Na semana transata os líderes das oito religiões mais representativas a nível nacional decidiram conjugar esforços para exigirem a Marcelo Rebelo de Sousa, que vete a lei sobre a eutanásia, possivelmente aprovada muito em breve na Assembleia da República.
A minha reação a essa iniciativa conjunta de quem anda a iludir os portugueses com esse verdadeiro ópio, que é a crença num qualquer deus, é de total indignação. Que têm esses oito tipos a ver com o meu direito a morrer quando e como quiser? Como é que gente que acredita em algo, que considero uma mera ilusão, senão mesmo uma mistificação para engano de papalvos, julga-se no direito de me impedir de dispor sobre o meu corpo? Não é difícil apodar de repugnantemente FASCISTA essa atitude, que só tem paralelo com aquele tipo de regimes islâmicos onde só se aceitam os preceitos supostamente ditados pelo Corão, cabendo a quem com eles não concordar o calar-se ou sujeitar-se ao martírio.
Já aqui o disse e repito-o: a lei em vias de ser apreciada no Parlamento ainda não é aquela que desejo ver instituída no meu país. A exemplo do cientista neozelandês, que foi notícia há algumas semanas por conseguir na Suíça o fim de vida, que o seu país lhe negara, eu quero ter o direito de, mesmo não estando em sofrimento físico causado por alguma doença terminal, socorrer-me do apoio competente de quem me possa proporcionar um fim sereno e sem dramatismo.
Não prevejo que almeje pôr fim á vida nos próximos dez ou vinte anos, mas tão só constate já esperar pouco do resto da existência, para quê prosseguir um rumo de tristeza, sem as compensações hedonistas a que deveríamos todos ter direito?
A atitude dos oito figurões merece-me repúdio por significar precisamente o pior do que têm representado as religiões ao longo da História humana. Lá porque há algum alucinado, que congemine a existência de uma qualquer divindade logo cuida de impor aos demais, que nela passem a acreditar. À conta disso as religiões são as responsáveis pelos massacres mais persistentes em todos esses milénios. Porque, se crimes como os cometidos pelos nazis ficaram cingidos a um período curto de doze anos, dificilmente se encontrará alguma acalmia no planeta caracterizada pela interrupção dessa permanente tentativa de subjugar, senão matar, quem pensa de forma diferente.
Mesmo ficando aquém do que gostaria que comtemplasse a lei sobre o direito a morrer com dignidade constituirá um primeiro passo para que, quando chegar a altura de a ela recorrer, não me veja na contingência de imitar o cientista neozelandês, naquela que será uma decisão legítima e racional.
Quanto ás religiões, que replicam os piores tiques totalitários, importa que a laicidade do Estado lhes imponha travões eficazes, porque a carga de nocividade que comportam continua a pôr em causa o respeito pelos direitos dos que delas rejeitam servir de acólitos.
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