sábado, 5 de maio de 2018

Pelo direito a serem mais felizes os que nos sucederão


Por coincidência este dia de ressaca em relação aos últimos acontecimentos relacionados com Manuel Pinho, José Sócrates e o Partido Socialista, encontrou-me a revisitar a obra e o pensamento do mestre António Sérgio.
Muito embora não acompanhe o seu entusiasmo relativamente à bondade das soluções cooperativas como modelo alternativo para o esgotamento do capitalismo, tenho por ele a imensa admiração de (quase) nunca ter quebrado no afã de derrubar o Estado Novo (só no final da vida, quando enviuvou, é que perdeu o alento de décadas a fio de combate contra Salazar!), e também lhe lamento a desdita de não ter vivido o suficiente para ver o tal dia limpo de que Sophia falaria.
Há, porém, uma lição que Sérgio nos deixa e não pode ser ignorada: por muito que a política nos impulsione tentações emotivas é com o máximo recurso à racionalidade, que a devemos analisar. Ora, ao longo do dia de hoje, foi possível constatar reações de exaltados Torquemadas apostados em sabotar o Congresso do Partido Socialista com uma questão, que nele não deverá ter qualquer outro cabimento senão o da reafirmação de uma ética republicana, que tanto promova o respeito pelos mais elementos direitos a quem a Justiça investiga como potenciais suspeitos, como a da intransigente dissociação dos lobbies económicos da definição do programa político a implementar nos anos que virão.
O que encontrei nas redes sociais roça a cegueira de quem só vê a realidade entre talas, a desonestidade de quem pretende utilizar este episódio para prosseguir a sua estratégia arrivista ou a mais incurável das imbecilidades. Às vezes dá para questionar: mas este sujeito não consegue separar o que é essencial do acessório? Não tem a noção das prioridades?
Infelizmente o disparate continuou à solta e só nos resta o consolo de sabermos que, por serem isso mesmo - desatinos sem consistência! - acabarão por depressa desaparecer sem deixar rasto.
O que verdadeiramente importa acabará por prevalecer: a continuidade de políticas, que beneficiem verdadeiramente quem tem sido mais prejudicado com anos sucessivos de governos das direitas; a consolidação das convergências à esquerda para marginalizar essas mesmas direitas tanto tempo quanto possível do regresso ao poder; e o reequilíbrio dos poderes constitucionais limitando a pretensão de juízes e magistrados em serem eles a sentirem-se com as rédeas de um poder para que não terão sido eleitos por ninguém.
O Congresso do Partido Socialista não pode ser contaminado por um passado, que nos deu motivos de orgulho em muito do que nele se concretizou, mas onde subsistiam paradigmas felizmente tornados obsoletos pela efetiva demonstração da lógica rentista em que tem assentado o capitalismo nacional nestas quatro décadas de Democracia. Importa olhar para o futuro, ter a noção das ameaças e oportunidades, que ele comporta, e potenciar tudo quanto possa ser feito para que os nossos netos e bisnetos venham a conhecer um Portugal bem mais avançado no conhecimento, nos meios de produção e na justiça social do que aquele que a minha geração (hoje sexagenária!) conheceu.
O que ocorreu nos últimos dias são detalhes na história de um Partido, que foi, é e será o ponto de aplicação onde se alavancará o direito dos que nos seguirão a serem mais felizes.

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