segunda-feira, 7 de maio de 2018

Podem os nossos capitalistas serem quem não são?


Os capitalistas portugueses conseguem ser ainda piores do que os seus parceiros internacionais, porque não sendo menos gananciosos do que eles, nem se furtando a utilizar todos os meios engendrados pelos escritórios de advogados e pelos bancos para branquearem capitais e utilizarem bem sucedidas manigâncias destinadas a reduzirem-lhes as responsabilidades fiscais, consolidaram em si a cultura de obterem do Estado as máximas rendas que lhes alavancassem os lucros.

Longe vai o tempo em que as publicações económicas - mormente as revistas tipo Exame, que lhes serviam de publicidade e gáudio narcísico - pretendiam  convencer-nos da sorte que tínhamos por contarmos com empreendedores tão inteligentes e com acionistas tão devotos do bem comum. Mais ainda queriam-nos convencer do quanto injustiçados se sentiam por se verem obrigados a legislação laboral, que diziam incompatível com a possibilidade de mais investirem e aumentarem a empregabilidade dos  inscritos no IEFP, bem como a impostos e contribuições sociais, que os desfavoreceriam relativamente a concorrentes de outros países.
O momento mais alto da tentativa de conseguirem desequilibrar a balança política e social a seu favor aconteceu no verão de 2012, quando o governo de Passos Coelho pretendeu reduzir os descontos patronais para a Segurança Social transferindo esse encargo para os trabalhadores. A resposta popular, que inundou as ruas de Lisboa com muitas centenas de milhares de indignados foi suficiente para um recuo estratégico das direitas e a vontade de abandono do seu estratega, Vítor Gaspar, que se consumaria no verão seguinte.  Mas, por essa altura, já as derrocadas do BPN e da Portugal Telecom, a que se seguiria a do Grupo Espírito Santo, acabaria com tão esdrúxula mistificação.
Passados dois anos e meio sobre a formação desta maioria parlamentar, o patronato tem adotado a tática da clandestinidade: cuida de dominar a imprensa escrita e televisiva para desqualificar o governo na medida do possível e procura na Concertação Social adiar a reversão dos ganhos conseguidos na leis do trabalho durante a legislatura anterior. Mas, sobretudo, vai-se comportando como de costume, e isso foi notório nas decisões tomadas este ano pelas maiores empresas do PSI 20 no respeitante aos dividendos a distribuir aos acionistas. De facto, em vez de reinvestirem uma parcela significativa dos lucros conseguidos em 2017, contribuindo para a necessidade de aumento da produtividade pela modernização dos meios de produção, decidiram distribui-los na sua quase totalidade (senão mesmo incluindo nesse bodo aos ricos os ativos, que deveriam permanecer intocados, como sucedeu com os CTT), confirmando a quem ainda disso necessitasse, que os nossos capitalistas desprezam as necessidades do país e apenas se atém aos seus interesses egoístas.
Mas será que, nesta altura, ainda alguém acredita no contrário?

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