Naomi Klein é uma das mais influentes intelectuais da América do Norte, sendo ouvida com particular atenção por quantos se preocupam com o curso cada vez mais inquietante das economias mundiais.
No seu mais recente libelo, «Tout peut changer», agora publicado em França na Actes Sud, ela não coloca a questão por menos: a humanidade está a ficar tão ameaçada pela insensatez capitalista, que só há uma solução possível, a de uma Revolução contra este estado de coisas!
Para ela o sistema económico e o planeta estão em guerra um com o outro. Ou, mais precisamente, a economia está em guerra contra as numerosas formas de vida na Terra, incluindo a humana.
Para evitar a hecatombe, as alterações climáticas devem conduzir a uma diminuição na utilização dos recursos naturais existentes. E só há uma forma de chegar a tal objetivo: transformar a economia para que ela se torne menos gulosa nesses recursos naturais e proceder de forma equitativa protegendo os mais vulneráveis, transferindo para os principais responsáveis pelo estado a que chegámos os custos da urgente transformação.
Pode-se, por exemplo, apoiar a expansão dos setores económicos menos responsáveis
pelas emissões de carbono, retirando aos que mais as criam os benefícios fiscais e outros, conseguidos pelos seus lobistas.O problema é que, no momento atual, a ideologia dominante proclama não existir alternativa. Ora a direção para que somos empurrados é a de um desastre incomensurável, que vitimará sobretudo os mais vulneráveis.
Estamos, pois, perante um dilema: ou deixamos o mundo transformar-se em função das alterações climáticas, ou muda-se totalmente a economia de modo a evitá-las. Com uma evidência adicional: devido ao estado de negação assumido nas décadas mais recentes, já nada se conseguirá com qualquer tipo de alteração gradual.
Em 2012, vinte e um laureados do prestigiado prémio Blue Planet - entre os quais James Hansen e Gro Harlem Brundtland - elaboraram um relatório doravante tomado como referência pelos se assumem como os mais atentos à ameaça apocalítica, que se perfila no nosso horizonte temporal. Nele diziam que, ou criamos uma sociedade mundial de um novo género, ou ela surgirá contra a nossa vontade e interesse.
Muitos dos que ocupam cargos importantes ficam intimidados perante tais afirmações por porem em causa uma realidade bem mais pertinente do que a do capitalismo: a obsessão pela moderação, pela sensatez, pela circunspeção, que é o estado de alma dominante. Pelo menos do lado dos mais progressistas, já que os conservadores tendem a negar por natureza as evidências, que já lhes entram pelos olhos adentro.
A crise do clima representa um desafio para o centrismo prudente, porque alguns paliativos nunca conseguirão chegar ao cerne do problema. E os cientistas estão cada vez mais convencidos da necessidade de agir com determinação numa inevitável direção: a de decretar o fim do modelo de exploração capitalista.
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