domingo, 27 de maio de 2018

VI O FUTURO E GOSTEI DO QUE VI


Por esta altura o XXII Congresso do Partido Socialista é História passada, mesmo que muito recente, e já nos permite olhá-lo com o distanciamento de quem se priva das emoções e racionaliza o que melhor o caracterizou. E se há uma ideia que sintetize o que se passou na Batalha durante três dias é a forte presença do Futuro, mesmo se os 45 anos que ficam para trás sejam enaltecidos, sobretudo quando evocados sob a égide de Mário Soares ou de António Arnaut.
Porque anteviu-se um brilhante porvir com o excelente lote de quadros militantes dotados de saberes, que tomarão o testemunho da geração mais experiente, quando chegar a sua hora. Ferro Rodrigues enunciou os mais óbvios, embora muitos outros os acolitem na retaguarda.  É justo, porém, reconhecer que é Pedro Nuno Santos quem, dentre eles mais se destaca, não só pela solidez da sua mundividência, mas também por mostrar a determinação necessária para estar no lugar certo quando soar a hora. Em pé o Congresso tributou-lhe justa ovação tão claros foram os valores de esquerda associados ao que enunciou como estratégia do Partido para o médio e o longo prazo, totalmente em desacordo com as opiniões de quem pretendia inoportunas centralidades.  A reação espontânea da sala terá demonstrado aos que antipatizam com a atual maioria parlamentar ou com ela se sentem, no mínimo, incomodados, que se arriscam a ser os passageiros de um comboio que saiu da estação e os deixou abandonados no cais. É que, como referiu o braço direito de António Costa para a interação com os demais partidos, o  PS não foi criado “para representar a elite” e que “quem esteve na origem e criação” dos partidos socialistas foi o “povo”, formado hoje pelos que “trabalham 40 ou mais horas e ganham mal”. Aqueles, que foram esquecidos por outros partidos socialistas europeus e por isso mesmo estes se viram reduzidos à grupusculização em que vegetam  sem indícios de, quais fénixes, conseguirem renascer.
Para esses mesmos prosélitos das centralidades Manuel Alegre foi taxativo: a viragem à direita representaria um risco de morte para o PS”. [porque o] “PS é um partido democrático e não a ala esquerda do neoliberalismo ou a bengala da direita”.
O futuro também esteve perspetivado no país que António Costa augurou, construído sob a governação de um partido, que retirou às direitas o argumento de não apresentar contas certas - curiosa essa mentira descarada de ter o PS levado o país à bancarrota, quando se sabe quanto Mário Soares, António Guterres e José Sócrates herdaram situações calamitosas depois de governos PSD/CDS e as recuperaram, devendo-se a situação de 2011 à crise dos subprimes e à estratégia do quanto pior melhor, que as direitas polarizaram a partir de 2009.
Num país, que terá em conta a sociedade digital, a demografia, as alterações climáticas e a correção das desigualdades, perspetiva-se uma realidade bem mais atrativa para os nossos filhos e netos. E essa capacidade para identificar os caminhos para alcançar melhor qualidade de vida para a maioria dos cidadãos não se encontra nos partidos das direitas, que pelas palavras dos Nunos (Melo e Morais Sarmento), enviados como seus representantes ao Congresso, denotaram o quão distantes estão do momento histórico que atravessamos. Se alguns socialistas ficaram no cais da estação donde o comboio acabou de partir, as direitas já ficaram lá muito para trás, angustiadas com  quanto faltará para que outra locomotiva as arraste para um futuro que, cada vez mais, lhes escapa.

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