juntaram as diversas gradações em que se pode subdividir o fascismo, desde a xenofobia populista ao racismo mais larvar.
Teremos de dobrar a finados por uma União Europeia, que começou a avançar para a degenerescência, quando o corpo burocrático sedeado em Bruxelas começou a ganhar um imparável crescimento tentacular, cuidando prioritariamente dos seus próprios interesses do que da coesão tão necessária a culturas distintas e de rendimentos desiguais? Convenhamos que os rostos de Durão Barroso ou Jean Claude Juncker como seus símbolos só poderiam prenunciar o pior. Mas o problema vem de muito atrás, quando o alargamento para leste teve uma ambição ideológica, que pretendia erradicar do continente as utópicas aspirações a sociedades mais justas.
Convenhamos que as direitas souberam utilizar em seu proveito o consumismo como ferramenta ideal para agilizarem o individualismo correspondente ao modelo neoliberal, porque o acesso aos sinais mais evidentes de riqueza só aos mais aptos estaria acessível, por muito que a maioria pensasse caber no estreito funil dos que lhes gozariam as delícias. E a qualificação de aptos não corresponderia a mais mérito e competência nos saberes, mas à chico-espertice de vir a integrar as cumplicidades dos que, partilhando cunhas  - as eufemísticas networks - se foram apossando dos cargos com potencial para enriquecerem e ajudarem os amigos a imitarem-nos nas lautas contas em paraísos fiscais.
Chegámos a um ponto em que se admiram os Portas ou os Relvas por terem agendas pessoais repletas dos números de telemóvel de quem importa contactar. Vemos com naturalidade Rui Rio antecipar-se a António Costa no encontro com o presidente angolano, porque o levou pelo braço um atrevido lobista , essa profissão a quem alguns parlamentares  pretendem dar a «dignidade» de profissão reconhecida.
Não admira que desse caldo de cultura tenha emergido essa geração de antigos jotinhas laranjas, que tão só chegados a cargos autárquicos logo trataram de, por avenças e contratos, garantirem bons negócios aos amigos, cujos pagamentos passaram a ser assegurados pelos cofres municipais, mas lhes devolviam a generosa comissão em dinheiro vivo. É o esqueleto desmascarado pela Operação Tutti Frutti, cujos contornos foram sendo conhecidos esta semana.
Infelizmente os partidos, os sindicatos e outras associações vocacionadas para a defesa de ideais e dos interesses de quem representam, foram sendo tomados de assalto por gente apenas interessada em encher os bolsos, não se preocupando sequer com os princípios enunciados nos seus programas e estatutos. Daí que urja uma boa barrela, depurando-os de arrivistas sem escrúpulos, e possibilitando que neles emerjam quem olha para a realidade em função dos desafios nela pressentíveis e nela encontrem as soluções mais adequadas para que a democracia, tal qual foi formulada na Europa a partir do século XVIII, reencontre as avenidas largas por onde se possam amplificar os anseios de mais liberdade, igualdade e justiça para todos. De Bruxelas, aos partidos e outras formas de associativismo democrático a nível global - sobretudo nos das esquerdas, já que os das direitas sofrem de um ADN irreparável! - o esforço afigura-se-nos gigantesco. Mas inadiável...

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