A grande vantagem de ter já vivido muitas vidas é que nelas couberam a passagem pela extrema-esquerda logo nos tempos subsequentes ao 25 de abril e ainda cabe a militância sindical. Tanto bastou para conhecer muitos lutadores empenhados em conseguirem mudar a sociedade no melhor sentido - o da maior justiça e igualdade entre quem nela vive! - mas também uns quantos oportunistas ali pousados apenas para dar satisfação aos seus inchados egos ou encontrarem forma de ascensão social.
O exemplo mais paradigmático do oportunista, que passou pela primeira daquelas experiências e depois se tornou no que foi e é hoje, chama-se Durão Barroso. Ele é o exemplo do medíocre arrivista capaz de tudo e o seu contrário para alcançar os seus fins, projetando-se muito para além do que justificariam os seus limitados dotes.
Que deixou escola não se duvide. Um outro exemplo bastante elucidativo tem sido o da progressiva deriva de Joana Amaral Dias para a direita, depois de ter sido uma das caras mais conhecidas do Bloco de Esquerda, quando este apareceu. Incapaz de se afirmar nesse partido, dele saiu aproximando-se dos socialistas, onde não encontrou abrigo suficientemente atrativo para as suas ambições. Nas eleições mais recentes vemo-la a concorrer em listas híbridas de coisas dificilmente enquadráveis num posicionamento político claro (o «Nós Cidadãos»). Mais tarde ou mais cedo não nos admiraria que surgisse a abrilhantar alguma coligação de direita de braço dado com a Cristas.
Na mesma linha está André Pestana, uma nova «estrela» do sindicalismo dos professores e a quem as televisões e os jornais têm levado ao colo desde que fundou o 23º sindicato da classe. Incapaz de conquistar um lugar ao sol num dos outros sindicatos existentes ele optou por essa opção divisionista na linha com o que já havia feito por onde passara: no mesmo Bloco da Joana, como ninguém o levou a sério saiu com Gil Garcia na expetativa de ver o MAS ganhar uma relevância, que nunca conheceu. Os eleitores têm olhado para esse arroto esquerdista com o desprezo, que merecem os seus defensores. Razão para o descoroçoado André tentar uma jogada oportunista com maior potencial: ultrapassando todos os demais sindicatos pela esquerda promete não mostrar qualquer transigência na negociação com o governo exigindo para já a contagem do tempo congelado durante a troika. É claro que encontrou uns quantos estarolas dispostos a agarrarem essa reivindicação com a ansia de rapidamente verem aumentados os seus rendimentos haja ou não dinheiro para tal, e independentemente das consequências que essa possibilidade acarretaria, mormente o regresso das direitas ao poder.
O enlevo com que as televisões e os jornais tratam o oportunista tem essa lógica: para as direitas o conflito entre professores e o governo traduz-se no quanto pior melhor. Se já no tempo de Sócrates foi assim que se abriram as avenidas largas para recuperarem o poder, porque não há-de a História repetir-se uma vez mais?
O novo sindicato apostou fortemente na inviabilização da avaliação dos estudantes antes dos exames explorando a regra de ela não acontecer mediante a falta de um dos professores em cada uma dessas reuniões. Um número mínimo de grevistas poderia assim bloquear todo esse processo e adiar os exames em todo o território nacional. Não contava com a resposta do governo, que encontrou inteligente forma de lhe frustrar os intentos. Claro que o Pestana veio mostrar a sua irritação para o espaço mediático prometendo ripostar. É de temer que, já não bastando o Nogueira para, de vez em quando, servir de idiota útil às direitas, estas encontrem nesta nova «estrela» vinda do tonto esquerdismo, o seu joker de estimação.
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