Já aqui abordámos o ensaio «Tout peut changer», de Naomi Klein acabado de sair em França e dedicado à incompatibilidade do capitalismo com a sobrevivência do planeta. Porque se trata de um livro extremamente interessante, vale a pena revisita-lo nos seus principais fundamentos.
Por agora Naomi Klein reconhece que, conseguindo de vários governos o adiamento de medidas contra as alterações climáticas ou a escusa a quaisquer compromissos quanto à redução das emissões de carbono, os capitalistas estão a vencer a batalha. Invocando sempre a inexistência de alternativas para ser alcançado o desejado crescimento económico.
Essa vitória parece evidente, quando os gregos são instados a aceitar a prospeção de petróleo e de gás nas suas magníficas zonas costeiras. Ou quando se tenta fazer convencer aos canadianos, que devem aceitar o desaparecimento da floresta boreal de Alberta para tornar aí possível a exploração de areias betuminosas. Ou ao decidir-se pela destruição de um parque em Istambul a fim de aí ser construído mais um centro comercial. Ou ao persuadir os pais de Pequim de que o uso de máscaras pelos filhos, quando se dirigem à escola, é o preço inevitável do progresso económico.
É por isso que as imprescindíveis mudanças só serão possíveis quando aprendermos a pensar e a agir de forma completamente diferente do que até agora aconteceu. Para já, com a sua cultura de dominação e de concorrência sem partilha, a lógica mercantilista paralisa qualquer esforço consistente em contrariar as alterações climáticas.
Há várias décadas que a feroz competição entre Estados bloqueia as negociações internacionais sobre o clima: os países mais ricos acantonam-se nas posições irredutíveis de manterem as emissões em carbono, sob pena de se verem despromovidos nos rankings da hierarquia mundial. Pelo lado dos países mais pobres há a reivindicação de poluírem, como forma de reduzirem o atraso em relação aos países mais desenvolvidos, mesmo se é evidente que virão a ser os mais afetados pelo agravamento dos efeitos de serra na atmosfera.
Urge alcançar uma nova visão do mundo em que a reinvenção coletiva passará pela compatibilidade entre os povos e a natureza.
Segundo a Agência Internacional de Energia, se as emissões não forem contidas até 2017, a economia baseada em energias fósseis tornará irreversível um aquecimento extremamente perigoso. Para Fatih Birol, um dos principais responsáveis pela Agência, está quase a fechar-se a janela de oportunidade para respeitar o objetivo de não se ir além de 2ºC nesse aquecimento. Se falharmos, perderemos definitivamente a oportunidade de o controlarmos.
Nada permite pensar que são válidas as habituais promessas dos defensores do mercado sem regulação quanto ao surgimento de mirificas soluções tecnológicas.
A humanidade já não pode dar-se ao luxo de esperar um século para que a China ou a Índia ultrapassem a sua fase dickensiana. Estamos perante o desafio do agora ou nunca.
Será possível infletir este rumo sem pôr em causa a lógica por que se guia o capitalismo? Nem pensar!
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