Os capitalistas portugueses conseguem ser ainda piores do que os seus parceiros internacionais, porque não sendo menos gananciosos do que eles, nem se furtando a utilizar todos os meios engendrados pelos escritórios de advogados e pelos bancos para branquearem capitais e utilizarem bem sucedidas manigâncias destinadas a reduzirem-lhes as responsabilidades fiscais, consolidaram em si a cultura de obterem do Estado as máximas rendas que lhes alavancassem os lucros.
Longe vai o tempo em que as publicações económicas - mormente as revistas tipo Exame, que lhes serviam de publicidade e gáudio narcísico - pretendiam convencer-nos da sorte que tínhamos por contarmos com empreendedores tão inteligentes e com acionistas tão devotos do bem comum. Mais ainda queriam-nos convencer do quanto injustiçados se sentiam por se verem obrigados a legislação laboral, que diziam incompatível com a possibilidade de mais investirem e aumentarem a empregabilidade dos inscritos no IEFP, bem como a impostos e contribuições sociais, que os desfavoreceriam relativamente a concorrentes de outros países.
O momento mais alto da tentativa de conseguirem desequilibrar a balança política e social a seu favor aconteceu no verão de 2012, quando o governo de Passos Coelho pretendeu reduzir os descontos patronais para a Segurança Social transferindo esse encargo para os trabalhadores. A resposta popular, que inundou as ruas de Lisboa com muitas centenas de milhares de indignados foi suficiente para um recuo estratégico das direitas e a vontade de abandono do seu estratega, Vítor Gaspar, que se consumaria no verão seguinte. Mas, por essa altura, já as derrocadas do BPN e da Portugal Telecom, a que se seguiria a do Grupo Espírito Santo, acabaria com tão esdrúxula mistificação.
Passados dois anos e meio sobre a formação desta maioria parlamentar, o patronato tem adotado a tática da clandestinidade: cuida de dominar a imprensa escrita e televisiva para desqualificar o governo na medida do possível e procura na Concertação Social adiar a reversão dos ganhos conseguidos na leis do trabalho durante a legislatura anterior. Mas, sobretudo, vai-se comportando como de costume, e isso foi notório nas decisões tomadas este ano pelas maiores empresas do PSI 20 no respeitante aos dividendos a distribuir aos acionistas. De facto, em vez de reinvestirem uma parcela significativa dos lucros conseguidos em 2017, contribuindo para a necessidade de aumento da produtividade pela modernização dos meios de produção, decidiram distribui-los na sua quase totalidade (senão mesmo incluindo nesse bodo aos ricos os ativos, que deveriam permanecer intocados, como sucedeu com os CTT), confirmando a quem ainda disso necessitasse, que os nossos capitalistas desprezam as necessidades do país e apenas se atém aos seus interesses egoístas.
Mas será que, nesta altura, ainda alguém acredita no contrário?
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