Quão distante vai o tempo em que nutria grande simpatia pelos judeus em nome do sofrimento por que passaram durante o Holocausto. A guerra de 1967, e sobretudo a de 1973, lançaram-me em fundamentadas dúvidas, tanto mais que não tardaria a atravessar o canal do Suez, da primeira vez que um navio português pode por ele voltar a transitar - estava-se em 1975 - e o cenário de destruição era terrível. Mas, progressivamente, a já escassa simpatia vai-se transmutando em assumida antipatia tendo em conta a imposição de um apartheid tão odioso quanto o, em tempos, praticado pelas autoridades sul-africanas, quando Mandela apodrecia em Robben Island.
Não me impressionam os festejos dos 70 anos da criação de um Estado, que se apropriou ilegitimamente de grande parte do território hoje reivindicado como seu. Nem que a embaixada imperialista se mude para Jerusalém com o apoio de uns cãezinhos amestrados, quer da Europa, quer da América Latina, que só se desqualificam ao associarem-se a tal ultraje. Nem dou grande relevância à bravata de Netanyahu, quando promete expandir a soberania sionista em todas as direções dos pontos cardeais. Embora lamente que o Festival da Eurovisão tenha dado a vitória à ridícula canção dali oriunda mesmo compreendendo o quanto se terá empenhado esse governo na angariação dos indispensáveis sindicatos de voto.
Mas se tudo isso me parece fútil foi precisamente por ter conhecido o estertor do regime de Pretória. Frequentando-lhe amiúde os portos, era notória a evolução, que ditaria a alteração profunda dos equilíbrios de poder entre a minoria branca e a imensa maioria negra. À mesa da messe dos oficiais, ao discutirmos essa evidência, constatávamos a expressão irada do comandante (ideologicamente um troglodita!), quando apostava nunca se vir a verificar a derrota dos Botha e dos De Klerks em contraponto com a vitória de Mandela.
Afinal foi questão de poucos anos: embora a pobreza fosse a mesma e as mudanças não se operassem com as expetativas, que nela gostaria de ter visto concretizadas, a nova África do Sul democrática ainda fez parte do tipo de realidades presenciadas no tempo anterior àquele em que, enquanto marinheiro, ainda não tinha perdido as graças do mar.
Assim será com o regime terrorista de Israel: a sua aparente força esconde a fragilidade, que ajudará a confrontá-lo com os crimes que, dia-a-dia, vem acumulando. E quando a explosão surgir só poderemos lamentar a triste sorte dos que, batendo-se arduamente pela paz e por uma convivência pacífica com os palestinianos, serão arrastados pelo terramoto, que varrerá aquela região. Trump apenas se limitou a abanar um pouco mais a falha, que um dia se abrirá com outro fragor.
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