quinta-feira, 31 de maio de 2018

Querem-nos tomar por parvos?


Convém começar por assinalar que não tenho qualquer admiração por Putin nem por Nicolas Maduro. O presidente russo tomou conta do país depois da implosão do regime anterior e a sua política tem sido, ao mesmo tempo, autoritária e populista, pouco se distinguindo das ditaduras fascistas. No entanto, se a sua governação é tão criticada a ocidente não se vê idêntico clamor democrático contra Orban ou a marionete de Kaczynski na Polónia, que não destilam cheiros menos nauseabundos na forma como asfixiam as respetivas sociedades. Por seu lado o venezuelano tem sido inábil na forma como vem correspondendo à permanente sabotagem económica de que o país tem sido alvo, não encontrando estratégias de resiliência semelhantes às que os irmãos Castro aplicaram, quando deixaram de ter o chapéu-de-chuva soviético.
Vem isto a propósito da tentativa de nos iludirem com mentiras, forjadas com o saber e a experiência acumuladas pelos especialistas de desinformação em Langley (sede da CIA) e exemplificada em casos recentes, de que é paradigma elucidativo o da notícia falsa sobre o assassinato de um jornalista russo na capital ucraniana, atempadamente «salvo» pelos respetivos serviços secretos, que logo por coincidência até conseguiram encontrar um pobre diabo capaz de afiançar de tudo saber.
A história foi organizada de forma tão desconchavada, que a imprensa internacional está a apresentar o caso como uma encenação ucraniana -  e adivinha-se com que cúmplices na retaguarda! - para justificar a habitual sanha com que os governos europeus olham para o vizinho do leste para cujo vasto território adorariam criar uma plataforma de expansão económica com um governo prestável e submisso.
Os russos, que de parvo nada têm, já vêm lembrar que, nas suas contradições mais que duvidosas, o caso Babchenko, mais não é do que uma remake  da do sucedido com o ex-espião Skripal em Londres que, ora fora envenenado com químico produzido na Rússia, ora se viu progressivamente escamoteado das notícias a partir do momento em que as premissas em que assentava começavam a dar mostras de clamorosa ruína.
Quanto ao que se passa na Venezuela é esclarecedor o conteúdo do agora conhecido «Plano para derrubar a ditadura venezuelana» em que um dos principais responsáveis do Pentágono, o almirante Kurt Walter Tidd, expõe todas as fases tendentes a facilitar uma invasão internacional, integrando militares norte-americanos, brasileiros, panamianos e colombianos, para impor em Caracas um regime simpático aos olhos da Casa Branca. Tudo o que tem acontecido, desde a sonegação de mercadorias de primeira necessidade e medicamentos nos mercados, às manobras para baixar o preço do barril do petróleo ou às reportagens frequentes sobre o caos ali suscitado, fazem parte dessa intenção, que teve um novo passo em frente na semana transata com a Colômbia a pedir a integração na NATO. Às tantas será a Aliança em que Portugal se integra a avançar para a anunciada agressão ao povo venezuelano. Que dirão Augusto Santos Silva e Marcelo Rebelo de Sousa a tal possibilidade? Continuarão a  justificar a pertença a uma organização criminosa, que subsiste apenas para servir de ferramenta útil ao imperialismo? Será que nos tomam por parvos?

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