Na «Quadratura do Círculo» desta semana, Pacheco Pereira e Jorge Coelho andaram a discutir se a comunicação do PS deveria ou não ser semelhante à do Syriza. E, por uma vez, sou obrigado a reconhecer que quem me parece ter razão é o confesso militante do PSD. Não tanto se nos ativermos ao que era o discurso do Syriza uns meses antes das eleições legislativas gregas, mas o que conseguiu intuir nos seus concidadãos a vontade em dar prioridade aos problemas gravíssimos que, do ponto de vista social, estão a viver.
Embora me esforce por serenar as inquietações de alguns amigos, que se exasperam com a excessiva moderação das reações de António Costa ao que se vai sabendo, tenho de reconhecer que, pegando na edição desta semana do «Expresso», estão em equação muitas situações merecedoras de reação dos socialistas em alto e bom som.
Eis um punhado de exemplos que são eloquentes sobre a (des)governação da direita e a urgência em mudá-la:
1. o escritório de luís montenegro, líder parlamentar do PSD, ganhou contratos no valor de 70 mil euros por ajuste direto da Câmara de Espinho, de cuja Assembleia Municipal foi presidente;
2. o escritório de aguiar branco promove negócios nos países onde o seu titular vai fazer visitas oficiais enquanto ministro da defesa;
3. ao contrário da imagem impoluta que de si quis construir com a inopinada demissão, miguel macedo anda a ser investigado pelo ministério público por ter favorecido ilegalmente interesses privados e recebido prendas e jantares de um empresário chinês seriamente envolvido nos cartões gold;
4. ainda, no âmbito dos polémicos cartões dourados, ficou-se a saber que foi o escritório de marques mendes aquele que mais lucrou com os negócios com eles firmados;
5. Um relatório da inspeção da Comissão Nacional de Proteção de Dados demonstrou que o diretor de informática das Finanças foi peculiarmente seletivo na lista de funcionários detetados como tendo acedido ilegitimamente ao passado contributivo dos integrantes da lista VIP, apagando mails passíveis de demonstrarem a sua parcialidade (documentos entretanto recuperados!);
6. a ministra paula teixeira da cruz continuou a insistir nas mentiras relativas às taxas de reincidência dos condenados por pedofilia, havendo testemunho de um respeitado especialista canadiano em como os 80% se justificariam apenas no caso de psicopatas, na realidade uma minoria ínfima dentro desse universo.
7. o descalabro nas políticas sociais e, particularmente no Serviço Nacional de Saúde, justificam que a gripe acabou e os hospitais continuam a abarrotar, particularmente com idosos atingidos por sintomatologias há muito desconhecidas como é o caso do escorbuto;
Concluamos com uma história contada por João Garcia na sua crónica semanal no mesmo jornal: tem um amigo licenciado que, aos 60 anos, ficou desempregado depois de uma vida dedicada ao setor imobiliário. Chamado para uma ação de formação no IEFP deram-lhe alternativas que nada tinham a ver com a sua experiência ou área de conhecimento. “O meu amigo saiu de lá com uma dúvida: o curso é para o ajudar a arranjar emprego ou para garantir o emprego ao formador e a quem organiza as ações de formação.”
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