quarta-feira, 2 de maio de 2018

Salvar os oceanos


Nas últimas semanas ouvimos notícias da acelerada degradação das quatrocentas espécies de corais ao longo da costa australiana pondo em causa os ecossistemas, que dependem dessa prodigiosa criação da Natureza. Peixes e moluscos têm a sobrevivência em causa com a morte desses esbranquiçados corais, suscitada pelo aquecimento global e pela acidificação da água salgada.
Absorvendo o calor pelo efeito de estufa decorrente da acumulação de dióxido de carbono na atmosfera, os oceanos impedem a superfície terrestre de aquecer tanto quanto seria admissível, que assim ocorresse, mas vêem a respetiva temperatura subir com as consequências danosas, impossíveis de continuar a ignorar.
Os oceanos também capturam o dióxido de carbono graças à sua biomassa, o plâncton, feito de microrganismos marinhos. Em compensação devemos aos oceanos metade do oxigénio, que respiramos. Mas essa intensificação na absorção do carbono vai acentuando a acidificação da água limitando-lhe progressivamente esse teor de oxigénio. Surgem, assim, as chamadas zonas mortas, em que esse teor torna-se tão baixo, que qualquer forma de vida se torna inexequível (zonas a vermelho). Segundo números da ONU essas zonas mortas passaram de 150 em 2003 para 400 em 2008.
No mar Báltico, por estar praticamente fechado em si mesmo, essas zonas só poderão recuperar da atual condição daqui a trinta anos. Apenas no espaço de um século essas zonas específicas decuplicaram a sua extensão. Os responsáveis de tal degradação foram os esgotos das cidades dos vários Estados costeiros (Suécia, Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia e Rússia), e sobretudo os adubos químicos utilizados na agricultura. Arrastados pelas águas das chuvas, os nitratos e os fosfatos causaram a proliferação de algas que, ao decomporem-se, absorveram o oxigénio.
São pois os nossos dejetos que poluem os oceanos, tanto mais que duas em cada três pessoas vivem a menos de 80 quilómetros de zonas costeiras, nomeadamente em megalópoles com mais de dez milhões de habitantes.
Para além desses produtos químicos também depositamos plásticos nos oceanos, vendo-se a vermelho carregado as regiões, onde esse fenómeno está mais gravado. No total estimam-se em 269 mil toneladas as quantidades de tais dejetos espalhados pelos mares de todo o planeta e que envenenam, ou ferem com gravidade mortal, muitos dos seres marinhos, que com eles contactam.
O fenómeno da pesca intensiva também tem de ser considerado, porque aumentou exponencialmente o consumo de peixe nos últimos sessenta anos. Para corresponderem à procura - 82 milhões de toneladas anuais - as frotas de pesca aumentaram a sua capacidade em quatro vezes desde 1950. As costas chilenas, ibéricas e do Atlântico Norte, da Namíbia e de Angola, do Japão e do mar da China contam-se como aquelas que, a nível mundial, denotam um sobre esforço mais evidente. Como resultado 90% dos stocks de pesca andam a ser explorados nos seus limites ou acima da sua capacidade de reposição. Só o atum azul viu descerem em 96% os seus cardumes.
A médio prazo oitocentos milhões de pessoas incorrem no risco de morrerem de fome por não terem acesso a outro tipo de proteínas.
Considerando uma última ameaça há sempre que evocar a explosão da Plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México em abril de 2010, cuja maré negra apenas tornou mais espetacular a poluição suscitada por sucessivos acidentes marítimos relacionados com petroleiros e que só agravam a situação periclitante a nível global.
Uma das tímidas, mas eficazes, soluções disponíveis tem a ver com as áreas protegidas que, se expandidas dos limites atuais, podem constituir uma alternativa animosa para que veja sustentabilizado o seu potencial. Investigadores americanos acabam de publicar um estudo segundo o qual o PIB ligado à economia gerada pelos oceanos equivale a 2500 mil milhões de dólares anuais, ou seja o equivalente ao do orçamento dos maiores países europeus.
Para preservar tal riqueza a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada em Montego Bay em 1982, fixou os grandes princípios jurídicos de exploração dos oceanos e criou as Zonas Económicas Exclusivas, que coloca as duzentas milhas mais próximas como sendo da responsabilidade dos Estados ribeirinhos. A Cimeira da Terra, ocorrida no Rio de Janeiro dez anos depois, permitiu a criação de santuários designados como Áreas Marinhas Protegidas que, em 2015, já eram mais de cinco mil, e se destinam a inverter a involução em causa.
Se devidamente administradas, essas áreas revelar-se-ão eficientes para a recuperação dos ecossistemas em toda a extensão das respetivas cadeias alimentares. A resiliência dos meios marinhos e a recuperação dos stocks de espécies piscícolas têm contribuído para melhorar a qualidade de vida das populações nelas abrangidas.
Estamos, pois, num momento decisivo: ou se aumenta o recurso a essa solução e se recuperam os oceanos, ou permite-se que se continuem a degradar pondo definitivamente em causa a nossa própria sobrevivência.

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